É a luta que desgasta o Governo

Jaime Toga (Membro da Comissão Política)

O Par­tido tem vindo a ca­rac­te­rizar a si­tu­ação ac­tual como a mais grave do ponto de vista po­lí­tico, eco­nó­mico e so­cial desde a Re­vo­lução de Abril, com a ex­plo­ração e o em­po­bre­ci­mento a alas­trar desde que, há mais de 37 anos, os par­tidos da po­lí­tica de di­reita ini­ci­aram o seu ajuste de contas. A fal­si­fi­cação da re­a­li­dade, a men­tira e os roubos são traços mar­cantes da acção de­sen­vol­vida pelo Go­verno do PSD e do CDS, que conta com o apoio do PS em tudo o que de mais re­le­vante tem feito.

A luta contra esta po­lí­tica é um pri­meiro passo da luta pela al­ter­na­tiva

Foi assim com a apli­cação do pacto de agressão e o rasto de des­truição que lhe está as­so­ciado, mas foi igual­mente assim com o acordo do IRC ou com o cha­mado Tra­tado Or­ça­mental que con­fronta a nossa so­be­rania ao pro­curar per­pe­tuar a in­ge­rência ex­terna.

Mas apesar da di­mensão da ofen­siva, o ca­minho que a po­lí­tica de de­sastre na­ci­onal per­corre en­contra pela frente a re­sis­tência, o pro­testo e a luta de dos tra­ba­lha­dores, da ju­ven­tude, dos re­for­mados, dos agri­cul­tores, dos utentes e dos mais di­versos sec­tores e ca­madas da po­pu­lação que sentem os seus in­te­resses e as­pi­ra­ções postos em causa pela po­lí­tica de di­reita.

Esta per­sis­tente e co­ra­josa luta de re­sis­tência e de­núncia deu um con­tri­buto fun­da­mental para o iso­la­mento do Go­verno e para o alar­ga­mento da com­pre­ensão po­pular de quem são os res­pon­sá­veis e os be­ne­fi­ciá­rios desta po­lí­tica.

Na ver­dade, aquilo a que al­guns chamam de «des­gaste» do Go­verno não re­sulta de ne­nhum pro­blema de co­mu­ni­cação nem da falta de en­genho deste ou da­quele mi­nistro. O «des­gaste» do Go­verno re­sulta da luta que se vem de­sen­vol­vendo e alar­gando, na qual os tra­ba­lha­dores e o mo­vi­mento sin­dical uni­tário as­sumem papel cen­tral, com grandes ac­ções de massas como as re­a­li­zadas em 14 e 21 de Junho.

Uma luta na qual a po­pu­lação e os utentes têm mar­cado também pre­sença na de­núncia do ataque às fun­ções so­ciais do Es­tado e do aban­dono de muitas lo­ca­li­dades com a su­cessão de en­cer­ra­mentos. Onde também os re­for­mados e da sua con­fe­de­ração na­ci­onal – o MURPI – estão pre­sentes, con­tri­buindo para alargar a com­pre­ensão sobre a di­mensão do ataque que os re­for­mados e pen­si­o­nistas estão a ser alvo. Este «des­gaste» ou o claro iso­la­mento do Go­verno re­sulta também da de­núncia que a CNA e suas fi­li­adas estão a fazer da ten­ta­tiva de pri­va­ti­zação dos bal­dios e do «as­salto» que o Go­verno está a fazer à Casa do Douro e seu pa­tri­mónio. Re­sulta igual­mente da luta que os mo­ra­dores dos Bairros do IHRU travam contra o au­mento das rendas, que em al­guns casos ul­tra­passa os 300%. Re­sulta ainda da acção e luta da Ju­ven­tude, que de­nuncia o ataque à es­cola pú­blica, o aban­dono de mi­lhares de jo­vens do En­sino Su­pe­rior por falta de di­nheiro para pagar pro­pinas ou a emi­gração para a qual muitos são em­pur­rados pela falta de opor­tu­ni­dades dignas no seu pró­prio País.

O pro­blema está nas po­lí­ticas

Ha­vendo uma cons­ci­ência cada vez maior do iso­la­mento deste Go­verno e de que o pro­blema não são as caras mas as po­lí­ticas que há quase quatro dé­cadas PS, PSD e CDS vêm de­sen­vol­vendo, o grande ca­pital – ver­da­deiro be­ne­fi­ciário desta po­lí­tica – e os seus co­men­ta­dores e ser­ventes pro­curam apagar a luta e os seus re­sul­tados. Ten­ta­tivas bem vi­sí­veis no si­len­ci­a­mento das prin­ci­pais ac­ções de massas (foi assim com as re­centes ma­ni­fes­ta­ções da CGTP-IN de 14 e 21 de Junho, ou até com a ma­ni­fes­tação de hoje), mas também na ten­ta­tiva de des­va­lo­ri­zação da sua im­por­tância e dos seus re­sul­tados.

Quem é com­ba­tido pela luta dos tra­ba­lha­dores e da po­pu­lação pro­cura es­conder que a luta dos tra­ba­lha­dores das au­tar­quias e da ad­mi­nis­tração pú­blica cen­tral já con­se­guiu ga­rantir as 35 horas se­ma­nais em cen­tenas de lo­cais de tra­balho. Pro­cura es­conder que em cen­tenas de em­presas, por via da luta, os tra­ba­lha­dores ga­ran­tiram au­mentos sa­la­riais e/​ou o cor­recto pa­ga­mento do tra­balho ex­tra­or­di­nário. Ou seja, mesmo com um Go­verno e uma mai­oria que go­verna e le­gisla em favor dos pa­trões e contra os tra­ba­lha­dores, tem sido pos­sível, pela luta, avanços e con­quistas.

Mas a grande pre­o­cu­pação de quem com­bate aqueles que re­sistem e lutam existe porque têm cons­ci­ência de que a luta contra o en­cer­ra­mento da es­cola ou a luta pelo au­mento do sa­lário fazem parte da luta contra esta po­lí­tica. E que a luta contra esta po­lí­tica é um pri­meiro passo da luta pela al­ter­na­tiva. Quem com­bate este Go­verno e as­pira uma vida me­lhor re­clama que sejam re­to­mados os va­lores de Abril.

E quem com­bate este Go­verno nas ruas ou nas em­presas sabe que teve e tem sempre do seu lado o PCP. Sabe que a sua luta ganha sen­tido e força se as­so­ciada a uma po­lí­tica al­ter­na­tiva, uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda.

 



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