Comentário

Novo mandato, a mesma luta!

Miguel Viegas

Começou esta semana em Estrasburgo o novo mandato para os 751 deputados eleitos nos 28 estados membros da União Europeia nas últimas eleições para o Parlamento Europeu. Como é evidente, e apesar do alargamento do Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica onde os deputados do PCP se inserem, a nova correlação de forças resultante destas eleições dá-nos a dimensão das dificuldades que se avizinham servindo ao mesmo tempo para resfriar quaisquer ilusões sobre eventuais benefícios que possam vir desta União Europeia cada vez mais neoliberal, federalista e militarista.

Se o quadro eleitoral se revelou muito positivo para o PCP nestas últimas eleições que projectaram a real possibilidade de avançar com a verdadeira alternativa patriótica e de esquerda capaz de romper com este processo de integração capitalista da União Europeia, verificamos situações muito diversas nos outros países. Sendo comum o profundo descontentamento da generalidade dos povos face à austeridade e às políticas neoliberais de destruição das funções sociais dos estados, a verdade é que a expressão deste descontentamento assumiu contornos diferentes, alimentando em muitos casos a abstenção, partidos de extrema-direita ou insuflando novas formações mais ou menos populistas de cariz social democratizante. Neste sentido a nova composição do Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica, sendo em si mesmo um elemento positivo, representa igualmente um enorme desafio para o PCP que, como membro fundador do Grupo, sempre se bateu pela construção de amplos consensos sem todavia colocar em causa a sua base programática. Nesse quadro os deputados do PCP continuarão igualmente a promover diversas iniciativas com os nossos parceiros sobre os mais variados temas destinadas ao conhecimento mútuo de todas as lutas em curso por esta Europa fora.

Mas tal como afirmámos ao longo de toda a campanha, a actividade dos deputados do PCP em Bruxelas e Estrasburgo não faz sentido sem uma profunda ligação aos problemas concretos do povo e dos trabalhadores portugueses, sem levar ao Parlamento Europeu as suas lutas! Neste sentido, procurando honrar o enorme património de intervenção do PCP nesta importante frente de batalha, grande parte do trabalho a desenvolver terá que acontecer em Portugal, no contacto com os trabalhadores de empresas em dificuldades, os pequenos agricultores, os pescadores, os pequenos e médios empresários e comerciantes, os grupos culturais, as associações de utentes, ou os responsáveis de tantas instituições públicas e privadas. Um trabalho assente nos principais compromissos assumidos na nossa declaração programática. Neste sentido os deputados do PCP no Parlamento Europeu estão solidamente comprometidos com a defesa dos interesses nacionais e tentarão minimizar os condicionalismos e consequências negativas da integração capitalista europeia. Ao mesmo tempo, não nos inibiremos de procurar utilizar a favor do progresso de Portugal e do bem-estar dos portugueses todos os meios e possibilidades existentes lutando por mais recursos destinados a compensar o nosso País pelas consequências profundamente nefastas para Portugal do processo de integração. Lutaremos contra as imposições supranacionais e as limitações à democracia e à vontade do povo agindo especificamente e em articulação com os trabalhadores e os povos de outros países para romper com o processo de integração capitalista europeu e abrir caminho a uma Europa de paz e cooperação entre estados soberanos e iguais em direitos. Finalmente, o PCP, através dos seus deputados, lutará de forma incansável por um desenvolvimento soberano de acordo com os interesses nacionais, dos trabalhadores e do povo, cuja concretização deverá prevalecer face a condicionalismos ou constrangimentos, assumindo as exigências, caminhos e opções que a situação coloque como necessários.

Continuando a procurar a mais ampla cooperação com outros partidos progressistas que connosco partilhem objectivos de luta o PCP valoriza simultaneamente a ideia de que a defesa dos interesses de Portugal, dos portugueses e dos direitos dos trabalhadores e povos do continente europeu é a sua melhor contribuição para a luta por uma outra Europa. Portugal vive um inquietante momento da sua história recente. A não ser invertido este rumo de declínio económico e de retrocesso social, o futuro do País enquanto nação soberana e independente poderá estar em causa. No ano em que se comemora o 40.º aniversário do 25 de Abril o maior contributo do povo português para uma Europa de cooperação entre estados soberanos e iguais em direitos, de progresso económico e social, de paz e amizade com todos os povos do mundo é a retoma e concretização do projecto de desenvolvimento democrático, patriótico e internacionalista iniciado na Revolução de Abril.

 



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