O acordo e as «encomendas»

Carlos Gonçalves

O PR Cavaco insiste de forma recorrente na proposta de um acordo PS-PSD. Ainda no 10 de Junho repetiu que «adiar um entendimento de médio prazo sobre reformas indispensáveis ao reforço da competitividade da economia é um risco que pode ter um preço muito elevado» – descodificando: é preciso um governo com apoio político e social alargado para continuar a aprofundar a política de direita e o roubo aos trabalhadores, ao povo e ao País.

Para além de «prova de vida», já que o PR pouco mais tem para dizer, trata-se de uma encomenda do grande capital para prevenir que uma qualquer crise política e institucional, que este Governo e esta política na sua lógica intrínseca tornam inevitável, venha a pôr em causa os seus interesses. Aliás, se a Alemanha chegou à solução de um governo CDU-SPD, porque não cá, onde além da Constituição de Abril, cresce a luta de classes e de massas e o PCP tem vindo a reforçar-se?

A proposta cavaquista, que na crise política do Verão passado esteve quase acertada com o PS, tem ainda outras vantagens para a política de direita: dá corda à tese reaccionária do «arco da governação», que o PS também partilha (apesar das manobras de Costa), como se só houvesse amanhã para PS, PSD e CDS, juntos ou alternantes, e para a sua política de direita; e neste quadro, em que os Antónios não podem explicitamente aceitar o casamento com o PSD, Passos Coelho ainda aproveita para mostrar «abertura ao diálogo» e vitimizar-se pela «intransigência da esquerda».

Por eleitoralismo, o PS não pode agora aceitar a proposta do PR, mas sabe que o acordo essencial com o PSD (e o CDS) está em vigor – na política de direita, na submissão à UE e aos grandes interesses. Seguro faz o número das «divergências insanáveis», mas negoceia mais tempo e condições para o Governo persistir no desastre nacional. Seguro e Costa são umas «encomendas», iguais nesta matéria como em tudo o que importa, ambos estão disponíveis para um acordo PS-PSD, para aprofundar o saque ao País, mas depois de eleições, o mais tarde possível, e com «o PS a mandar».

Pela nossa parte, nem alternância, nem Governo PS/PSD – que se alguma vez voltar a existir será de novo derrotado. O futuro do País é a alternativa patriótica e de esquerda.




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