Pela via pública
A ofensiva contra o serviço público exige luta permanente
Ao fim de dez dias de greve, os comboios franceses voltaram a circular quase normalmente no passado fim-de-semana. A suspensão da greve, iniciada dia 10, foi votada favoravelmente em várias regiões do país, após a maioria parlamentar ter aceitado introduzir algumas alterações ao projecto de reforma ferroviária.
Os sindicatos pretendem a reintegração do conjunto do sistema ferroviário numa empresa pública única, revogando a separação da rede ferroviária (RFF) da companhia de caminhos-de-ferro (SNCF), efectuada em 1997.
Por seu lado, o projecto do governo prevê o aprofundamento do desmembramento da empresa, criando uma entidade principal à qual estariam ligadas duas outras, para a rede e para a exploração, de acordo com o modelo privatizador que tem sido seguido em vários países.
Futuramente, seria simples extinguir a entidade pública responsável pela exploração e vender o negócio do transporte, total ou parcialmente, aos operadores privados. O Estado ficaria com a rede ferroviária, arcando com os investimentos e manutenção, enquanto os privados retirariam lucros fáceis da venda de bilhetes.
Porém, a greve dos ferroviários veio perturbar os planos do governo presidido por François Hollande.
Para não perder completamente a face, os deputados da maioria acabaram por aceitar a proposta do grupo Esquerda Democrática e Republicana, onde se integram os deputados do Partido Comunista Francês, que determina a integração de todos os ferroviários, não nas entidades criadas para a rede e exploração, mas na entidade «mãe».
Desta forma, todos os trabalhadores terão a mesma entidade empregadora, independentemente de estarem ligados à infra-estrutura ou ao transporte.
Outra proposta de alteração aprovada, do grupo Europa Ecologia – Os Verdes, veio acrescentar ao texto «o carácter indissociável e solidário» das três entidades criadas.
Embora longe das reivindicações dos trabalhadores, estas alterações dificultam no imediato a concretização dos objectivos privatizadores da reforma. Todavia, os sindicatos continuam alerta, pois sabem que o combate não terminou.