No dia mundial da criança

Margarida Botelho

No dia mun­dial da cri­ança, 1 de Junho, muitos dos te­le­jor­nais abriram com re­por­ta­gens sobre a po­breza in­fantil no nosso País. A vice-pre­si­dente do Ins­ti­tuto de Apoio à Cri­ança afirmou com todas as le­tras à No­tí­cias Ma­ga­zine: «a po­breza in­fantil está a au­mentar de forma alar­mante».

Os dados são as­sus­ta­dores, e nem se­quer são com­ple­ta­mente ac­tuais, po­dendo não re­flectir toda a re­a­li­dade: em 2011, quando o pacto de agressão das troikas en­trou em apli­cação, um terço das cri­anças por­tu­guesas já vivia em risco de po­breza. Três anos de­pois, quando mais de meio mi­lhão de cri­anças perdeu o di­reito ao abono de fa­mília, pelo menos 120 mil so­bre­vivem com ajuda ali­mentar, me­tade das fa­mí­lias mo­no­pa­ren­tais são po­bres e 75% dos fi­lhos de pais de­sem­pre­gados já vivem abaixo do li­miar na po­breza. Destas contas não consta o im­pacto que teve no País a saída para a emi­gração de de­zenas de mi­lhares de ca­sais, em muitos casos le­vando con­sigo os fi­lhos.

Como muito opor­tu­na­mente a CGTP-IN chamou a atenção, até a ex­pressão «er­ra­di­cação da po­breza in­fantil», tão em voga há meia dúzia de anos, de­sa­pa­receu do lé­xico ofi­cial da União Eu­ro­peia e dos go­vernos por­tu­gueses.

A po­breza é ter­rível em qual­quer idade. Mas está pro­vado que a po­breza na pri­meira in­fância afecta de forma dra­má­tica o de­sen­vol­vi­mento fí­sico, psi­co­ló­gico e emo­ci­onal das cri­anças. Como disse à RTP o res­pon­sável de uma IPSS de apoio à in­fância, o País le­vará anos a re­cu­perar do recuo que as cha­madas po­lí­ticas de aus­te­ri­dade pro­vo­caram nos ín­dices de bem-estar das cri­anças por­tu­guesas. Le­va­remos anos para cor­rigir uma po­lí­tica in­justa, er­rada, as­sas­sina. Anos que já serão ir­re­cu­pe­rá­veis na vida de muitos mi­lhares de cri­anças por­tu­guesas.

Também é por isto que cada dia que o Go­verno con­tinua em fun­ções é um dia per­dido na vida de mi­lhões de tra­ba­lha­dores, de re­for­mados, de cri­anças e jo­vens. Cada dia a mais de po­lí­tica de di­reita im­pede o de­sen­vol­vi­mento do País, a con­cre­ti­zação dos so­nhos, das as­pi­ra­ções, até de ne­ces­si­dades bá­sicas de mi­lhões de por­tu­gueses de todas as idades. Lutar pela de­missão deste Go­verno, pela rup­tura com esta po­lí­tica, por um Por­tugal com fu­turo, é ina­diável.




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