Contrariedades

Jorge Cordeiro

Carlos Moedas, secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, foi dizer a Londres – entre aquele círculo de amigos que explicam a sua presença no Executivo de Passos e Portas – que a «função do Governo não é criar empregos». Não teria sido preciso Moedas ter-se maçado a tão exigente deslocação, nem se ter rodeado da horda de especuladores e mandantes de bancos de investimento, para dar a conhecer o que o mais comum dos mortais que por cá viva sabe, olhando para os mais de 470 mil empregos destruídos por si e seus pares. Como em política não há acasos, reconheça-se a coerência quanto ao lugar escolhido de quem está onde está, não por razões ou provas de dedicação a interesse público, mas tão só pela simples e decisiva razão de ter vindo de onde veio – do antro daquela alta finança que, como a Golman Sachs, faz da especulação e da extorsão dos estados o dia a dia – ter lugar assegurado no actual Governo. Embalado pelo habitat, sentindo-se como peixe na água, zeloso das contas que deve prestar a quem deve obediência, Moedas lá foi desfiando a lista de medidas a que se tem entregado para destruir a vida do País e dos portugueses. Entre os feitos maiores enaltecidos, deixando de lado o roubo nos salários e pensões que, por força da rotina, se dispensou de valorizar, Moedas sublinhou aquela infame «desigualdade que o Governo quis destruir» de haver «pessoas que estavam protegidas por contratos permanentes» com o que isso significaria de «criação de uma sociedade desigual». Diz-se que a criatura citada é um dos possíveis indigitados para comissário europeu. Nada que surpreenda. Este e todos os outros «moedas» que por aqui gravitam por conta de outrem – seja esse outrem o FMI ou a União Europeia, o Golman Sachs ou o Lehman Brothers – terão, em devido momento, a recompensa pelos serviços prestados. Não com a tranquilidade que ambicionariam e sem aquilo que o primeiro-ministro designa de contrariedades como as do recente chumbo pelo Tribunal Constitucional. Paciência. Têm de se habituar à ideia de que ainda há leis e Constituição da República, há luta, e muita, contra a política de roubo de rendimentos e direitos, há uma vontade imensa de condenação e exigência de ver derrotados este Governo e a política de direita.




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