Uma certa clientela

João Frazão

O director do Centro Regional do Segurança Social de Braga, um rapaz do CDS local, posto lá, interinamente, porque é da cor, e que agora está a concorrer a um concurso público, aberto para o lugar, para que se diga que isto é tudo muito transparente, e que tem sido notícia pelo seu pendor reaccionário e anti-sindical (ainda há dias dirigentes do Sindicato da Função Pública do Norte foram obrigados a pedir a intervenção da PSP, uma vez que o cavalheiro impediu o acesso aos serviços para actividade sindical), resolveu, para mais uma operação de charme, ir fazer atendimento ao público, por umas horas.
Devidamente acompanhado pelos microfones da imprensa local, o dirigente daquela estrutura do Estado deu por resolvida a tarefa com meia dúzia de atendimentos e pôde, com pose de Estado, fazer a sua declaração «urbi et orbi».Nada disto seria digno de registo (gente desta é o que não falta para aí, montada no aparelho do Estado pela cor do cartão que exibem, e usando-o para se promover), não fosse o senhor ter-se referido, por três vezes, às pessoas que atendeu como «clientes».
Nesta gente, já se sabe, as palavras têm conteúdos concretos e o cavalheiro não se lhes referiu nem como utentes, nem mesmo como contribuintes (que em tempos foram o alvo preferido da propaganda do seu partido, que até se apelidou do Partido dos Contribuintes).
Ou, para esta gente, embrulhada na chamada Reforma do Estado, não viesse o desrespeito pelos trabalhadores e o povo que são os utentes dos serviços públicos e desde logo da Segurança Social. Não viesse a destruição das funções sociais do Estado que querem transformar em serviços, que as estruturas desconcentradas do Estado ainda prestam, mas onde já ensaiam experiências de entrega aos privados, como no caso da entrega de funções do IEFP a empresas de trabalho temporário. Não viesse ainda a ideia de que os contribuintes são clientes desses serviços, e por eles têm de pagar, como pagam o serviço de telefone ou de Internet.
E nem nos vale a velha máxima de que o cliente tem sempre razão, pois sabendo bem que esta gente serve um certa clientela, ao serviço de quem coloca todas as suas habilidades, tal clientela nada tem a ver com os que precisam de recorrer aos serviços da Segurança Social.

 



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