Mentira e cinismo

Manuel Rodrigues

Nunca como agora se ouviu tantas vozes clamar contra o Estado social. Que o Estado social é gastador, que precisa de urgente reforma, que não é sustentável, que nos pôs a viver acima das nossas possibilidades... enfim, o velho discurso ideológico da direita (a tal cassete) para justificar o abate de serviços públicos, o ataque às funções sociais do Estado e, claro, o tão desejado afrontamento à Constituição de Abril.

Se descem às causas, acenam logo com as fragilidades do Estado social: o envelhecimento da população, a economia que não cresce, a falta de confiança no sistema, etc, etc.

E, num ápice (que o tempo urge), das causas passam às soluções, a milagrosa mezinha que há-de salvar o desgraçado moribundo: cortes nas pensões, nos salários e nas prestações sociais; cortes na saúde e na educação; privatização dos serviços e, como almofada de segurança, uma boa dose de assistencialismo, que evite as temíveis rupturas sociais.

São mesmo cínicos os executantes da política de direita (os partidos do arco da troika)!

Por um lado, destroem o aparelho produtivo, conduzem à falência centenas de milhares de micro, pequenas e médias empresas, abatem milhares de embarcações de pesca, despedem centenas de milhares de trabalhadores, encerram milhares de serviços públicos. Por outro, alienam milhões e milhões de euros nas parcerias público-privadas e nos contratos swap, verdadeiros sorvedouros dos recursos públicos, beneficiam as mais-valias bolsistas alcançadas pelas SGPS em mais de mil milhões de euros, privatizam o património público (EDP, CTT, ANA, Estaleiros Navais, etc, etc.) gerador de riqueza para o Estado.

E depois, lá vêm com as novas patranhas que lhes permitam, cavalgando a Constituição, novas investidas contra o Estado social, novas privatizações, novas fórmulas de cálculo (que é o mesmo que dizer, novos cortes) nas pensões, novo abate de serviços públicos, novos despedimentos, novo roubo.

Nem admira que assim seja. Esta é a natureza da política de direita. Aos trabalhadores e ao povo cumpre dar-lhes a resposta de classe que merecem nas lutas que aí vêm e na grande jornada eleitoral de 25 de Maio.

«Com papas e bolos se enganam os tolos». Mas nunca um povo que enraizou os valores de Abril.




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