Papel de embrulho

Vasco Cardoso

Num fundo azul impactante e letras abertas a branco, surge-nos a palavra MUDANÇA em centenas de cartazes eleitorais que estão agora espalhados pelo País e que são assinados pelo PS. Nada de novo! Nas eleições legislativas de 2011, o PSD apresentou-se com um cartaz cuja frase era «Mudar Portugal» e já tinha feito o mesmo em 2002 numa variante que envolvia a imagem de Durão Barroso e a expressão «Mudar com confiança».

Alguns dirão que estamos no estrito domínio da propaganda política, onde tudo ou quase tudo já foi inventado e onde cada força, cada partido, é livre de se expressar e comunicar com os eleitores da forma que achar mais conveniente incluindo repetindo os slogans de campanha. Mas se chamamos aqui a atenção para este pequeno pormenor, é porque o mesmo é de certa forma revelador do percurso dos últimos 37, quase 38 anos, que levamos de política de direita no nosso País. Onde, a cada governo de um destes partidos – PS, PSD e CDS – sozinhos ou coligados entre si, a cada ciclo de destruição de direitos e concentração de riqueza nas mãos do grande capital, se desenvolve toda uma encenação destinada a tirar proveito do descontentamento da política que os três partilham, para enfim, «mudar» de protagonistas e garantir que no essencial tudo continua na mesma.  

Entretanto, o PS encarrega-se de, pelas suas próprias palavras, actos e percurso, confirmar que a expressão MUDANÇA mais não é do que um papel de embrulho para as suas aspirações eleitorais. Um engodo para captar o descontentamento e as legítimas aspirações de mudança do povo português e prosseguir a política ao serviço dos interesses dos grupos económicos por via da exploração de quem trabalha, das privatizações, do ataque aos serviços públicos, da abdicação dos interesses nacionais perante a UE e as grandes potências. Ainda recentemente, quando confrontado sobre se o PS quando for governo repõe os salários, pensões e prestações sociais ao nível de 2011, disse pela voz de um dos seus responsáveis: «A resposta séria é não!». Valha-nos desta vez a «seriedade».




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