Crise na Ucrânia

Ofensiva a Leste

A Ucrânia lançou uma ope­ração mi­litar contra a re­gião de Do­netsk, onde nos úl­timos dias a po­pu­lação in­tegra um le­van­ta­mento an­ti­gol­pista, isto apesar de a Rússia ter ape­lado ao go­verno de Kiev para que não lan­çasse uma «guerra contra o seu pró­prio povo».

Mos­covo in­siste que a so­lução é a fe­de­ra­li­zarão da Ucrânia

De acordo com in­for­ma­ções di­fun­didas pela RIA No­vosti, que cita ac­ti­vistas e mi­li­ci­anos lo­cais, na tarde de an­te­ontem as forças fieis às au­to­ri­dades gol­pistas to­maram de as­salto um ae­ró­dromo entre as ci­dades de Kra­ma­torsk e Slavyansk, na re­gião de Do­netsk. A mesma fonte adi­an­tava que os mi­li­tares de Kiev, apoi­ados por caças, he­li­cóp­teros e tan­ques de guerra, en­con­travam-se às portas de Kra­ma­torsk e Slavyansk, cum­prindo, assim, a pro­messa feita do­mingo, 13, pelo pre­si­dente gol­pista Alek­sandr Tur­chinov, de re­cu­perar o con­trole das ci­dades in­sur­rectas.

Kiev havia ten­tado re­cu­perar Slavyansk já na ma­dru­gada de se­gunda-feira, mas a ofen­siva, da qual re­sultou pelo menos um morto, acabou re­cha­çada pelas bar­ri­cadas mon­tadas pela de­no­mi­nada Guarda da Re­pú­blica Po­pular de Do­netsk. A ci­dade é uma entre mais de uma de­zena de lo­ca­li­dades onde, desde o final da se­mana pas­sada, mi­lhares de pes­soas saem à rua exi­gindo pro­nun­ciar-se sobre o seu es­ta­tuto na Ucrânia.

Para além de grandes ac­ções de massas no Leste e Sul do país – no de­curso das quais foram re­gis­tados, em al­guns casos, con­frontos com a po­lícia e com bri­gadas de nazi-fas­cistas que pro­cu­raram dis­persar e in­ti­midar quem pro­tes­tava –, foram to­madas ou cer­cadas pelos po­pu­lares e por mi­li­ci­anos sedes ad­mi­nis­tra­tivas e de se­gu­rança em vá­rios cen­tros ur­banos, so­bre­tudo na­queles si­tu­ados nas pro­xi­mi­dades de Do­netsk e Lu­gansk, ci­dades res­ga­tadas aos gol­pistas e onde a po­lícia re­cusa re­primir a po­pu­lação.

Em Kharkov, a Câ­mara mu­ni­cipal voltou a ser to­mada por ma­ni­fes­tantes, per­sis­tindo uma si­tu­ação tensa com as forças da ordem. Em Ma­riupol,o povo re­jeita a au­to­ri­dade de Kiev, tendo o mesmo acon­te­cido numa grande ma­ni­fes­tação em Odessa em que se ce­le­brou o 70.º ani­ver­sário da li­ber­tação da ci­dade da ocu­pação nazi.

Banho de sangue

Para além de mi­li­tares, estão a ser en­vi­ados por Kiev para o Leste do país, a co­berto da Guarda Na­ci­onal recém criada, mem­bros do par­tido ne­o­nazi Sector de Di­reita (SD). A in­for­mação foi con­fir­mada pelo chefe de se­gu­rança e de­fesa gol­pista, An­drey Pa­ruby, di­ri­gente do par­tido fas­cista «Li­ber­dade». Antes, o líder do SD, Dmitry Ya­rosh, apelou aos seus ho­mens para que se mo­bi­lizem para o com­bate.

Estas in­for­ma­ções avo­lumam a pre­o­cu­pação de que Kiev aposte em afogar em sangue a re­volta po­pular, o que a Rússia veio apelar a que não su­ceda, ad­ver­tindo, para mais, que tal será um obs­tá­culo à busca de uma so­lução pa­cí­fica, no âm­bito da qual se previa que se en­con­trassem, hoje, em Ge­nebra, os res­pon­sá­veis di­plo­má­ticos russo, norte-ame­ri­cano, da UE e da Ucrânia.

O go­verno gol­pista acusa Mos­covo de ma­no­brar no ter­reno os acon­te­ci­mentos a Leste e, se­cun­dado pelos EUA e pela UE, fala de uma su­posta «ameaça mi­litar russa».

O Kremlin re­jeita, e, através do seu mi­nistro dos Ne­gó­cios Es­tran­geiros e do seu em­bai­xador nas Na­ções Unidas, nota que quando os grupos nazi-fas­cistas der­ru­baram vi­o­len­ta­mente o pre­si­dente Viktor Ya­nu­ko­vich nin­guém os qua­li­ficou de ter­ro­ristas.

Mos­covo pre­tende, ainda, es­cla­re­ci­mentos sobre a vi­sita do res­pon­sável da CIA a Kiev. John Brennan reuniu, sá­bado, 12, com o mi­nistro do In­te­rior, Arsén Avakov, e o pre­si­dente in­te­rino Ale­xandr Tur­chinov, en­contro após o qual este úl­timo or­denou o que a Ucrânia chama de «ope­ração an­ti­ter­ro­rista».

A hi­po­crisia im­pe­ri­a­lista sobre a crise ucra­niana foi também vei­cu­lada pelo pre­si­dente Ba­rack Obama, que em con­versa te­le­fó­nica com Vla­dimir Putin terá, de acordo com a Casa Branca, exor­tado a que «todas as forças ir­re­gu­lares de­po­nham as armas [no Leste]» e pe­dido que o pre­si­dente russo use «a sua in­fluência sobre os grupos ar­mados pró-russos para con­vencê-los a aban­donar os edi­fí­cios que ocupam».

Putin re­tor­quiu ape­lando a Obama que não per­mita o uso da força e evite um banho de sangue, e in­sistiu que a única saída é a fe­de­ra­li­zação da Ucrânia.




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