«Inexoráveis»

Carlos Gonçalves

Depois do «irrevogável» Portas, falou-se aqui do Seguro do PS e das suas «contradições insanáveis»(!) com o PSD, com quem «nunca será possível» um acordo(!). Hoje, falamos dos «inexoráveis» que sobre um acordo PS/PSD/CDS consideram que «acontecerá inexoravelmente» no futuro. Quem agora o disse foi um antigo dirigente do PS, Miranda Calha, que daqui se saúda, porque, neste mar de patranhas e tretas em que se afunda a troika nacional, foi quem mais se aproximou da realidade, talvez porque esteja longe, na Assembleia Parlamentar da NATO, onde intervém sobretudo na «afirmação global da Europa», militarista e imperialista, contra a «Euro-Ásia da Rússia e da China».

Entretanto, para repor a verdade e porque esta é uma questão central que importa não deixar cair nas eleições para o Parlamento Europeu, é preciso aclarar que o «acordo inexorável» de PS/PSD/CDS não está para acontecer agora. Existe, para tudo quanto é essencial, desde há trinta e sete anos, na política de direita, do PS «aliado de facto à direita», ou do PSD/CDS a governar, com o PS à espera da sua vez para continuar pelo mesmo caminho, como agora acontece. Esse «acordo inexorável» foi e continua omnipresente nestes vinte e sete anos de integração capitalista europeia e nos quinze anos de moeda única, que no quadro da crise sistémica do capitalismo e de contra-ofensiva imperialista, conduziram Portugal a esta situação dramática de empobrecimento brutal e declínio nacional.

E é ver como nas entrelinhas das suas «contradições insanáveis» com este Governo, o «Olimpo» do PS vai deixando claro que o «acordo inexorável» PS/PSD/CDS vem de trás e é para prosseguir, no Tratado Orçamental, verdadeira continuação sem troika do Pacto de Agressão, na União Bancária, e em tudo mais que afunde a soberania nacional.

Diz Seguro, acordo com o PSD? Sim, para depois, claro(!), com o PS no governo. E o mesmo diz Assis, o «federalista mitigado», e o Sócrates, dos PEC e do «memorando de assistência», mais o Coelho e o Vitorino, dos grandes negócios. Aí estão todos, com mais apoio no poder económico-mediático, e unidos, organizados e «inexoráveis», carpindo pela «mudança» – para que tudo fique na mesma!

É urgente a ruptura, a sério. E uma alternativa patriótica e de esquerda.
 



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