Hora de lutar pela dignidade
Um mar de gente abarrotou, no sábado, 22, o centro da capital espanhola, naquele que é considerado o maior protesto jamais realizado em Espanha.
Resistência à ofensiva do capital cresce em Espanha
Logo de manhã, milhares de madrilenos acolheram calorosamente as colunas de caminhantes que chegavam à capital, vindas de diferentes regiões de Espanha, para se concentrarem junto da estação ferroviária de Atocha.
Quando a cabeça do enorme desfile atingiu a Praça Colon, muitos manifestantes continuavam no ponto de partida, a cerca de três quilómetros dali.
Do palco, a jornalista Olga Rodríguez e o actor Willi Toledo leram o manifesto da marcha, subscrito por mais de 300 organizações, apelando à superação do actual sistema gerador de desigualdades e minado pela corrupção.
Seguiram-se as intervenções de representantes das dez colunas chegadas à capital, que salientaram a luta em defesa dos direitos sociais e dos serviços públicos, do direito ao trabalho, a um rendimento mínimo, à habitação, e condenaram a política de cortes, exigindo a demissão do governo do PP e de todos os governos que executam as políticas da troika.
Palavras que calam fundo num povo atormentado pelo desemprego em massa (quase seis milhões sem trabalho), sucessivos despejos que privam dezenas de milhares das suas casas e cortes de milhares de milhões nas despesas sociais.
O protesto, que decorreu pacificamente, terminava com a música do cantor Manuel Gerena e do coro e orquestra da Solfónica de Madrid, um grupo de músicos activistas que se associaram aos movimentos sociais de protesto.
Porém, no momento em que a Solfónica começava a actuação, a praça e ruas adjacentes repletas de manifestantes foram palco da repressão policial.
Alguns elementos encapuzados estranhos à manifestação lançaram petardos sobre o cordão policial. Este acto isolado, claramente provocatório, deu o pretexto para a acção violenta.
Os organizadores das marchas responsabilizaram o comando da polícia e a delegada do Governo pelos distúrbios ocorridos, notando que as forças da ordem «não só não protegeram uma manifestação legal, como carregaram de forma desnecessária e abusiva contra milhares de cidadãos pacíficos, interferindo num acto legal.»
Dos confrontos que se seguiram resultaram 88 feridos, 15 dos quais necessitaram de assistência hospitalar. A polícia deteve 24 pessoas.