Higiene oral
Saída limpa, à Irlandesa? Ou programa cautelar? Eis a magna questão para onde freneticamente e a mando do Governo, comentadores, analistas, editorialistas e outros assim que tais se atiram em intermináveis debates.
As palavras nestas andanças são sempre mais do que os nomes que se dão às coisas. Visam condicionar a percepção e o verdadeiro impacto daquilo que efectivamente se propõe, como aconteceu com a famosa «ajuda externa» para esconder a natureza agressiva do programa imposto pelas troikas, ou até, a puritana expressão da «austeridade» promovida até à exaustão para interiorizar nas massas a necessidade de empobrecer e camuflar o processo de concentração e acumulação de riqueza por parte do grande capital.
Também aqui a mistificação e o embuste não são menos perigosos, embora haja que reconhecer que se vão refinando os métodos e a criatividade.
Diria que estamos perante quatro objectivos: primeiro, o de convencer o povo que os maus da fita se vão embora e pouco importa que se mantenham as visitas, as monotorizações da UE e do FMI, mas sobretudo, os condicionalismos externos e internos a que PS, PSD e CDS amarraram o País; segundo, legitimar não só todos os sacrifícios que foram impostos e que arrasaram com a vida de milhões de pessoas, mas sobretudo, ganhar espaço para que no futuro novos sacrifícios venham a ser exigidos para que a troika não volte; terceiro, esconder que sem uma renegociação da dívida pública – nos seus prazos, juros e montantes – pouco importa se o País se vai financiar junto dos «mercados» a taxas de juro de mais de 5% como aconteceu esta semana (a tal saída à Irlandesa), ou se vamos obter financiamento por via de um qualquer programa da UE ou do FMI, num e noutro caso, estamos perante um desastre, uma dívida insuportável e impagável onde quanto mais se paga mais se deve. Por último, ocultar que no dia 18 de Maio – o dia seguinte ao relógio do Portas – o roubo nos salários e nas pensões não será reposto, as empresas públicas que foram vendidas não serão devolvidas ao Estado, o Orçamento do Estado não será revogado. A não ser... A não ser que se ganhe ainda mais força nesta luta que continua.