Escravos engravatados? Não! Cravos!
Chama-se Passinhas Pólvora e foi despedido da Carris por não poder usar gravata. Foi há mais de dois anos. O Partido levou o caso à Assembleia da República, o Sindicato atravessou Lisboa em protesto carregando com uma gravata de vinte metros, o ministro até foi simpático com a causa na reunião da praxe, mas disse que não podia fazer nada, que o fardamento é coisa importante, e o Governo só manda nas empresas quando se trata de roubar salários e pagar a agiotas, mas que ia apurar e saber, que ficassem descansados. Ninguém ficou descansado – nem cansado – e quando o ministro soube o que já sabia, e apurou o que antes ordenara, o despedimento consumou-se.
(Como já aqui denunciámos, com este Governo, como com os anteriores, nas empresas públicas pode-se ser despedido por não usar gravata e recompensado por perder mil milhões de euros em apostas especulativas – veja-se o caso de Pedro Bogas, antigo assessor de Sérgio Monteiro, que continua como Administrador do Metro apesar de ter pertencido à Administração que afundou esse mesmo Metro em swaps).
Com o seu sindicato, a luta continuou nos tribunais, terreno cada vez mais duro e difícil, onde hoje já se perde muito do que se deveria ganhar, mas onde ainda há que combater, para desagrado de tantos, como recentemente deixou claro a cavacal múmia. A vitória na primeira instância deu ânimo, mas a empresa recorreu, recorrem sempre, o tempo é a sua maior arma contra o proletário, e no caso das empresas públicas os custos nem são um problema para quem as tomou de assalto. Quando a empresa ganhou o recurso no caso do Gomes, numa inenarrável decisão da Relação, os medos ainda cresceram mais, mesmo sem abalarem a confiança de quem luta pelo que é justo. Mas desta vez a empresa perdeu na Relação.
E apesar de toda a podridão e de toda a corrupção, apesar do Estado cada vez mais se revelar como a ditadura dos exploradores, apesar de não ser possível recuperar tudo o que se perde em mais de dois anos despedido, apesar de tudo, vale sempre a pena lutar, e desta vez, até ganhámos. E o Passinhas Pólvora vai regressar à Carris. Hurrah!