A vida desmente propaganda do Governo e do capital

Vladimiro Vale (Membro da Comissão Política)

Toda a campanha ideológica do Governo e do grande capital quer convencer-nos de que estamos no bom caminho, que o pior já passou. Com este discurso, querem fomentar a resignação e esconder que pretendem continuar a agressão após o pacto. A situação do País e do distrito de Coimbra desmentem a tese e a propaganda governamentais.

Está nas mãos do povo derrotar os partidos da troika interna

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O pacto de agressão, assinado por PS, PSD e CDS, foi um verdadeiro plano de destruição de emprego no País e no distrito de Coimbra. Se juntarmos os ocupados em programas de emprego e formação, incluindo os contratos emprego-inserção, o número de desempregados no distrito atinge os 30 mil trabalhadores. Em Julho de 2011 era de cerca de 17 mil pessoas. Apenas 41 por cento dos desempregados inscritos nos Centros de Emprego do distrito recebem subsídio de desemprego. A precariedade cresce. A maioria esmagadora das ofertas de emprego (90 por cento) são para contratação a prazo, com salários baixíssimos. Empobrece-se a trabalhar. Aumenta a pobreza e a emigração.

A política subjacente ao pacto de agressão – assinado por PS, PSD e CDS, nunca é de mais repetir – é a política de concentração e acumulação da riqueza nas mãos do grande capital. Daí que a sua implementação acelerou o plano destes partidos da política de direita para o ataque aos serviços públicos do distrito e do País.

É o caso do desmantelamento de unidades de saúde importantíssimas como o Hospital dos Covões, encerrando valências; ou da privatização de hospitais entregando-os às misericórdias, como o Hospital de Cantanhede, enquanto proliferam unidades de saúde privadas em redor dos serviços públicos. Unidades privadas às quais as políticas dos sucessivos governos entregam utentes, transformando-os em clientes.

Já antes do pacto o objectivo da política era o mesmo. O pacto acelerou, mas a agressão começou antes. Hoje é mais fácil entender por que é que, ainda o PS era governo, se encerraram dezenas de estações de correio no distrito. Acção prosseguida, já com este Governo PSD-CDS, com encerramento de um grande número de postos e estações: tratava-se de adequar o negócio à privatização e o percurso prova que este foi sempre o plano comum dos partidos da política de direita.

Na última década aumentou o número de escolas privadas em Coimbra. São hoje 170. À luz deste fenómeno entende-se melhor por que é que se está desinvestir na educação, a reduzir escolas públicas, a criar mega-agrupamentos, a degradar a escola pública.

Em todos os sectores

O plano de favorecimento dos interesses do capital repete-se em todos os sectores. Como no processo de destruição de linhas ferroviárias, nomeadamente do Ramal da Pampilhosa e do Ramal da Lousã. No primeiro caso, o pretexto foi a realização de obras que nunca foram concretizadas. O Ramal da Lousã foi destruído a pretexto da implementação do projecto Metro Mondego.

Não contente com a destruição de um serviço público de transportes, a Câmara de Coimbra (PS) pretende agora fundir os Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC) com o Metro, o que pressupõe privatizar. Isto significaria aumentar preços para favorecer o negócio; impossibilitaria o controlo democrático, visto que a população não vota na administração das empresas privadas; a prazo, conduziria à degradação do serviço que passava a estar sujeito à lógica do lucro, ao fecho das linhas menos lucrativas, ao corte no investimento, ao ataque aos trabalhadores e aos seus direitos.

O PCP sempre contestou a inclusão do Ramal da Lousã no Metro, defendendo a electrificação da linha, até porque a sua modernização e electrificação seria muito mais barata, com mais qualidade, com garantia de ligação à rede ferroviária nacional, podendo transportar mercadorias e podendo continuar para além de Serpins. Defender o Metro tal como ele foi apresentado, ou como agora querem impor, é atacar o transporte público acessível a todos para favorecer o negócio à custa de todos nós.

Estes exemplos concretos do distrito de Coimbra desmentem a propaganda governamental e clarificam o envolvimento de PS, PSD e CDS em todos os aspectos que penalizam os trabalhadores e o povo em favor do capital. Com a intensificação e alargamento da luta, com o reforço do PCP e a alteração da correlação de forças é possível libertar Portugal da dependência e da submissão, recuperar para o País o que é do País e devolver aos trabalhadores e ao povo os seus direitos, salários e rendimentos. Está nas mãos dos trabalhadores e do povo alargar e intensificar a luta pela ruptura com as políticas de direita, a possibilidade de derrotar este Governo e esta política de desastre imposta pelos partidos da troika interna.

 



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