Consumo cai, lucros sobem
Numa década, a privatização da electricidade em Espanha traduziu-se num agravamento médio dos preços de 78 por cento, segundo um estudo da Facua-Consumidores en Acción.
Espanhóis reféns dos monopólios privados da electricidade
De acordo com dados da organização não governamental, divulgados dia 18, a factura média da electricidade em Espanha era de 43,47 euros em 2003. Dez anos depois, em Outubro de 2013, este valor galgou para 77,37 euros.
Dominando o sector a seu bel-prazer, os cinco grandes operadores privados (Iberdrola, Endesa, Gas Natural Fenosa e Hidrocantábrico) aceleraram o aumento dos preços precisamente com o deflagrar da crise económica em 2008.
Daí para cá, segundo contas do jornal digital publico.es, o consumidor médio teve de suportar um aumento superior a 60 por cento, passando de uma mensalidade de 50,20 euros, em Janeiro de 2008, para 80,47 euros, entre 1 de Janeiro e 31 de Março de 2013.
Refira-se que o valor médio mais elevado foi registado no primeiro trimestre de 2012, atingindo os 88,66 euros mensais.
Puxando ao máximo pelas tarifas, as eléctricas espanholas não só escaparam incólumes à crise, como mantiveram elevadas rentabilidades, comparadas com os seus homólogos europeus.
O preço da electricidade em Espanha é hoje o terceiro mais elevado da União Europeia, só superado pelo Chipre e Irlanda.
Esta política, que teve a cobertura dos governos do PSOE e do PP, permitiu aos operadores um encaixe suplementar de 21 600 milhões de euros desde 2007.
Por isso, as eléctricas espanholas, apesar das graves dificuldades que a economia atravessa, apresentam-se hoje como as mais prósperas da Europa. Em volume de negócios, a Iberdrola é a quinta no ranking europeu, com 34 200 milhões de euros, seguindo-se no sexto lugar a Endesa e a Gas Natural Fenosa na décima posição.
Mas a sua posição é ainda mais destacada quando se trata de resultados: A Iberdrola, que arrecadou 3557 milhões de euros em lucros no ano passado, é a segunda eléctrica mais rentável da UE, enquanto a Endesa, com 2771 milhões de euros de lucros, ocupa a terceira posição.
Nunca satisfeitos, os grandes operadores privados pretendiam aumentar os preços em 11,5 por cento a partir de Janeiro. Porém, desta vez, face ao clamor dos protestos em vários sectores da sociedade, o governo de Rajoy opôs-se ao escandaloso aumento, propondo subidas mais modestas (entre 1,4 e 2,9%), que não deixarão de penalizar fortemente uma população flagelada pelo desemprego, por cortes salariais e por uma acentuada diminuição do poder de compra.
Pobreza energética
O aumento dos preços da electricidade trouxe para a actualidade o fenómeno da pobreza energética que se tem ampliado nos últimos anos. Neste conceito incluem-se as famílias sem recursos para manter as suas habitações a uma temperatura adequada ou que têm de destinar mais de dez por cento do seu rendimento para esse fim.
Em Espanha estima-se que dez por cento da população sofra de pobreza energética, nível que por certo se agravará com a nova subida dos preços da electricidade.
Com efeito, a par dos baixos rendimentos e do deficiente isolamento dos alojamentos, o preço da electricidade surge como o terceiro factor deste tipo de pobreza.
Embora as estatísticas oficiais sejam omissas quanto a este problema social, a imprensa de Espanha tem dado conta de um número crescente de pessoas incapazes de pagar a factura da electricidade. Em 2012, por exemplo, um milhão e 400 mil lares sofreram cortes de energia por falta de pagamento.
Outros dados de organizações de solidariedade confirmam esta tendência. Entre 2007 e 2010, duplicou o número de famílias que pediram ajuda da Caritas para pagar a electricidade.
A pobreza energética é ainda uma das causas da taxa de mortalidade adicional durante o Inverno, que em Espanha se eleva a mais de 20 mil mortes prematuras, das quais entre 2300 e 9300 podem ser atribuídas à falta de aquecimento.