Na rua para os pôr na rua
Exploração, empobrecimento, roubo nos salários, pensões e reformas, destruição dos serviços públicos, desemprego, três milhões de pessoas a viver abaixo do limiar da pobreza, dez mil pessoas por mês a abandonarem o País, colossais transferências financeiras para o capital: este é o dia-a-dia que enfrentam milhões de pessoas, a realidade que o Governo, o capital e o seu bando de comentaristas procuram esconder com o recurso à hipocrisia, demagogia e a mentira (a abertura dos telejornais com notícias de crescimento económico, diminuição do desemprego ou ouvir o irrevogável Paulo Portas afirmar que não quer um modelo de baixos salários para o País, é bem revelador do estado a que isto chegou).
Com ou sem troika, o capital quer manter a actual política
Uma realidade que se agravará ainda mais com a proposta de Orçamento do Estado para 2014 que, mais uma vez, segue a via do roubo dos salários, das reformas e pensões, do ataque aos serviços públicos, da venda do património e riqueza do País, do agravamento dos impostos, da manutenção de todos os roubos anteriores acrescidos de novos roubos. Trata-se de um OE que, ao contrário do que procuram fazer crer, não se destina aos trabalhadores da Administração Pública, mas a atacar quem trabalha ou trabalhou uma vida inteira e deixar ileso o capital, que vai engordando cada vez mais, enquanto os trabalhadores e as populações emagrecem.
Dizem-nos que é inevitável, que não há dinheiro. Ora, se o dinheiro que existe é entregue a fundo perdido à banca para tapar fraudes e buracos como os do BPN, BPP ou Banif; para pagar milhares de milhões dos swap; para dar aos grupos económicos a partir dos negócios das PPP; para isentar ou reduzir impostos para os grandes grupos económicos pela via da redução do IRC; para pagar escandalosos juros – então não há dinheiro que resista! Esta é uma opção de fundo que não terminará em Junho de 2014.
Não estamos perante um grupo de incompetentes, mas sim nas mãos de gente altamente especializada que, ao contrário do que se procura fazer crer, não está a falhar; concentra, sim, os seus esforços a tentar fazer tudo, e da forma que lhe é possível, para cumprir os seus objectivos de médio e longo prazo. Os sucessivos e diversos apelos para alargados compromissos e a utilização do Tribunal Constitucional como pretexto para atacar a Constituição da República, são exemplos desse esforço.
Há muitos interesses e milhões de euros em causa, a perpetuação da alternância apresenta-se como questão central. Uma gestão que está a ser feita ao milímetro, medindo cada passo, avaliando a cada momento o que serve melhor a continuidade desta política. Insere-se nesta estratégia todo o ruído em torno da saída da troika estrangeira e do que virá depois. Por detrás de todos os nomes que surgem (programa cautelar, resgate, auxílio), o que está realmente em causa é o conteúdo do que se prepara: mais austeridade, mais roubo, mais sacrifícios e mais riqueza concentrada nas mãos de poucos.
É este conteúdo que se procura salvaguardar e tudo fazer para criar as condições para que, independentemente do partido de turno no governo ou da forma utilizada, a política continue nos seus eixos fundamentais. Para isso há que garantir que, mesmo saindo a troika estrangeira, fique cá a troika nacional (PS, PSD e CDS) a manter a coisa nos carris.
O futuro nas mãos do povo
A situação é muito difícil e exigente. O PS, que no início deste ano parecia ter entrado a pés juntos, no Verão saiu de mansinho e abandonou a exigência de eleições antecipadas, demonstrando mais uma vez (caso dúvidas houvesse) e de forma clara os seus compromissos com o pacto de agressão em curso, assim como as suas próprias responsabilidades na actual situação do País.
Mas contra tudo o que os interesses económicos desejavam, a realidade de todos os dias demonstra que os trabalhadores, os estudantes e a juventude, os democratas, as populações, não se resignam nem viram a cara à luta. Uma imensa luta que está em curso e que se alarga nas empresas, nos locais de trabalho e nas ruas.
No próximo dia 26 de Novembro, o OE – essa peça ao serviço dos grandes interesses – vai ser votado. É mais do que certo que será aprovado por uma ilegítima maioria, mas também é certo que, nesse dia, em todo o País, a partir do apelo da CGTP-IN, logo de manhã em frente à Assembleia da República, em várias empresas e locais de trabalho, nas ruas, a partir da dinâmica de vários sectores, milhares de pessoas terão a oportunidade de se levantarem, de demonstrarem a sua indignação, de protestarem e deixarem bem claro que rejeitam a continuação desta política e exigem a demissão do Governo. Esta luta já derrotou política e socialmente este Governo; agora é preciso derrubá-lo de vez e não deixar espaço ao prosseguimento da sua política.
Confiança, determinação e luta – é este o caminho. Uma luta que se trava em centenas de empresas, localidades e ruas, uma luta que muitas das vezes não passa nos órgãos de comunicação social, uma luta que o PCP anima, valoriza, para a qual mobiliza e à qual dá força com uma inabalável confiança nos seus resultados.