O que há de novo a Leste
Apenas os comunistas ucranianos se pronunciam contra o acordo com a UE
Uma batalha em muito inaudível é travada na imensidão do espaço pós-soviético em torno da demarcação e recomposição de esferas de influência e dominação. Realidade que externamente evidencia o agravamento de contradições entre potências, mas não pode ser abstraída do eixo concreto do choque do imperialismo com a Federação Russa, no quadro de agravamento da crise capitalista mundial. A cobiça de riquezas naturais e novos mercados, a contenção e eliminação de um adversário, apesar de tudo, poderoso no plano militar, político e económico (segundo o BM, 5.º PIB mundial em 2012, em termos de paridade de poder de compra); os imperativos da «agenda geopolítica», nomeadamente, a tentativa de obstaculizar a recomposição da influência regional da Rússia (de que são exemplo a União Aduaneira com a Bielorrússia e o Casaquistão e o projecto subsequente de fundar em 2015 a União Económica Euro-Asiática) e de subverter a cooperação com a China e a articulação das potências emergentes no plano regional (OCX) e mundial (BRICS) constituem factores de peso na ofensiva e pressões face à Rússia ao «regime de Pútin». Daqui a continuada cavalgada para Leste da NATO e o projecto em execução de escudo antimíssil dos EUA, que contam com o apoio e participação da UE.
Dinâmica expansionista em que se inscreve a funesta política concentracionária da UE, atravessada não só por uma crise profunda, mas por profundas transformações, reveladoras do irreparável carácter imperialista da matriz fundadora da UE. A esperada assinatura, durante a cimeira da Parceria Oriental da UE, em Vilnius no próximo mês, do acordo de associação com a Ucrânia (a Geórgia e Moldova também estão na fila) assim o comprova. Trata-se de um acordo que transporta no bojo um tratado de livre comércio leonino e a imposição de condições desiguais e de relações de exploração de índole neocolonial. Atente-se que Bruxelas já não está em condições (e tempo) de «oferecer» a perspectiva de uma integração plena aos novos satélites ex-soviéticos da UE a quem é exigida a incorporação unilateral [dos deveres] do acquis comunitário.
A associação com a UE coloca em causa o exercício da soberania de Estado por Kiev. Um passo que está em consonância com o percurso de proclamação da soberania e independência da antiga República soviética da Ucrânia, nos anos 1990-91, marcos do processo de desintegração da URSS. A ideologia dominante esbraceja com a bandeira do nacionalismo e fomenta a divisão nacional que trespassa a Ucrânia, segundo maior país europeu, cujas fronteiras actuais são aliás resultado do período de poder soviético. Mas essencial é não perder de vista a dimensão fundamental de classe. O acordo que sela a capitulação perante a UE (que inevitavelmente recoloca na agenda a questão da integração na NATO e contraria a neutralidade da Ucrânia consagrada constitucionalmente) será assinado, não por um governo do «arco laranja», mas pelo poder do Partido das Regiões, cuja base de apoio eleitoral reside em grande medida nas regiões do Leste e Sul do país, maioritariamente russófonas. Sintomático é também que dentro do arco parlamentar ucraniano, a «opção europeia» de Kiev reúna o consenso do mencionado Partido das Regiões, da oposição liberal laranja e pós-laranja (com a UE a exigir como condição de assinatura do acordo a libertação de Timochenko!) e do partido ultranacionalista e pró-fascista, «Liberdade». Apenas os comunistas ucranianos se pronunciam contra o acordo com a UE.
Elevar a luta social e a solidariedade entre as forças que enfrentam a actual ofensiva contra os direitos dos trabalhadores e dos povos é uma exigência do nosso tempo.