Comentário

Extremismos

Inês Zuber

O advento, o reforço, o apoio à extrema-direita em diversos países da UE é verdadeiramente preocupante. Uma sondagem revelou, no mês de Outubro, que o partido francês de extrema-direita Frente Nacional, dirigido por Marine Le Pen, seria o partido mais votado nas próximas eleições europeias, com 24 por cento dos votos, quatro vezes mais do que os sufrágios obtidos nas europeias de 2009. O partido nazi grego Aurora Dourada obteve vários deputados no Parlamento grego nas últimas eleições, sendo hoje cada vez mais evidente que este partido tem por base uma rede criminosa, ligada ao tráfico de pessoas e de armas, rede que as autoridades gregas nunca se preocuparam em reprimir. E sabe-se também que terá profundas ligações com o grande capital.

São mais do que conhecidas as razões que dão margem de manobra aos grupos fascistas e por que ganham estes considerável apoio junto das pessoas mais descontentes e frustradas com a política. É evidente o aprofundamento do fosso das desigualdades nas nossas sociedades que alimenta estes grupos. Mas parece ser cada vez mais necessário – para aqueles políticos e comentaristas que insistem em se esquecer – relembrar que o nazismo e o fascismo sempre tiveram como principal alvo os trabalhadores e os movimentos revolucionários e sempre tiveram, simultaneamente, como principal aliado os grandes grupos económicos e financeiros capitalistas. E parece que é também necessário recordar que foram os comunistas que estiveram na primeira linha de combate contra o fascismo (revisitemos os casos de Portugal, França, Itália, Grécia, entre outros). Conviria, a bem da honestidade intelectual, que nos media e no discurso político da direita e da social-democracia não se tentasse passar, oportunisticamente, ao lado da história.

Vejamos alguns exemplos. Juan Escobar, deputado europeu do PP espanhol, afirmou no plenário do Parlamento Europeu no mês de Outubro: «Senhor Presidente, quero denunciar, queridos colegas, que na Europa não existe só o perigo da extrema-direita. Todos condenamos esse radicalismo. Os radicais de esquerda ou de direita e muitos dos que pretendem a secessão dos estados aproveitam a crise económica para beneficiar politicamente desta situação de forma imoral. Este Parlamento, que representa a união dos cidadãos da Europa, tem que denunciar também aqueles que sob uma pretensa campanha antifascista não fazem outra coisa que praticar o que denunciam: o fascismo

Henrique Monteiro, em crónica de 24 de Outubro, no semanário Expresso, afirma estar preocupado porque a «direita civilizada vai atrás da direita incivil» mas também porque «a própria esquerda civilizada, socialista e social-democrata, anda, em certos países, a reboque da esquerda anti-sistema». Esta última afirmação também poderia ser lida assim: «Elementos do PS andam atrás de partidos como o PCP» (segundo a opinião dele, evidentemente). António Barreto, no sábado passado, em entrevista ao jornal I, afirma ainda que as únicas forças, em Portugal, que estão contra o euro (e, portanto, contra o projecto da UE) são o PCP e a extrema-direita.

A União Europeia está em crise, como sabemos. Os pressupostos com que foi criada – por exemplo, a competitividade no mercado único – mostram-se hoje cada vez mais contraditórios, como seria de esperar. Embora qualquer pessoa com o mínimo de bom-senso que analise as consequências devastadoras das políticas da UE conclua pela necessidade de as revogar, a social-democracia e a direita estão hoje conjuntamente num frenesim desesperado para tentar convencer os povos da Europa sobre a necessidade de as manter, e mais, aprofundar. Mesmo que com um discurso ilógico ou imbuído de actos de fé. Para o conseguirem concretizar, vale tudo. E com o adventos dos nacionalismos violentos e xenófobos, encontraram a desculpa perfeita para, num golpe só, atacarem e criminalizarem (pelo menos, no discurso) todos os movimentos e forças políticas que consideram que a UE é contrária aos interesses dos povos e dos trabalhadores da Europa. Em Portugal, o PCP será, evidentemente, o mais visado, nesta campanha mentirosa, manipuladora e deturpadora das nossas posições políticas. Voltaremos a este assunto em próximo artigo, porque importa denunciar aqueles que combatem os movimentos revolucionários, impondo o seu conceito de «democracia», aquele que está à vista de todos nós.




Mais artigos de: Europa

Comunistas reforçam votação

As eleições legislativas antecipadas na República Checa, realizadas a 25 e 26, significaram uma pesada derrota para a direita governante e um claro avanço para os comunistas.

Penúria financeira

Os deputados do PCP no Parlamento Europeu alertam para o risco de o orçamento da UE para 2014 poder sofrer cortes drásticos, criando uma situação de penúria financeira.

Espanhóis pela saúde e educação

Milhares de pessoas participaram na 12.ª «maré branca», realizada na tarde de domingo, 27, em Madrid, em defesa do sistema público de saúde e contra a privatização dos hospitais na região madrilena. A marcha, que terminou na...