Anticonstitucionalissimamente
Dizia o Ary ser esta a maior palavra que se podia escrever em Português. Maior no número de letras que utiliza, entenda-se, pois as palavras grandes não costumam precisar de muitas letras, como qualquer um pode atestar – mãe, pai, nós, Abril...
Neste caso, até se poderia dizer maior no número de letras que malgasta, que desperdiça numa palavra que só pode aplicar-se a uma situação onde, mais que violações pontuais ou diferentes opções, já se afronta global e continuadamente a Constituição.
Chegámos finalmente a esse ponto do processo contra-revolucionário onde a acção de um governo justifica plenamente o anticonstitucionalissimamente. Mas dito isto, é preciso recordar que contra a Constituição governaram todos os governos ditos «constitucionais», num país onde os únicos governos que cumpriram a nossa Constituição foram os governos provisórios... no tempo em que ainda não existia Constituição. Contra a Constituição se reconstruiu o capitalismo monopolista de Estado, contra a Constituição se liquidaram parcelas da soberania nacional, contra a Constituição se foi cúmplice das ofensivas militaristas da NATO, contra a Constituição se liquidaram serviços públicos, contra a Constituição se roubaram salários e pensões, etc.
Depois de 35 anos de uma acção governativa anticonstitucional, porquê ir agora atribuir a este Governo o direito a tanto sufixo? É que hoje se vive uma situação de permanente golpe de Estado, com o Governo a comportar-se como se não existisse Constituição e toda a soberania nacional fosse um problema. Esta postura é uma consequência da completa submissão ao grande capital internacional e começa a deixar preocupado até o «bom» burguês que sempre anseia pela segurança jurídica das suas propriedades e dos seus privilégios, de tal forma que o chão começa a dançar debaixo de muita gente, e é mais que natural alguma desorientação.
Sobram todas as lamúrias e todas as resmunguices. O que faz falta é lutar, em defesa da Constituição de Abril, com a vanguarda que acredita, que une, que mobiliza. O PCP. Sempreporabrilissimamente!