Nobel da Paz obcecado pela guerra
Barack Obama decidiu «agir militarmente contra alvos do regime sírio», que acusa de ter usado armas químicas contra civis. Isto apesar de os dados conhecidos confirmarem que foram os «rebeldes» os responsáveis pelos acontecimentos de 21 de Agosto.
Os «rebeldes» admitiram o uso de armas químicas ao correspondente da AP
LUSA
A declaração do presidente dos EUA, sábado, 31, foi proferida depois de o parlamento londrino ter impedido que o primeiro-ministro, David Cameron, arrastasse a Grã-Bretanha para uma campanha militar aberta contra a Síria. O facto foi um sério revés nas pretensões norte-americanas, que têm agora na França e no seu presidente, François Hollande – o qual recusa consultar a Assembleia Nacional sobre a matéria –, nas petro-monarquias vassalas do Golfo e na NATO, fiéis acompanhantes de uma intervenção bélica. O secretário-geral da Aliança Atlântica, Anders Fogh Rasmussen, assegurou que os agressores poderão usar sem restrições as bases do bloco imperialista.
O veto da Câmara dos Comuns inglesa forçou Obama a um compasso de espera, remetendo para o Congresso dos EUA a aprovação da aventura armada. A Câmara dos Representantes e o Senado não deverão pronunciar-se antes do dia 9 de Setembro.
Mas o Nobel da Paz mostra-se obcecado pela guerra. Segundo a AFP, Barack Obama e o seu vice-presidente, Joe Biden, terão iniciado um ciclo frenético de reuniões para convencer os deputados «cépticos» quanto a uma acção militar. Só no domingo, pressionaram 70 parlamentares, adianta a mesma fonte.
O adiamento deixou desiludida a «oposição síria», que, afirmou um seu representante à AFP, esperava «um ataque directo e iminente». Defraudado ficou, igualmente, o regime turco, cujo primeiro-ministro considera, para mais, que «uma operação limitada não nos pode satisfazer».
Entretanto, os EUA continuam a reforçar os meios navais na região, deslocando para o Mar Arábico o porta-aviões Harry S. Truman, e mantendo, na mesma zona, o Nimitz, um dos maiores vasos de guerra do mundo, equipado com dezenas de aviões de combate e acompanhado por seis contratorpedeiros e uma fragata, informa a Lusa. A CBS garante, por seu lado, que um submarino norte-americano e um outro britânico, bem como um contratorpedeiro equipado com mísseis de cruzeiro, estão já no Mediterrâneo, juntando-se aos quatro contratorpedeiros semelhantes que a Casa Branca ali colocou nos últimos dias.
A Prensa Latina cita um telegrama do Departamento de Estado datado de 2006 e adianta que Obama está a aplicar os planos elaborados há sete anos por George W. Bush para a Síria.
Resposta s(é)íria
Em entrevista ao jornal francês Figaro, na segunda-feira, o presidente sírio advertiu que um ataque dos EUA poderia provocar um conflito de proporções incalculáveis. «O Médio Oriente é um barril de pólvora. Não podemos falar só da resposta síria, mas do que poderá acontecer após o primeiro ataque. (…) O caos e o extremismo espalhar-se-ão. O risco de uma guerra regional existe», notou Bachar al-Assad, que voltou a negar o uso de armas químicas e desafia «os EUA e a França a avançarem com uma única prova».
Antes, já o Ministério dos Negócios Estrangeiros sírio havia qualificado de «histórias contadas pelos terroristas» nas «redes sociais e na Internet» as «provas irrefutáveis» apresentadas sexta-feira, 30, pelo secretário de Estado, John Kerry.
A diplomacia Síria tem, aliás, esgrimido argumentos tangíveis, caso da apresentação, nas Nações Unidas, dia 27, de documentos que atestam o uso de armas químicas por parte dos rebeldes nos arredores de Damasco, a 22, 24 e 25 de Agosto. Numa reunião recente dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, a Rússia terá igualmente colocado em cima da mesa fotos captadas por satélite que mostram disparos de obuses a partir de uma zona controlada pelos «rebeldes», justamente no momento em que se supõe que tenha sido desencadeado o ataque químico.
Moscovo sustenta que os relatórios de Washington «não continham nada de concreto», disse o ministro da Relações Externas, Sergei Lavrov. Para mais, os russos insistem que os inspectores da ONU deveriam ter prolongado a sua missão de investigação na Síria, apurando as denúncias das autoridades sírias quanto ao uso pelos terroristas de armamento químico, noticiou a Lusa.
Mas a evidência mais cabal da responsabilidade dos grupos armados foi recolhida pelo correspondente da Associated Press na Síria. Segundo o reputado jornalista Dale Gavlak, que se baseia em testemunhos de combatentes e populares, os «rebeldes» admitem que o incidente ocorrido nos arredores de Damasco resultou do manuseamento deficiente de armas químicas fornecidas pela Arábia Saudita.
Defender a paz
Em cidades da Europa como Londres ou Frankfurt, na Turquia, na República Checa e em dezenas de cidades dos EUA, na Ásia ou na América Latina, milhares de pessoas têm-se concentrado contra a guerra. Mais de 50 partidos comunistas e operários, entre os quais o Partido Comunista da Síria e o Partido Comunista Português, emitiram um comunicado conjunto no qual «expressam solidariedade para com o povo sírio e denunciam a preparação de uma campanha militar pelos imperialistas dos EUA, NATO e UE (..) para promoverem os seus interesses na região», rejeitam «os pretextos (...) já usados nas guerras contra o Iraque, Jugoslávia, Afeganistão e Líbia», e «apelam à classe operária e aos povos de todo o mundo a que se oponham e condenem esta nova guerra imperialista, e exijam que os governos dos seus países não se envolvam nem suportem a ofensiva criminosa».
Igual condenação e apelo foi divulgado pelo Conselho Mundial da Paz e pelo poderoso movimento da paz turco. Em Portugal, pronunciaram-se o CPPC (que está a dinamizar um abaixo-assinado), o Movimento pelos Direitos do Povo Palestiniano e pela Paz no Médio Oriente– MPPM, e a CGTP-IN.