A clarificação

Manuel Gouveia

O primeiro-ministro Cavaco Silva reconduziu o governo de salvação nacional, que basicamente vai salvar-nos de si próprio prosseguindo a mesma política que produziu o desastre do qual nos vão agora salvar. Ricardo Salgado e Fernando Ulrich continuam a partilhar a pasta das Finanças e da Economia, Manuel Clemente continua como ministro da Caridade, Pinto Balsemão como ministro dos Negócios Estrangeiros, Passos Coelho e Paulo Portas mantêm-se como primeiros secretários de Estado e António José Seguro reconduziu-se como secretário de Estado da Oposição. E parece que há uns assessores que vão ser remodelados. Se não é isto, é parecido... sou de reconhecer que me perdi um pouco nas curvas e contra curvas dos últimos 15 dias.

Mas não deixou de ser um período clarificador. Eles estão à rasca, esmagados pela tenaz da história – o desenvolvimento da luta de massas e as insanáveis contradições do capitalismo! Eles sempre tiveram medo do povo, mas confiavam na sua capacidade de mentir e manipular e na eficácia dos seus instrumentos de dominação, e agora estão com medo. Na ditadura deles, as eleições não produzem alternativas, regulam as alternâncias, são plebiscitos que ratificam as opções tomadas pelas classes dominantes e só se realizam quando essas condições plebiscitárias estiverem garantidas. Nós sempre o soubemos, mas hoje são milhões que o reconhecem.

São esses milhões que nos interessam, mergulhados na realidade social produzida pelo capitalismo, de onde também brota uma verdade cristalina, pura, vertical, irresistível, que nenhuma poeira ou demagogia é capaz de vencer – só há um caminho a seguir: o de Abril contra o que Abril derrotou. Com o PCP contra as troikas. Rumo ao Socialismo contra o abismo a que o Capitalismo nos conduz. Com o Trabalho contra o Capital. Rumo à Vitória. De novo.

E não deixemos esquecer o que a poeira destes últimos dias tanto fez por esconder: foi a luta, e nomeadamente a greve geral de 27 de Junho, que esmagou o Governo, e que mais cedo que tarde derrotará a sua política. Sim, porque essa é a clarificação mais importante: é possível vencer. 



Mais artigos de: Opinião

O buraco

«Ministra foi mostrar o buraco» – era assim a manchete do Jornal de Notícias do dia 17. Referia-se ao facto de a ministra das Finanças ter participado nas negociações entre PSD, PS, CDS e a Presidência da República na semana passada, supostamente para expor a...

Ideologia e realidade

A Royal Statistical Society encomendou a uma empresa de sondagens da Grã-Bretanha e a uma instituição universitária um estudo. Tratava-se de verificar a distância existente entre aspectos da realidade tal como as estatísticas os descrevem e a correspondente percepção...

O rosto do velho Japão

Não se esperavam grandes surpresas das eleições de domingo para o Senado no Japão. Confirmou-se a vitória do Partido Liberal Democrata (PLD) do primeiro-ministro Shinzo Abe, força hegemónica da direita e da política nipónicas desde, praticamente, o...

É o que dá

O torvelinho começou a 1 de Julho com a demissão do ministro de Estado e das Finanças, Vítor Gaspar, que acrescentou uma carta pública onde declarava o falhanço da sua política. No dia seguinte Paulo Portas, ministro de Estado, dos NE e líder do...