Debate sobre estado da Nação

Governo derrotado e sem futuro

Nada para me­lhor tudo para pior: de­sem­prego, re­cessão, re­dução do PIB e do in­ves­ti­mento, in­sol­vên­cias de em­presas e fa­mí­lias, dí­vida e juros que es­magam, ex­plo­ração sem freio, im­postos bru­tais, cortes nos sa­lá­rios, nas re­formas e pres­ta­ções so­ciais, de­gra­dação dos ser­viços pú­blicos.

O Pre­si­dente quer per­pe­tuar o mas­sacre do povo

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Este é o de­plo­rável re­trato do País fi­el­mente tra­çado pelo Se­cre­tário-geral do PCP sexta-feira pas­sada no de­bate par­la­mentar sobre o es­tado da Nação.

No final da sessão le­gis­la­tiva, após mais um ano dos dois que este Go­verno leva a san­grar a vida dos por­tu­gueses e do País, este é o ba­lanço trá­gico da sua po­lí­tica. E por isso nunca como hoje foi tão pre­mente a ne­ces­si­dade de de­missão do Exe­cu­tivo PSD/​CDS-PP, a dis­so­lução da AR e a con­vo­cação de elei­ções.

Por si eri­gida a questão cen­tral do mo­mento po­lí­tico, foi essa exi­gência que Je­ró­nimo de Sousa re­a­firmou no de­bate, con­victo que está de que essa é a única «saída digna e de­mo­crá­tica» para pôr termo ao pro­cesso de des­truição em curso que é fruto da po­lí­tica de um «Go­verno em con­fronto com a Cons­ti­tuição» e de um «Pre­si­dente que quer per­pe­tuar o mas­sacre do povo».

En­ce­nação tosca

Esta foi a grande tó­nica a marcar a po­sição dos par­tidos que nos qua­drantes à es­querda do he­mi­ciclo re­jeitam desde a pri­meira hora o pacto de agressão, em par­ti­cular do PCP, num de­bate onde se as­sistiu ao es­forço gro­tesco do Go­verno e dos par­tidos que o su­portam para en­cenar uma apa­rência de nor­ma­li­dade.

Foi um au­tên­tico exer­cício de dis­si­mu­lação aquele que foi pro­ta­go­ni­zado pelas ban­cadas do Go­verno, do PSD e do CDS-PP, a pre­textos vá­rios, na ten­ta­tiva vã fosse de dar a ideia de que a crise po­lí­tica ge­rada no seu bojo está ul­tra­pas­sada, fosse para apa­rentar a imagem de que estão «unidos» e de que o Go­verno está «forte», fosse para ali­mentar o so­fisma de que «agora é que é» e que um novo ciclo está na calha.

«O Go­verno está pronto para lidar com todas as ad­ver­si­dades fu­turas, as­se­verou Passos Co­elho, pro­me­tendo que uma crise como a que di­la­cera a co­li­gação «não vol­tará a acon­tecer» e que a «mai­oria está coesa e não dei­tará fora os sa­cri­fí­cios dos por­tu­gueses». Mi­guel Fras­quilho (PSD) não fez a coisa por menos e não viu se não «si­nais ani­ma­dores para o fu­turo», tanto no «plano fi­nan­ceiro como na eco­nomia real», in­di­ci­a­dores de que «al­guma coisa está a mudar», pro­fecia cor­ro­bo­rada por Telmo Cor­reia (CDS) que lhe juntou uma pro­cla­mação, ca­te­gó­rico: «que­remos diá­logo mas não vamos de­sistir».

«Não de­sis­timos do muito que está feito», re­petiu a mi­nistra da Jus­tiça, slogan re­to­mado pelo seu cor­re­li­gi­o­nário de par­tido e líder par­la­mentar Luís Mon­te­negro – «não es­tamos aqui para de­sistir», de­clarou –, en­quanto a Nuno Ma­ga­lhães (CDS-PP) coube a ta­refa de sos­segar as hostes, as­se­ve­rando que a «mai­oria ul­tra­passou as di­fi­cul­dades».

Der­ro­tados

Ora o que esta mal ama­nhada en­ce­nação dos par­tidos da mai­oria re­velou, no fim de contas, foi a sua pre­o­cu­pação ex­trema por dis­farçar as enormes fis­suras e con­tra­di­ções que a minam in­ter­na­mente. E foram essas fra­gi­li­dades que Je­ró­nimo de Sousa pôs em evi­dência ao su­bli­nhar «o es­tado de der­rota e de fa­lhanço» do Go­verno e da po­lí­tica de di­reita como o ele­mento mais re­le­vante da si­tu­ação pre­sente, não obs­tante «terem um go­verno, uma mai­oria, um Pre­si­dente da Re­pú­blica, o ca­pital amigo e in­cen­ti­vador (na­ci­onal e es­tran­geiro), os cen­tros de de­cisão da União Eu­ro­peia, uma co­mu­ni­cação so­cial do­mi­nante também amiga, um exér­cito de co­men­ta­dores e ana­listas que todos os dias pro­curam for­matar o pen­sa­mento dos por­tu­gueses».

E a ex­pli­cação para o que está a acon­tecer e para que se es­teja pe­rante um «Go­verno der­ro­tado e sem fu­turo», se­gundo Je­ró­nimo de Sousa, está no facto de «a causa funda da crise re­sidir nesta po­lí­tica e no me­mo­rando de agressão que trans­formou num in­ferno a vida de mi­lhões de por­tu­gueses».

À afir­mação de Passos Co­elho quanto à exis­tência de «si­nais en­co­ra­ja­dores», su­ge­rindo que o pior já passou e que uma es­pécie de novo ciclo es­taria aí a romper, re­agiu ainda Je­ró­nimo de Sousa, per­gun­tando frontal e di­rec­ta­mente: «Quer en­ganar quem?»

«Então não sa­bemos o que está in­di­ciado nesse pro­grama de ter­ro­rismo so­cial em que se quer sacar mais 4700 mi­lhões de euros aos tra­ba­lha­dores, aos seus di­reitos, às re­formas e pen­sões, aos ser­viços pú­blicos da saúde, da edu­cação», exem­pli­ficou, não es­con­dendo a sua in­dig­nação por o pri­meiro-mi­nistro, sa­bendo tudo isto, pa­pa­guear que «o pior já passou».

«É por estas e por ou­tras que os se­nhores não têm fu­turo, que este é um Go­verno der­ro­tado e ul­tra­pas­sado», con­cluiu o Se­cre­tário-geral do PCP.

 

 



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