Decisão de lutar
Em empresas bem diferentes, os trabalhadores tomam a mesma decisão: lutar pelo pagamento de salários justos a tempo e horas, contra a instabilidade e o perigo de encerramento e despedimento.
Com crise ou com lucros, patrões recusam pagar
Depois de a associação patronal do calçado (Apiccaps) ter recusado negociar aumentos salariais para 2013, tal como sucedera no ano passado, a Fesete/CGTP-IN e os sindicatos decidiram dirigir a reivindicação às empresas. No dia 13, um primeiro caso de discussão de propostas para um acordo de empresa ocorreu junto aos portões da Kyaia, em Guimarães.
Aqui situa-se a empresa-mãe do grupo de Fortunato Frederico, presidente da Apiccaps, que detém na totalidade ou em maioria mais doze empresas, a maior parte das quais está ligada à cadeia de valor do calçado – como referem o Sindicato do Calçado do Minho e Trás-os-Montes e a federação.
No comunicado conjunto que estas estruturas da CGTP-IN distribuíram aos trabalhadores, durante o plenário, no intervalo de almoço, são apresentados os números da injustiça na distribuição da riqueza criada pelo trabalho. De 2009 a 2011, a facturação cresceu 28 por cento. A despesa com as remunerações com os trabalhadores baixou, apesar de ter aumentado o seu número. Os lucros somaram quase 15 milhões de euros. «Para os excelentes resultados da empresa, muito têm contribuído o saber e o esforço dos trabalhadores, laborando longos períodos do ano no regime de 50 horas por semana, sem qualquer acréscimo na remuneração», o que dá ainda mais razão à apresentação de um Acordo de Empresa, para negociação com a administração.
Hoje os trabalhadores deverão ser chamados a pronunciarem-se sobre uma proposta concreta e o início do processo reivindicativo por melhores salários.
O PCP saudou a acção sindical de dia 13, na qual participou João Frazão, membro da Comissão Política do Partido, expressando solidariedade aos trabalhadores e estimulando-os na opção de luta pelo aumento de salários, que deve ter um momento alto na greve geral de 27 de Junho, como se refere na nota que a Direcção da Organização Regional de Braga divulgou à comunicação social.
Nos dias 11 e 12, com elevada adesão dos trabalhadores, ocorreu uma greve de 32 horas na Valorsul, contra os cortes e congelamentos dos salários e pelo cumprimento integral do Acordo de Empresa. Os trabalhadores opõem-se à privatização de uma empresa que dá lucros ao Estado (nove milhões de euros em 2011, mais quatro milhões pagos em impostos) e contestam a política de «austeridade». Os centros operacionais da empresa ficaram completamente parados e nenhum carro de resíduos sólidos fez descarga, informou o SITE CSRA. O sindicato da Fiequimetal/CGTP-IN tinha já revelado que os trabalhadores, nos plenários que aprovaram esta greve, decidiram participar na greve geral, dia 27.
Em atraso
Uma concentração junto à Tecniwood, no Parque Industrial de Sequeira, foi anunciada para terça-feira de manhã pela União dos Sindicatos de Braga. Os trabalhadores decidiram expressar assim o seu protesto, num momento em que têm em atraso três meses de salários e existe a ameaça de despedimento colectivo.
Na segunda-feira, de manhã, os trabalhadores da Sorel SA entraram em greve e concentraram-se à porta da empresa, em Lisboa (Chelas). O SITE CSRA, numa informação publicada pela Fiequimetal/CGTP-IN, explicou que este foi mais um passo na luta pelo pagamento dos salários em atraso (Março, Abril e Maio), pela apresentação de um plano de pagamento dos seis subsídios de férias e Natal, em dívida, e ainda pela manutenção dos postos de trabalho e pela viabilidade da empresa.
Meatex e TMG no Parlamento
A deputada do PCP pelo distrito de Braga questionou o Governo, na semana passada, sobre dois casos, que ameaçam o emprego de mais de duas centenas de trabalhadores.
Carla Cruz chamou a atenção para mais um despedimento colectivo, em curso na Têxtil Manuel Gonçalves (Vila Nova de Famalicão). Este visa cem trabalhadores da tecelagem, da fiação e da tinturaria, mas outras 50 pessoas foram despedidas em Setembro. O Grupo TMG visa liquidar aquela unidade fabril, num «processo deliberado de sangria da força produtiva, para abandonar esta área de negócio», alertou a deputada.
Na Meatex, no mesmo concelho, decorre um processo de recuperação, havendo notícias de salários e subsídios em atraso. Depois de o administrador de insolvência já ter despedido 60 trabalhadores, Carla Cruz sublinhou que o perigo, agora, é o encerramento definitivo, que irá conduzir mais 120 pessoas para o desemprego.