O exame da 4.ª classe
Na semana em que este Avante! se publica, mais de 103 mil crianças de nove e 10 anos terão pela primeira vez uma experiência que só os seus avós viveram.
Trata-se do regresso de um dos mais odiados elementos da escola do fascismo: o exame da 4.ª classe. Quase 40 anos depois, ei-lo que regressa, com a necessária nova roupagem: chama-se PFEB – Prova Final do Ensino Básico, abrange exames de Língua Portuguesa e Matemática e conta 25% da nota final.
Mas o essencial mantém-se: a concepção retrógrada de que uma prova de duas horas e meia pode sobrepor-se à avaliação contínua de um ano inteiro, e a pressão colocada às crianças, às famílias, aos professores e às escolas.
As crianças vivem este momento com muita ansiedade, agravada por decisões espatafúrdias do Governo: mais de metade dos alunos do 4.º ano – 50 mil – são obrigados a fazer o exame noutra escola que não a sua, em muitos casos noutra localidade, com professores que não conhecem, porque o exame tem que ser vigiado por docentes dos outros níveis de ensino. O que, além de tudo, obriga a que milhares de estudantes dos outros níveis de ensino percam dois dias de aulas neste final de ano lectivo.
Soube-se há dias que os alunos que vão fazer a PFEB terão de assinar um compromisso de honra em como não usarão telemóveis. Um «compromisso de honra» assinado por crianças de nove anos teria graça se não fosse tão grave. E tão triste.
O que o Governo apresenta como moderno (porque «habitua» as crianças à exigência e ao rigor) é uma prática pedagogicamente errada e exótica no plano europeu. Apenas quatro países têm exames no final do 1.º ciclo e apenas num, Malta, o exame conta para a nota final.
O Partido tem falado do regresso à escola de antes do 25 de Abril, da regressão social que o pacto de agressão quer impor, do facto de haver quem queira que as crianças e os jovens de hoje tenham piores condições de vida do que os seus pais. Pode parecer pouco, mas o regresso do exame da 4.ª classe é exemplo disso mesmo.
É também em nome da escola pública, do presente e do futuro das crianças e dos jovens que é indispensável correr com este Governo e com esta política.