O exame da 4.ª classe

Margarida Botelho

Na se­mana em que este Avante! se pu­blica, mais de 103 mil cri­anças de nove e 10 anos terão pela pri­meira vez uma ex­pe­ri­ência que só os seus avós vi­veram.

Trata-se do re­gresso de um dos mais odi­ados ele­mentos da es­cola do fas­cismo: o exame da 4.ª classe. Quase 40 anos de­pois, ei-lo que re­gressa, com a ne­ces­sária nova rou­pagem: chama-se PFEB – Prova Final do En­sino Bá­sico, abrange exames de Língua Por­tu­guesa e Ma­te­má­tica e conta 25% da nota final.

Mas o es­sen­cial mantém-se: a con­cepção re­tró­grada de que uma prova de duas horas e meia pode so­brepor-se à ava­li­ação con­tínua de um ano in­teiro, e a pressão co­lo­cada às cri­anças, às fa­mí­lias, aos pro­fes­sores e às es­colas.

As cri­anças vivem este mo­mento com muita an­si­e­dade, agra­vada por de­ci­sões es­pa­ta­fúr­dias do Go­verno: mais de me­tade dos alunos do 4.º ano – 50 mil – são obri­gados a fazer o exame noutra es­cola que não a sua, em muitos casos noutra lo­ca­li­dade, com pro­fes­sores que não co­nhecem, porque o exame tem que ser vi­giado por do­centes dos ou­tros ní­veis de en­sino. O que, além de tudo, obriga a que mi­lhares de es­tu­dantes dos ou­tros ní­veis de en­sino percam dois dias de aulas neste final de ano lec­tivo.

Soube-se há dias que os alunos que vão fazer a PFEB terão de as­sinar um com­pro­misso de honra em como não usarão te­le­mó­veis. Um «com­pro­misso de honra» as­si­nado por cri­anças de nove anos teria graça se não fosse tão grave. E tão triste.

O que o Go­verno apre­senta como mo­derno (porque «ha­bitua» as cri­anças à exi­gência e ao rigor) é uma prá­tica pe­da­go­gi­ca­mente er­rada e exó­tica no plano eu­ropeu. Apenas quatro países têm exames no final do 1.º ciclo e apenas num, Malta, o exame conta para a nota final.

O Par­tido tem fa­lado do re­gresso à es­cola de antes do 25 de Abril, da re­gressão so­cial que o pacto de agressão quer impor, do facto de haver quem queira que as cri­anças e os jo­vens de hoje te­nham pi­ores con­di­ções de vida do que os seus pais. Pode pa­recer pouco, mas o re­gresso do exame da 4.ª classe é exemplo disso mesmo.

É também em nome da es­cola pú­blica, do pre­sente e do fu­turo das cri­anças e dos jo­vens que é in­dis­pen­sável correr com este Go­verno e com esta po­lí­tica.



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