PCP debateu produção nacional no Porto

Uma questão de independência

O PCP pro­moveu, no âm­bito da cam­panha «Por uma po­lí­tica al­ter­na­tiva, pa­trió­tica e de es­querda», um de­bate sobre a de­fesa e va­lo­ri­zação da pro­dução na­ci­onal, no qual par­ti­ci­param Je­ró­nimo de Sousa, di­ri­gentes do Par­tido e eco­no­mistas.

O PCP sempre se bateu pela de­fesa da pro­dução na­ci­onal

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«Só pro­du­zindo as­se­gu­ra­remos a sa­tis­fação da nossa dí­vida. Só pro­du­zindo as­se­gu­ra­remos o em­prego e a ri­queza ne­ces­sária a uma vida com dig­ni­dade. Só pro­du­zindo as­se­gu­ra­remos o fu­turo dos nossos jo­vens. Só pro­du­zindo as­se­gu­ra­remos a con­ti­nui­dade desta his­tória de quase nove sé­culos, o fu­turo co­lec­tivo de uma pá­tria so­be­rana e in­de­pen­dente.» Foi com estas pa­la­vras que o Se­cre­tário-geral do PCP ter­minou a sua in­ter­venção no de­bate pro­mo­vido pelo PCP no Porto, no dia 9 de Abril, que teve como lema «pro­duzir mais para dever menos».

Antes, já Je­ró­nimo de Sousa tinha lem­brado que a de­fesa e va­lo­ri­zação da pro­dução na­ci­onal, li­gada à pró­pria so­be­rania e in­de­pen­dência do País, são, para o PCP, uma «ban­deira po­lí­tica que nunca dei­xámos de er­guer». E, para não ir mais atrás, re­cordou um ex­certo das con­clu­sões da Con­fe­rência Na­ci­onal do PCP «A Saída da Crise», re­a­li­zada em 1977: «O au­mento de pro­dução com a má­xima uti­li­zação dos re­cursos na­ci­o­nais é uma exi­gência im­pe­ra­tiva e pri­meira con­dição para o equi­lí­brio da ba­lança de pa­ga­mentos e a re­cu­pe­ração eco­nó­mica do País.»

A po­lí­tica se­guida pelos su­ces­sivos go­vernos foi em sen­tido con­trário, de­nun­ciou Je­ró­nimo de Sousa, re­al­çando que nas úl­timas dé­cadas a pro­dução na­ci­onal «es­teve sempre con­di­ci­o­nada, sub­me­tida e guiada pelos in­te­resses do grande ca­pital na­ci­onal». Basta, para o cons­tatar, «olhar para a his­tória re­cente do tra­jecto da pro­dução de bens es­sen­ciais em Por­tugal: dos ce­reais ao açúcar, do pes­cado, da pro­dução de ferro/​aço à me­ta­lo­me­câ­nica pe­sada, da nossa in­dús­tria mi­neira à in­dús­tria agro-ali­mentar».

O Se­cre­tário-geral do Par­tido de­nun­ciou ainda a farsa da «rein­dus­tri­a­li­zação» que o Go­verno diz de­fender, ao mesmo tempo que abre as portas ao des­man­te­la­mento e des­lo­ca­li­zação de grandes em­presas, como a CIMPOR; subs­creve con­tratos de con­cessão a mul­ti­na­ci­o­nais mi­neiras; pri­va­tiza os Es­ta­leiros Na­vais de Viana do Cas­telo. «Basta de pro­pa­ganda», exigiu o di­ri­gente co­mu­nista, acres­cen­tando que «qual­quer in­tenção séria» de aposta na pro­dução na­ci­onal «teria que co­meçar por re­cusar o pacto de agressão da troika e as suas gra­vosas e hu­mi­lhantes im­po­si­ções».

Romper com cons­tran­gi­mentos

A abrir o de­bate, Vasco Car­doso, da Co­missão Po­lí­tica, lem­brou que, em 1986, a agri­cul­tura e a in­dús­tria re­pre­sen­tavam, no seu con­junto, cerca de 38 por cento do PIB na­ci­onal, ao passo que em 2012 não ia além dos 17 por cento. Ou seja, re­alçou o di­ri­gente do PCP, «no pe­ríodo pos­te­rior à en­trada de Por­tugal na CEE estes dois sec­tores re­du­ziram o seu peso no PIB em cerca de 55 por cento», ao con­trário do en­di­vi­da­mento ex­terno, que «cresceu des­me­su­ra­da­mente». Com este en­di­vi­da­mento do País «ga­nharam e ga­nham os bancos da Ale­manha, da In­gla­terra, da Es­panha, da Ho­landa, da França e também de Por­tugal».

Pedro Car­valho, eco­no­mista e pri­meiro can­di­dato da CDU à Câ­mara Mu­ni­cipal do Porto, re­cordou os su­ces­sivos e cres­centes cons­tran­gi­mentos da in­te­gração de Por­tugal na CEE, pri­meiro, e na UE, de­pois: «A li­be­ra­li­zação dos mer­cados foi logo se­guida pela perda da so­be­rania or­ça­mental com o Pacto de Es­ta­bi­li­dade, re­for­çada hoje com o Tra­tado Or­ça­mental, a perda de so­be­rania mo­ne­tária, com o euro, re­for­çada hoje com o “Pacto para o Euro Mais” e o Me­ca­nismo de Es­ta­bi­li­dade Eu­ropeu.» Re­al­çando que a rup­tura com o pro­cesso de in­te­gração ca­pi­ta­lista eu­ro­peia tem que estar nas pri­o­ri­dades da luta dos tra­ba­lha­dores e dos povos, Pedro Car­valho ter­minou com a con­vicção de que «temos que der­rotar a União Eu­ro­peia para cons­truir o fu­turo».

O eco­no­mista Eu­génio Rosa re­la­ci­onou a de­sin­dus­tri­a­li­zação do País e o aban­dono da agri­cul­tura com o facto dos sec­tores es­tra­té­gicos es­tarem nas mãos de «meia dúzia» de grupos eco­nó­micos, en­quanto que Ale­xandre Abreu, também eco­no­mista, es­ta­be­leceu a li­gação entre a vi­o­lência «sem pre­ce­dentes» da ac­tual ofen­siva com a «con­ju­gação de fac­tores par­ti­cu­lar­mente des­fa­vo­rá­veis», de que são exem­plos a com­po­sição do Go­verno e da Pre­si­dência da Re­pú­blica e o apoio do ca­pital fi­nan­ceiro in­ter­na­ci­onal e das ins­tân­cias su­pra­na­ci­o­nais que o re­pre­sentam.

Vec­tores fun­da­men­tais

Na sua in­ter­venção, Je­ró­nimo de Sousa adi­antou aqueles que são, para o PCP, os vec­tores es­tru­tu­rantes de uma po­lí­tica de pro­dução na­ci­onal. Um pri­meiro é, desde logo, o «pro­ta­go­nismo do Es­tado, como ele­mento ab­so­lu­ta­mente vital para a di­na­mi­zação, re­no­vação e de­fesa da pro­dução». Este pro­ta­go­nismo seria ma­te­ri­a­li­zado com a as­sumpção por parte do Es­tado do papel de «de­fi­nidor e ori­en­tador das li­nhas mes­tras de uma au­tên­tica po­lí­tica agrí­cola, de pescas e in­dus­trial»; de «ga­rante de ade­quados preços dos fac­tores de pro­dução» e ainda de «ti­tular e gestor de ac­tivos es­tra­té­gicos na es­fera pro­du­tiva e gestor dos fundos pú­blicos».

A al­te­ração dos con­di­ci­o­na­lismos da in­te­gração eu­ro­peia é outro destes vec­tores, a par da ne­ces­sária «de­fi­nição de uma es­tra­tégia e de um plano para a pro­dução na­ci­onal que as­se­gurem as ne­ces­si­dades bá­sicas dos por­tu­gueses e do mer­cado in­terno» e po­ten­ciem, in­ten­si­fi­quem e di­ver­si­fi­quem as ex­por­ta­ções. No que res­peita pre­ci­sa­mente à po­lí­tica de ex­por­tação, esta não de­verá ser de­ter­mi­nada pela «des­va­lo­ri­zação in­terna» mas sim por «efec­tivos acrés­cimos de pro­du­ti­vi­dade». A re­va­lo­ri­zação do mer­cado in­terno, igual­mente es­sen­cial, seria pro­ces­sada através do au­mento de sa­lá­rios e pen­sões e pelos con­sumos pú­blicos.

A es­tra­tégia pro­du­tiva que o PCP de­fende de­verá as­se­gurar quer a sus­ten­ta­bi­li­dade das forças pro­du­tivas e dos re­cursos como as pro­du­ções es­tra­té­gicas: ali­mentos, me­di­ca­mentos, ferro/​aço, ci­mento, pro­dutos quí­micos de base. 



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