Thatcher e o «objectivo estratégico»

Ângelo Alves

Margaret Thatcher, ex-primeira ministra britânica, morreu. O seu enterro realizou-se ontem. A polémica sobre o seu funeral estalou na sociedade britânica, e com razão. A «dama de ferro» era tudo menos uma figura consensual. Ela é idolatrada pelos círculos mais reaccionários, pelo grande capital e a coroa britânica. Mas do outro lado não é assim. Para os trabalhadores, os pobres, os mais desfavorecidos a «dama de ferro» não é um exemplo a seguir. A morte de um ser humano é sempre motivo de pesar, tal não está em causa. Mas isso não pode apagar o passado e muito menos servir para fazer a apologia de uma ideologia radical neoliberal com traços fascizantes.

Thatcher movia-se por uma ideologia profundamente reaccionária, anti-social, autoritária, repressiva, nacionalista, imperialista e colonial. Quem faleceu e vai hoje a enterrar é a mesma pessoa que enquanto ministra da Educação em 70-74 aboliu o leite escolar para as crianças entre os 7 e os 11 anos; fez da década de 80 um pesadelo para os trabalhadores e o povo britânico; confrontada com a greve dos mineiros em 1984 destacou 20 000 polícias para a reprimir de forma brutal; declarou guerra ao movimento sindical, lhe «partiu a espinha» e quase aboliu o direito à greve. Thatcher privatizou tudo o que havia para privatizar na Grã-Bretanha, aboliu na prática, no início da década de 80, o salário mínimo, e fez triplicar o desemprego em apenas três anos do seu governo. A «dama de ferro» é a da guerra colonial das Malvinas, a do «Poll Tax» (o imposto baseado no princípio de que os que menos ganham têm de pagar proporcionalmente mais) e a da tentativa, derrotada dentro do seu próprio partido, de abolir os sistemas públicos de Saúde e Educação.

Foi esta mulher que faleceu e vai hoje a enterrar, não outra. É por isso muito elucidativo que na Assembleia da República PSD e CDS/PP tenham apresentado um voto de pesar que afirma que Thatcher «é seguramente uma referência política para toda a Europa» e que «a melhor forma de a homenagear será honrar o seu mandato e aprender com a sua experiência e assumir o seu património de liderança com determinação e objectivo estratégico» e que o PS, sim o PS, o tenha votado favoravelmente. Por aqui se vê o quão próximos estão no «objectivo estratégico».



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