de Álvaro Cunhal
A causa de uma vida
Na sessão pública de apresentação das iniciativas que a CGTP-IN vai realizar, integradas na celebração do centenário do nascimento de Álvaro Cunhal, assinalou-se que este dedicou a vida à causa dos trabalhadores.
Os trabalhadores estiveram no centro da reflexão e da acção de Álvaro Cunhal
Ao fim da tarde de dia 4, quinta-feira, no auditório da sede da Intersindical Nacional, reuniram-se actuais e antigos dirigentes da central e das suas estruturas, bem como diversas personalidades e representantes de organizações, instituições e partidos políticos (Partido Ecologista Os Verdes e PCP).
Este foi o mesmo local onde, a 25 de Outubro de 1995, Álvaro Cunhal interveio num colóquio que assinalou o 25.º aniversário da central, como foi recordado por Fernando Gomes, responsável na Comissão Executiva da CGTP-IN pelo Departamento de Cultura e Tempos Livres, quando falou sobre as iniciativas incluídas no plano de actividades de 2013.
Uma dessas iniciativas é precisamente a reedição daquela intervenção de Álvaro Cunhal, anunciada para o mês de Outubro, quando serão também assinalados os 43 anos da fundação da Inter. Mas foi já entregue, aos participantes na sessão de dia 4, uma pré-publicação.
Para distribuição em Novembro ou Dezembro, a central prepara a edição de um número especial do boletim «CGTP Cultura». «Convidámos Domingos Lobo, poeta, ensaísta, escritor, colaborador regular do “CGTP Cultura”, para coordenar este número especial, desafiando um conjunto de autores a escreverem sobre alguns dos aspectos mais marcantes na obra artística e literária de Manuel Tiago», informou Fernando Gomes, adiantando que, entre os convidados, estão Augusto Baptista, Francisco Duarte Mangas, Modesto Navarro, Sérgio de Sousa, Glória Marreiros, Urbano Tavares Rodrigues, José Colaço Barreiros, Jorge Leitão Ramos, Manuel Gusmão e Manuel Dias Duarte.
Ilustrado com imagens oriundas do arquivo da CGTP-IN, o boletim terá uma tiragem de seis mil exemplares e será igualmente publicado na Internet.
A actualidade do pensamento, o empenho dedicado ao estudo do sindicalismo, a forma como abordou a vida, as dificuldades e a luta dos trabalhadores, mas também por se tratar de um combativo e corajoso antifascista, foram razões referidas como «mais do que suficientes para que a CGTP-IN, herdeira de um movimento operário e sindical com um percurso histórico tão meritório quanto aquele que temos o privilégio de representar, tenha decidido incluir no seu plano de actividades para 2013, ano em que se comemora o centenário de Álvaro Cunhal, um conjunto de iniciativas que visam, precisamente, evocar a memória de um homem que dedicou a sua vida à causa dos trabalhadores».
Arménio Carlos, Secretário-geral da CGTP-IN, começou por referir Álvaro Cunhal como «figura maior, que em muito ultrapassa e extravasa as fronteiras partidárias e que rompe com concepções predefinidas da intervenção para a transformação social» e «influenciou de forma indelével o rumo de Portugal no último século». Ao decidirem promover uma homenagem «profundamente sentida pelo movimento sindical unitário», a Comissão Executiva, o Conselho Nacional e o Plenário de Sindicatos da CGTP-IN pretenderam assinalar «o papel que Álvaro Cunhal teve no desenvolvimento de uma estratégia para a construção de um movimento sindical com características únicas».
Arménio Carlos realça uma marca que perdura
Na década de 40 do século passado, «estando o País mergulhado numa longa noite fascista, Álvaro Cunhal, sempre integrado num trabalho colectivo, partiu da realidade concreta, recusou aplicações esquemáticas e desenvolveu uma tese que, à semelhança da prática de uma vida de compromisso com princípios, valores e causas», «marca, até aos nossos dias, este movimento sindical», salientou o Secretário-geral da CGTP-IN.
Na sessão de dia 4, Arménio Carlos lembrou o importante papel que Álvaro Cunha teve «na discussão complexa e, por vezes, até extremada, que levou à sábia decisão de mobilizar os trabalhadores para conquistar as direcções dos sindicatos criados pelo regime fascista», uma decisão «indissociável da ligação aos locais de trabalho e da criação de comissões sindicais unitárias, enquanto alicerces de resposta organizada aos problemas dos trabalhadores e embrião de um trabalho de base indispensável para a concretização do objectivo mais vasto que se pretendia atingir».
«Ao contrário das orientações de diversos quadrantes políticos por essa Europa fora», Álvaro Cunhal sempre defendeu que «os trabalhadores precisavam em Portugal de um movimento sindical profundamente unitário, composto por homens e mulheres que, independentemente das suas simpatias partidárias ou religiosas, fossem acima de tudo pessoas sérias, respeitadas e credibilizadas junto dos seus camaradas de trabalho e dedicadas à causa sindical».
Tal visão, «portadora de esperança e de confiança na capacidade dos trabalhadores e trabalhadoras tomarem nas suas mãos os destinos das suas organizações», levou a «uma maré cheia de lutas, em locais de trabalho muito distintos, nas áreas dos lanifícios, da cortiça, da agricultura, dos serviços, bem como na cintura industrial de Lisboa». «Foi a coragem de decidir, foi a coragem de, naquelas condições, agir e lutar por melhores condições de vida e de trabalho, recusar “as inevitabilidades” daquele tempo, que contribuiu decisivamente para a conquista de dezenas de sindicatos por direcções da confiança dos trabalhadores, nomeadamente na década de sessenta», sublinhou Arménio Carlos.
Unidade
com princípios
O embrião assim lançado deu novos frutos, numa resposta colectiva que se traduziria na criação da Intersindical, em Outubro de 1970. Tal criação, notou o Secretário-geral da Inter, «não surge por decreto ou por decisão de cúpulas partidárias, mas da vontade dos trabalhadores de construir uma central sindical livre e autónoma, assente em princípios estruturantes da solidariedade, da democracia e da independência»; «resulta da necessidade de valorizar e dignificar os trabalhadores enquanto produtores de riqueza e protagonistas da luta contra a alienação e exploração a que o fruto do seu trabalho está sujeito». Trata-se de «um movimento sindical de massas, cuja fonte de vitalidade e força está naqueles que o constituem, constroem, rejuvenescem e reforçam todos os dias», e de «um movimento sindical de classe que, respondendo às necessidades imediatas, assume como objectivo central “a luta de classes como motor na evolução histórica da humanidade e do fim da exploração do homem pelo homem”, lutando pelo desenvolvimento do País, pela emancipação cívica, económica, social e cultural dos trabalhadores».
Desta natureza de classe da CGTP-IN «resulta a necessidade de assumir um conjunto de princípios, indissociáveis e interdependentes». Arménio Carlos referiu, em especial, o princípio da unidade, para sublinhar que «o apelo de Álvaro Cunhal para a consolidação da unidade do movimento sindical unitário adquire ainda uma maior relevância quando, a convite da Intersindical, refere, no 1.º de Maio de 1974: “Estamos certos de que esta unidade se reforçará na acção, na luta, nas iniciativas das massas populares. Unidade dos trabalhadores. Unidade no povo. Unidade de comunistas, socialistas, católicos, liberais (a frente unitária que vem do tempo da ditadura), unidade de todos sem excepção que, nesta hora decisiva para o futuro de Portugal, querem lutar para consolidar os resultados históricos alcançados com o movimento do 25 de Abril.”»
Esta ideia de unidade, disse Arménio Carlos, «reconhece e incorpora a pluralidade do mundo laboral e, alicerçada na acção em defesa de interesses comuns, impõe o combate a todas as tentativas de ingerência, como condição para o reforço dessa mesma unidade». Assinalou ainda que, «num momento em que o sindicalismo de classe se credibiliza e alarga a sua influência, não é por acaso que se acentua a ofensiva do capital e do poder político, nomeadamente com a crescente ingerência no direito à autonomia e funcionamento da organização interna dos sindicatos».