O povo está na rua!
Dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas, domingo, 3, em mais de uma dezena de cidades da Bulgária para condenar a corrupção da elite política e económica governante.
Búlgaros lutam por condições dignas de vida
A profunda crise social e política em que o país mais pobre da União Europeia está mergulhado há muito que se vinha manifestando.
Embora a causa próxima das poderosas manifestações iniciadas faz um mês seja o incomportável aumento da electricidade, a verdade é que logo surgiram palavras de ordem contra a corrupção e o clientelismo político, contra a máfia e por mudanças efectivas no regime político.
Depois de os persistentes protestos, quase diários, terem levado à demissão do governo conservador de Boiko Borisov, o presidente da República, Rossen Plevneliev, anunciou, dia 28, no Parlamento, a convocação de eleições legislativas antecipadas para 12 de Maio.
Procurando apaziguar os manifestantes, Plevneliev garantiu que, até lá, um governo de gestão aplicará medidas já previstas, como o aumento das pensões em nove por cento.
Além disso propôs a constituição de um conselho com representantes de vários sectores da sociedade para seguir a acção do governo. Todavia, as consultas iniciadas nesse sentido fracassaram já que os organizadores mais destacados dos protestos recusam sentar-se à mesa com conhecidos empresários.
À agência Reuters, Anguel Slavchev, um dos líderes populares, declarou que «continuaremos a lutar até ao fim, não negociaremos com oligarcas».
Escapar à miséria
Contudo, sem um programa definido ou uma organização política, os sucessivos movimentos populares de protesto têm-se esgotado e dispersado antes de lograrem qualquer alteração substancial no rumo da governação.
Ao mesmo tempo, as insistentes políticas anti-sociais, que reduzem a população à miséria, são fonte permanente de descontentamento e revolta.
Num país onde a pensão mínima é de 75 euros, o salário mínimo de 150 euros e o médio pouco acima dos 350 euros, há ainda assim 20 por cento da população que estão abaixo do limiar da pobreza (60% do rendimento mediano), ou seja, sobrevivem com um rendimento mensal inferior a 120 euros.
De resto, o balanço dos 24 anos desde a restauração do capitalismo em 1989 só pode comprazer à pequena elite que se apoderou dos meios de produção e do poder de Estado.
Neste período, a Bulgária foi sangrada pela emigração de mais de um milhão e meio de pessoas. Reduzida a sete milhões de habitantes, as condições de vida são de tal modo difíceis que um terço dos búlgaros manifesta o desejo de procurar um futuro no estrangeiro.
Esta realidade, que contrasta com os elevados índice de desenvolvimento humano alcançados sob o regime socialista, resulta em grande parte da subjugação do país aos ditames da União Europeia.
No campo energético, por exemplo, que foi o detonador da presente vaga de protestos, antes da entrada na UE, em 2007, a Bulgária tinha uma produção excedentária que lhe permitia exportar electricidade para países vizinhos.
Todavia, uma das condições impostas para a adesão foi precisamente o encerramento de duas centrais nucleares e a suspensão da construção de uma terceira, que alegadamente constituiriam uma ameaça para a segurança da Europa. E foi assim que se voltou às centrais a carvão para produzir electricidade.