Comentário

Solidariedade com o povo colombiano

Maurício Miguel

Image 12641

Parte de uma diversa, rica e intensa actividade do PCP no Parlamento Europeu (PE), a solidariedade com outros povos assume contornos concretos inseparáveis e ao mesmo tempo insubstituíveis da acção mais geral do Partido da classe operária e dos trabalhadores portugueses. A luta de outros povos é também a luta do povo português. Os sucessos e as derrotas do nosso povo reflectem-se nas condições de luta de outros povos. É pois comum e regular a participação em delegações e encontros oficiais, assim como a participação ou organização de iniciativas de solidariedade com outros povos em luta. Uma intervenção que é única no espectro político-partidário português e do próprio PE e por isso insubstituível.

Tendo em conta estes princípios, organizámos recentemente uma iniciativa conjunta com a organização social e política Marcha Patriótica, da Colômbia, tendo como objectivo denunciar a falta de garantias políticas para a oposição neste país. Ou seja, defender o direito básico de ser oposição sem ameaças de morte, sem a prisão ou assassínio de militantes, activistas políticos, sindicalistas e camponeses – uma prática de ontem e de hoje dos grupos paramilitares ligados ao exército e ao próprio governo(1) – e ao mesmo tempo reivindicar o direito da oposição à sua organização e à expressão pública das suas ideias e propostas sem estigmatizações de terroristas, narcotraficantes ou ambas.

Conflito armado com mais de 50 anos

Ao mesmo tempo que deputados, assistentes, exilados políticos, emigrantes colombianos e de outras nacionalidades se reuniam para conhecer melhor a Marcha Patriótica – que o Partido Comunista Colombiano integra – e dar visibilidade à exigência básica do direito de oposição, em Havana, Cuba, bem longe da Colômbia, do povo colombiano, das suas organizações sociais e políticas e dos problemas concretos que estão na origem do conflito, prosseguem as negociações para um acordo de paz entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-EP). As expectativas de sucesso são moderadas e razões não faltam para que assim seja. Não é a primeira vez que um governo colombiano aceita negociar um acordo de paz com as FARC-EP. E não seria a primeira vez que, estando um acordo assinado, o governo o violaria, desencadeando repressão, perseguições políticas, assassinatos. Ao mesmo tempo que o governo de Juan Manuel Santos – como outros governos colombianos o fizeram anteriormente – se diz empenhado na paz, mantém toda a máquina de guerra em acção, ameaças e expulsões de terras. Os amigos e camaradas recordaram que o conflito colombiano é em primeiro lugar económico, social e político. A Colômbia é um país de imensas riquezas naturais, que tem sido transformado pelos monopólios da energia, do sector mineiro, do agronegócio e pela oligarquia local num campo de batalha onde se enfrentam os seus interesses (expressos pela acção do exército e dos paramilitares) e a resistência dos trabalhadores e camponeses colombianos ao saque das suas riquezas e da sua soberania. De forma simples mas não simplista, um dos intervenientes explicava as razões do conflito: quando um monopólio chega a um território, expulsa a todos quantos façam frente aos seus interesses. A muitos camponeses resta-lhes ficar, lutar pelos seus direitos e mesmo assim serem expulsos, ou assassinados, ou então partir para o «monte» (as montanhas), juntando-se à guerrilha.

Na Colômbia não falta também a mão armada do imperialismo. Através do Plano Colômbia – que, como bem sublinhou um dos intervenientes, «da Colômbia só tem os mortos» – e com a desculpa do combate ao narcotráfico, os EUA armam e treinam o exército colombiano, instalando ou utilizando bases militares, desenvolvendo acções de apoio aos monopólios que ameaçam toda a região da América Latina. Sentindo o pulsar progressista, soberano e anti-imperialista na América Latina, os EUA e a oligarquia colombiana aprofundam a sua aliança estratégica. A UE (com quem a Colômbia está a celebrar um tratado de livre comércio) alia-se a esta reserva estratégica do imperialismo na América Latina. A resolução do conflito colombiano não depende apenas da assinatura de um acordo de paz. A resolução da questão central do processo continua a depender dialecticamente da correlação de forças entre quem luta por uma solução para os problemas que estão na origem do conflito e o poder do imperialismo e da oligarquia colombiana instalada no governo. Essa questão está também em cima da mesa em Havana, Cuba, e na ordem do dia das organizações que defendem os interesses e anseios do povo colombiano.

___________

(1) Vários responsáveis políticos do governo do anterior presidente colombiano, Álvaro Uribe Velez, estão acusados e outros estão presos, com acusações graves de ligação ao paramilitarismo e ao narcotráfico também contra o ex-mandatário



Mais artigos de: Europa

Resistência firme à barbárie

Trabalhadores gregos dos vários sectores manifestaram-se, dia 20, em 70 cidades, durante mais uma jornada de greve geral de 24 horas que paralisou o país.

Protesto anticrise

Cerca de 40 mil trabalhadores dos vários sectores responderam ao apelo dos sindicatos belgas, manifestando-se, dia 21, em Bruxelas, contras as medidas de austeridade para 2013.

Jogo empatado

A coligação de Luigi Bersani venceu por uma pequena margem as eleições legislativas realizadas domingo e segunda-feira, 24 e 25, em Itália. O centro-esquerda foi o mais votado quer para a Câmara de Deputados (10 047 507 votos e 29,54%) quer para o Senado (9 686 398 votos e 31,63...

Luta prossegue

Dezenas de milhares de búlgaros voltaram a manifestar-se, no domingo, 24, em todo o país contra a pobreza e a corrupção. Segundo a France Press, realizaram-se protestos em 33 cidades. Na segunda maior cidade do país, Plovdiv, no Sul, foi queimado um texto da Constituição....

PCP recusa perdas

Os deputados do PCP no Parlamento Europeu recusam qualquer perda de eleitos portugueses no Parlamento Europeu, tal como prevê o relatório aprovado pela Comissão dos Assuntos Constitucionais sobre o número de deputados a atribuir a cada país nas eleições de 2014. Em nota...