A Síria não se vergará
O presidente sírio, Bachar al-Assad, deixou claro, no domingo, 6, que o conflito sangrento não opõe o governo à oposição, mas a Síria aos seus inimigos, que desejam a divisão do país.
Presidente sírio rejeita demitir-se
Num discurso transmitido pela televisão pública, o chefe de Estado rejeitou a ideia de abandonar o poder, considerando que qualquer mudança deve realizar-se por via constitucional.
Assad, citado pela agência France Press, frisou que o que está em causa é a pátria contra os seus inimigos, o povo contra os assassinos, e apelou ao diálogo nacional, para o qual, salientou, até agora não se encontraram parceiros, aludindo à recusa da chamada «oposição» de participar em negociações.
No entanto, para que este diálogo se inicie o presidente coloca como condições que os países implicados se comprometam a suspender o financiamento de armamento e que os grupos armados cessem as operações terroristas. «As nossas forças cessarão de seguida imediatamente as operações militares, mantendo o direito de responder».
«Os países da região e do mundo têm de deixar de financiar os rebeldes armados», disse Assad, vincando as excepções de Rússia, China e Irão, a quem agradeceu por não interferirem no conflito interno e «lutarem contra a ingerência» dos países ocidentais e árabes que participam numa «conspiração internacional».
Só depois o governo sírio se propõe realizar uma conferência nacional com a participação de todos os partidos. Esta conferência será incumbida de redigir uma nova Constituição para ser submetida a referendo, enquanto um novo parlamento e um novo governo emergirão das urnas.
«Poderemos nós dialogar com bandos que recebem ordens do estrangeiro? (…) Dialogaremos com os donos, não com os escravos», afirmou ainda Assad, notando que as suas forças combatem terroristas ligados à Al-Quaida, financiados e armados pelo estrangeiro.
«Quereis que dialoguemos com marionetas do Ocidente, que as fabricou e lhes escreve os discursos? É melhor discutir com o original e não com pessoas que desempenham um papel no estrado da cena internacional». «Dialogaremos com quem tenha princípios de patriotismo e não queira vender o país aos inimigos».
Assad considerou que o país enfrenta «um estado de guerra em todos os sentidos do termo, uma agressão exterior mais mortífera e perigosa que uma guerra convencional, conduzida por alguns sírios e numerosos estrangeiros». Mas «a Síria é mais forte do que os seus inimigos e vai dar-lhes uma lição».
Acusando o Ocidente de ter fechado a porta ao diálogo, «porque está habituado a dar as ordens, enquanto nós exercemos a nossa soberania, a nossa independência e a nossa liberdade de decisão», Assad rejeitou o termo «revolução» utilizado pelos rebeldes: «Será uma revolução e serão eles revolucionários? São um bando de criminosos».
Ao invés, no seu discurso proferido da Casa da Cultura e das Artes, no centro de Damasco, onde foi recebido por sala repleta de apoiantes, Assad apelou «a uma revolução do povo, não uma revolução importada do estrangeiro, para o bem do povo e não contra os seus interesses».
Imperialismo aperta o cerco
Sem surpresa, a «oposição» congregada na denominada «Coligação Nacional Síria» rejeitou no próprio dia a «solução pacífica» apresentada pelo presidente Assad, insistindo em manter o conflito até que o chefe de Estado se demita.
Apoiando esta posição belicosa, o chefe da diplomacia britânica, William Hague, veio a terreiro acusar presidente sírio de «hipocrisia», sentenciando que as suas «promessas vãs de reforma não enganam ninguém».
Entretanto, Israel fez saber que vai erguer um muro de segurança ao longo da fronteira com a Síria, semelhante ao que construiu na Palestina e no Egipto. A construção desta linha de segurança electrificada foi justificada pelo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, com a necessidade de protecção do Estado hebraico contra «infiltrações e terrorismo».
Na verdade, o governo israelita pretende com esta infra-estrutura consolidar a anexação dos Montes Golã – que continuam a ser reivindicados por Damasco – a qual nunca foi reconhecida pela comunidade internacional.
Por seu turno, tropas norte-americanas iniciaram no sábado, 5, a instalação de mísseis «Patriot» na Turquia, alegadamente com o objectivo de ajudar o país a defender-se contra quaisquer possíveis ameaças da vizinha Síria.
Para efectuar a operação, que conta com a colaboração de tropas alemãs e holandesas, o governo norte-americano decidiu enviar 400 militares para a Turquia, que vão ficar estacionados na base de Gaziantep, a apenas 50 quilómetros a Norte da fronteira síria. Os efectivos alemães ficam estacionados em Kahramanmaras, a cerca de 100 quilómetros a Norte da Síria, e os holandeses em Adana, a cerca de 100 quilómetros a Oeste da fronteira com aquele país.