A verdadeira face da Saúde privada
A situação actual dos hospitais de Braga e de Guimarães é um retrato do que significa verdadeiramente a privatização da prestação dos cuidados de saúde que o Governo pretende generalizar.
São muitos os motivos de queixa dos hospitais privados
O PSD e o CDS chumbaram na Assembleia da República, no dia 19, o pedido de audição ao ministro da Saúde proposto pelo PCP. O objectivo era conhecer melhor a situação do Hospital de Braga, cuja gestão está entregue ao Grupo Mello. Nos fundamentos do requerimento, lembrava-se a recusa do ministro em responder a uma questão levantada por um deputado do PCP relativamente à situação daquela parceria público-privada e à reavaliação que o Governo anunciou.
Na base do pedido de audição ao ministro Paulo Macedo estava também a necessidade de esclarecer as notícias vindas a público recentemente que davam conta da «(aparente) situação aflitiva por que está a passar o Grupo Mello na administração do Hospital de Braga, chegando a admitir a possibilidade de um cenário de falência», realça o PCP num comunicado da Direcção da Organização Regional de Braga (DORB) datado de dia 20. Para o Partido, o Grupo Mello «dá indícios de querer renegociar a parceria com o Estado, para obter melhores resultados financeiros».
Entretanto, sublinha o PCP, «continua a degradação dos serviços de saúde prestados aos utentes» e avolumam-se as «queixas e reclamações»: «Dos que, já depois de estarem no bloco operatório, vêm as cirurgias canceladas. Dos que, impacientemente, aguardam consultas de urgência que nunca mais chegam. Dos que vão a uma simples consulta e acabam sendo notificados para pagar exames de que nunca ouviram falar.»
Também o descontentamento dos profissionais não cessa de aumentar, garante o Partido, que fala em «metas impossíveis», de médicos a fazer de maqueiros, de quem receie não receber o salário no fim do mês e de fornecedores que não entregam material porque o hospital «não paga e acumula dívidas».
A DORB lembra que a situação do hospital é tal que o gestor público da PPP concluiu o seu relatório de 2011 com uma avaliação «globalmente insatisfatória». Assim, não se compreende a decisão dos partidos da maioria de obstaculizar a audição ao ministro da Saúde.
Situação dramática em Guimarães
No dia 14, o deputado do PCP no Parlamento Europeu, João Ferreira, encontrou-se com uma delegação de trabalhadores administrativos do Hospital Privado de Guimarães – AMI, que lhe permitiu tomar conhecimento da situação dramática em que estes se encontram. Com os salários em atraso desde Setembro, tal como o subsídio de férias, os trabalhadores têm legítimas inquietações quanto ao futuro.
Mas as preocupações dos trabalhadores estendem-se também ao próprio futuro daquela unidade de Saúde, tendo a delegação que se encontrou com o deputado do PCP revelado que muitos fazem horas a mais e mudanças de turno apenas para garantir a viabilidade do Hospital, sabendo à partida que não serão devidamente compensados por isso. A qualidade do serviço está igualmente em causa, revelaram os trabalhadores. São cada vez mais os serviços que deixam de funcionar por falta de pessoal qualificado.
Para o PCP, o prolongamento desta situação é «inadmissível», pois a unidade continua a gerar receitas. O falado interesse do Grupo BES-Saúde na aquisição do hospital demonstra a sua viabilidade.