Jerónimo de Sousa alerta para ano difícil mas traça destino ao Governo

Tarde ou cedo será derrotado

O Secretário-geral do PCP advertiu que 2013 «vai ser um ano pior», por aquilo que está contido no OE, mas mostrou-se convicto de que os «os portugueses que lutam e sofrem», «aqueles que acreditam que é possível uma vida melhor em Portugal», já «não reconhecem legitimidade» ao Governo para continuar esta política e, por isso, mais tarde ou mais cedo, este «será derrotado».

Neste Natal os portugueses e o País estão mais pobres

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Jerónimo de Sousa falava sexta-feira no debate quinzenal com o primeiro-ministro, a quem transmitiu o profundo repúdio pelas consequências da sua política, particularmente visíveis nesta época que «deveria ser de festa mas que o Governo transformou em dias cinzentos, amargos e sem esperança».

Ou seja, os portugueses sabem que apesar de hoje estarem «a fazer sacrifícios brutais, na perspectiva de que pudesse ser melhor para o ano», afinal isso não vai acontecer e «para o ano vai ser pior devido a esta política», considerou o líder comunista, depois de ter feito notar a Passos Coelho que «os problemas e os sentimentos hoje prevalecentes na sociedade portuguesa» estiveram arredados da sua intervenção inicial.

Afirmou mesmo que a realidade tinha passado «ao lado» do discurso do chefe do Governo, facto que lamentou, tanto mais que este era o último debate quinzenal do ano, havendo, por conseguinte, a expectativa de que fosse por aquele aproveitado para um «certo balanço» e para o «apontar de perspectivas».

Figueira brava

Desmontada por Jerónimo de Sousa foi entretanto a afirmação do primeiro-ministro proferida há 15 dias de que a sua política estaria a «lançar as raízes de uma sociedade mais justa», ideia que retomaria no debate falando em «sementes». Tais sementeiras darão «tantos frutos como uma figueira brava», ironizou o líder comunista, antes de pegar no mote para se interrogar sobre que «sociedade mais justa» é essa afinal que «faz da destruição do emprego, da diminuição dos rendimentos do trabalho as principais medidas de ajustamento económico»

«Que sociedade de justiça é essa que promove e impõe a lei da selva nas relações laborais, desprotegendo a parte mais fraca, precarizando o trabalho como regra, o trabalho forçado e não pago, que corta nos direitos, que reduz a segurança no emprego, enfraquece a política social no desemprego, que pela quinta vez desde que é governo se apressa a alterar o Código do Trabalho?», inquiriu Jerónimo de Sousa.

Governo derrotado

«Neste Natal não são apenas os portugueses que pessoalmente estão mais pobres», constatou, por outro lado, o Secretário-geral do PCP, sublinhando que é também «o próprio País, com a venda ao desbarato do seu património» e com a destruição das «próprias funções do Estado».

Jerónimo de Sousa acusou ainda o primeiro-ministro de ter feito uma «opção de fundo», colocando-se «do lado dos mais fortes, dos poderosos, dos que querem mandar neste País, enquanto quem vive do seu ordenado dos seus pequenos rendimentos, esses, estão condenados com esta política».

Entendendo que este é um Governo derrotado, manifestou-se confiante de que os portugueses não dirão «que se lixe as eleições», como há tempos disse Passos Coelho, mas que «vão dizer um dia que se lixe o PSD e o CDS pela política que estão a fazer ao País e aos portugueses».

Anticomunismo serôdio

Passos Coelho, na resposta, reconheceu que este ano terá sido de «enormes dificuldades para as empresas e para as famílias», afirmando hipocritamente saber «o preço que estamos todos a pagar». Disse ainda concordar com Jerónimo de Sousa no que toca à constatação de que «não estamos todos a pagar da mesma maneira», e que os «mais desprotegidos são normalmente mais afectados pelas crises».

E dando a entender que é nestes que concentra as suas preocupações, defendeu ser por isso que importa «prevenir este tipo de crises», o que não se faz, realçou, «com discursos piedosos» mas sim «com a reforma económica».

Já noutro plano, afirmou discordar que haja a «lei da selva nas leis laborais», acabando todavia por reconhecer com todo o à-vontade que o seu Governo procedeu à flexibilização da lei laboral e a transformou «num instrumento ao serviço da mobilidade laboral».

Acusando o PCP de ser o «partido mais conservador», por se opor a «a qualquer reforma constitucional» ou a mexidas na lei laboral, recorreu ainda ao velho cliché anticomunista segundo o qual «pela vontade do PCP

o País não mudava rigorosamente nada, com uma diferença: é que se alguma vez a política do PCP fosse executada Portugal não só ficava sem ricos como só ficaria com pobres».

O grande baluarte

Na réplica, vincando as divergências de fundo que separam o PCP do Governo, concretamente quanto às alterações em matéria de legislação laboral, Jerónimo de Sousa considerou que a «desvantagem» do Governo nesta matéria é que «o País tem uma Constituição da República».

Lei Fundamental, recordou, que «engloba uma constituição laboral que no momento da sua aprovação e depois de sucessivas revisões, no conflito e no confronto de interesses entre o poder económico e os trabalhadores, define estar do lado de quem trabalha».

Ora «o Governo coloca-se do lado do interesse económico, contra os trabalhadores, o seu direito ao trabalho e ao salário, o direito a ter direitos e, por isso, podemos ter esta divergência de fundo, mas a diferença é que eu identifico-me com a Constituição da República e o senhor está contra ela e os seus princípios», afirmou Jerónimo de Sousa, dirigindo-se a Passos Coelho.

Injúrias

«Parece mentira», foi, por outro lado, a expressão utilizada pelo dirigente comunista em resposta à afirmação do primeiro-ministro de que o PCP quer uma «sociedade de pobres».

Palavras que só podem ser interpretadas como uma infâmia vindas de um Governo, como este, «que é responsável pelo alargamento e pelo alastramento da pobreza em Portugal»

Não escondendo a sua indignação por tal afirmação, Jerónimo de Sousa, estabelecendo um paralelo com os tempos do fascismo – em que havia os albergues, onde punham os mendigos, obrigados a trabalhos forçados –, acusou o Governo de se «aproximar dessa realidade» quando trata como trata as pessoas que beneficiam do rendimento social de inserção, querendo impor-lhes trabalho forçado à borla, «numa demonstração de que afinal em relação à pobreza o primeiro-ministro e o Governo não estão nada preocupados».

Andar para trás

«Que sociedade justa se constrói com uma política que confisca os rendimentos do trabalho sem pudor, com o aumento do IRS em escalões mais baixos e trata dos rendimentos médios como se fossem rendimentos milionários?», inquiriu Jerónimo de Sousa a propósito dessa afirmação despudorada do primeiro-ministro de que estaria a construir os alicerces de uma «sociedade mais justa».

«Que sociedade é essa na qual se impõe a quase 500 mil trabalhadores que recebem o salário mínimo nacional o congelamento desse salário há dois anos e se recusa qualquer aumento para o futuro?», perguntou ainda o líder comunista, não vislumbrando como tal sociedade possa vir a ser construída por quem «encara a possibilidade de pedir a autorização e a benção da troika para atender a uma reivindicação tão justa como é o aumento do salário mínimo nacional».

Jerónimo de Sousa instou ainda Passos Coelho a esclarecer que raio de «sociedade de justiça» é essa quando se põe «um reformado com pouco mais de 1350 euros a pagar mais impostos que qualquer outro rendimento, nomeadamente os de capitais» ou quando se destrói e manda para a falência milhares e milhares de pequenos empresários.

«Que sociedade de justiça é essa que continua a reforçar o pólo que concentra a riqueza e espalha a miséria e a pobreza pelo outro pólo», perguntou por fim Jerónimo de Sousa, num desafio directo ao primeiro-ministro, que nada viria a dizer sobre o assunto.



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