XXII Cimeira Ibero-americana

Latino-americanos arrasam «austeridade»

Chefes de Estado e representantes de países latino-americanos presentes na XXII Cimeira Ibero-americana, realizada em Cadiz, deixaram duras críticas à política denominada como de «austeridade» que vem sendo aplicada na Europa a pretexto das dívidas soberanas.

Para o presidente equatoriano, estas políticas «aprofundam e alargam a crise, não a resolvem. Pelo contrário, intensificam-na». Inversamente, «a América Latina está a superar a larga e triste noite neoliberal do consenso de Washington», frisou.

Fazendo um paralelo com a situação que encontrou no Equador quando assumiu a presidência – a qual qualificou como a «maior confiscação de dinheiro da história do país» devido à mesma «dívida fictícia» –, Rafael Correa recordou que milhares de milhões de dólares foram igualmente dedicados a salvar a banca, empurrando o povo para a pobreza, a exclusão e o exílio.

«Há que definir quem manda: os seres humanos ou o capital», disse ainda Correa, que exemplificou o seu raciocínio com os dramáticos despejos de espanhóis incapazes de pagar as respectivas hipotecas, avolumando a contradição de existir cada vez mais «gente sem casa e casas [na posse dos bancos] sem gente».

Partilhando de uma perspectiva similar quanto ao receituário que diz ser promovido pelo Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial, a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, frisou, por seu lado, que é um erro «achar que a consolidação fiscal colectiva, simultânea e acelerada, seja benéfica e resulte numa solução eficaz».

Dilma Rousseff também salientou que as medidas adoptadas em Portugal, Espanha, Grécia ou Itália carecem em «mostrar resultados eficazes para as pessoas, horizontes de esperança e não apenas a perspectiva de mais anos de sofrimento», ao que acresce o facto de «em virtude do baixo crescimento e dos cortes na despesa pública, assistirmos ao crescimento dos défices fiscais e não à sua redução, o que, por sua vez conduz a uma contração do PIB».

Já o presidente da Bolívia, Evo Morales, no mesmo contexto, defendeu os processos de nacionalização de empresas de sectores estratégicos, notando que tal permitiu «tomar nas nossas mãos o desenvolvimento e o futuro», enquanto que o ministro dos Negócios Estrangeiros de Cuba, Bruno Parrilla, constatou que «as políticas que se aplicam na Europa não estão a lidar com as causas da crise global» e, ao invés, não só ameaçam o chamado «Estado de bem-estar europeu» como colocam em perigo a «sobrevivência do euro», destapando «os dilemas profundos da integração europeia».

Contundente, o representante de Cuba acrescentou que «os sistemas políticos que foram impostos como modelo perderam a legitimidade» e criticou o facto de «os cidadão da Europa não serem consultados nem participarem nas decisões dos governos».

Pelo contrário, em alguns países da América Latina «os governos têm hoje um compromisso mais definido e orientado a favor da justiça social, da equidade e da defesa dos interesses soberanos dos povos», garantiu o diplomata que elogiou ainda os processos e espaços de integração e cooperação constituídos no subcontinente, «a nossa obra mais preciosa e com a qual reivindicamos mais de dois séculos de lutas e esperanças».

 

Surdez selectiva e interesseira

 

Se noutra ocasião em que ex-colonizados elevaram a voz para criticar as antigas potências colonizadoras a resposta foi um insultuoso «porque não te calas» dirigido a Hugo Chávez, desta feita Juan Carlos de Bourbom engoliu os tiques de monarca do velho Continente reunido com «indígenas» e elogiou o facto de os países latino-americanos «falarem a uma só voz», isto para, em seguida, estender a mão pedinte com um elucidativo «agora é que a Europa precisa mais da América Latina».

Para além das capciosas palavras de sedução, os anfitriões foram ainda acometidos por uma conveniente surdez selectiva. O presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, disse aos jornalistas não ter ouvido críticas à «auteridade» por parte da presidente do Brasil. «Não ouvi nada isso. Não sei onde é que foi buscar isso» (!), declarou.

Na cimeira, Rajoy insistiu na prossecução da acção do seu governo e pediu à América Latina que veja «a Europa como uma oportunidade», concluindo com um desconcertante «para a Espanha, a América Latina nunca foi periférica, mas central».

O mesmo defendeu Passos Coelho, para quem as nações latino-americanas não evidenciaram na Cimeira «uma divergência quanto à necessidade de conter a dívida e o défice». O que denotaram foi uma «falta de compreensão pelo processo europeu» de resposta à crise no quadro da ausência de uma política monetária soberana, atirou, para depois sibilar tempestades e boas-venturanças aos possidentes do outro lado do Atlântico.

«Na medida em que o espaço europeu é, em termos comerciais, o mais importante do mundo, e enquanto a Europa não regressar a uma trajectória de crescimento, isso representa um custo também para as outras economias», pelo que, sustentou, é favorável a um «intercâmbio comercial mais aberto», a uma «comunidade ibero-americana cada vez mais económica», sem «barreiras», com o que «todos ficam a ganhar», considerou.



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