Inferno na Faixa de Gaza
Os bombardeamentos indiscriminados de Israel já provocaram centenas de vítimas e uma vaga de destruição na Faixa de Gaza, ameaçada por nova invasão terrestre. O Conselho Mundial da Paz acusa Israel de aproveitar a agressividade dos EUA e da NATO no Médio Oriente, e o PCP adverte para o desencadeamento de «um conflito militar de grandes proporções e de dramáticas consequências no plano regional e internacional».
O PCP acusa o imperialismo pela violência no Médio Oriente
A partir de terra, mar e ar, desde quarta-feira, 14, que não cessam os bombardeamentos contra a Faixa de Gaza. Ao sexto dia de campanha, o número de mortos palestinianos ascendia a 90 e os feridos contavam-se às centenas, com tendência para aumentarem à medida que o povo e as autoridades acorrem aos edifícios em escombros.
Nada nem ninguém é poupado ao inferno que Israel fez regressar ao martirizado território. A maioria das vítimas são civis, entre os quais inúmeras mulheres e crianças. Habitações, sobretudo, mas também edifícios do governo e das forças de segurança, uma universidade, e, até, um estádio de futebol, estão entre as centenas de alvos que Israel diz ter identificado e que promete arrasar, de acordo com a BBC.
O correspondente da Telesur informava que as expectativas populares estão reduzidas ao mínimo. A palavra de ordem é sobreviver à chuva de mísseis e obuses. No mesmo sentido, a AFP reportou que os únicos que se atrevem a sair à rua são os enlutados ou os que arriscam surtidas em busca de víveres.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou para a situação humanitária e pediu dinheiro para fornecer medicamentos e consumíveis aos hospitais, aos quais chegam «um grande número de feridos com queimaduras graves», de acordo com a Lusa.
O activista dos direitos humanos Joe Catner, disse à Russia Today ter testemunhado um cenário que indica que Israel está a usar fósforo branco, repetindo, aliás, os crimes da guerra desencadeada entre o final de 2008 e o início de 2009. O ex-ministro da Saúde palestiniano, Bassem Naim, confirmou a acusação em declarações ao mesmo canal.
Escalada forçada
Na sexta-feira, Benjamin Netanyahu colocou em estado de prontidão 75 mil reservistas, 20 mil dos quais seguiram para os limites da Faixa de Gaza, onde Israel concentra meios. Já este domingo, o primeiro-ministro israelita garantiu estar pronto para «expandir significativamente» as operações, e pouco depois um membro do seu executivo deu 36 horas ao Hamas para declarar a rendição, interromper o lançamento de foguetes contra o Sul de Israel, e permitir que as forças armadas israelitas capturem todos os que consideram como terroristas, caso contrário, avançam sem piedade. A invasão é o cenário mais provável.
O Egipto, sobretudo, mas também a Turquia e a Tunísia, procuram restabelecer o cessar-fogo que há semana e meia parecia conter o conflito. Um enviado israelita está no Cairo, mas ter-se-á deslocado sem esperanças de progresso, revelou fonte de Telavive.
Israel argumenta que o lançamento de rockets a partir da Faixa de Gaza está na base da acção militar. Os EUA, por intermédio de Barack Obama, vieram defender esta posição, legitimando o massacre em curso.
Os foguetes lançados por milicianos do Hamas, alguns dos quais sem ogivas, vitimaram, na semana passada, três israelitas. A esmagadora maioria dos projécteis tem sido interceptada pelo novo sistema de defesa móvel de Israel.
A multiplicação dos lançamentos deu-se depois de Israel ter assassinado o comandante militar do Hamas na Faixa de Gaza. O homicídio foi realizado quando o Movimento Islâmico interrompia as hostilidades.
Ahmed Jabari é descrito pelo jornal israelita Ha'aretz como o homem de Israel em Gaza, já que, adianta o periódico, foi o único capaz de unificar e controlar as várias tendências militares e brigadas do território.
Desestabilização
Reagindo aos graves acontecimentos na Faixa de Gaza e aos disparos israelitas contra os palestinianos, o PCP lembrou que os ataques são «mais um exemplo da política de terrorismo de Estado de Israel, indissociável «da tentativa de boicotar o processo de discussão e votação do estatuto da Palestina na ONU e de condicionar o resultado das eleições gerais israelitas do próximo mês de Janeiro».
Para o Partido, «os criminosos ataques de Israel a território palestino e a território sírio [realizados a semana passada] integram-se na estratégia de guerra e agressão imperialista» e pode «desencadear um conflito militar de grandes proporções e de dramáticas consequências no plano regional e internacional».
Em nota divulgada sexta-feira, 16, o PCP sublinha ainda que «a escalada de violência no Médio Oriente é o resultado da actuação das principais potências imperialistas – nomeadamente os EUA e países da UE, como a França – que, em aliança com a Arábia Saudita, o Qatar e outras monarquias ditatoriais árabes e usando o sionismo de Israel como ponta-de-lança, visa assegurar por via da guerra e da submissão de países soberanos o domínio sobre os abundantes recursos naturais e energéticos».
No mesmo sentido, o Conselho Mundial da Paz lembra que a ofensiva israelita ocorre no contexto do aumento da agressividade da NATO e dos EUA na região» e exige «o fim imediato dos ataques a Gaza», bem como «o fim das interferências políticas e militares na Síria».