Antenas dos EUA no Golfo da Guiné

Carlos Lopes Pereira

Os Es­tados Unidos da Amé­rica estão a con­so­lidar a pre­sença mi­litar no Golfo da Guiné e em toda a África, no quadro da sua es­tra­tégia im­pe­ri­a­lista de do­mínio mun­dial.

O pre­si­dente Obama vai no­mear um novo co­man­dante do Africom, o co­mando mi­litar dos EUA para África. Para su­ceder ao ge­neral Carter Ham foi es­co­lhido o ge­neral David Ro­dri­gues, um dos mais im­por­tantes mi­li­tares no ac­tivo e até agora não en­vol­vido em qual­quer es­cân­dalo.

O se­cre­tário de De­fesa Leon Pa­netta elo­giou Ro­dri­gues, afir­mando que é «um líder com provas dadas», de­sem­pe­nhou cargos de chefia no campo de ba­talha e foi um dos ar­qui­tectos da es­tra­tégia no Afe­ga­nistão. Pa­netta também teve pa­la­vras sim­pá­ticas para Ham, con­si­de­rando que deu ao Africom «um papel cen­tral numa re­gião cheia de de­sa­fios».

Não sur­pre­ende a pri­o­ri­dade que Washington atribui ao co­mando para África. A fun­ci­onar desde 2008, com o quartel-ge­neral «por en­quanto» em Es­tu­garda e com uma base em Dji­buti, o Africom é res­pon­sável pelas re­la­ções mi­li­tares dos EUA com 54 países e pelas par­ce­rias para «for­ta­lecer a sua ca­pa­ci­dade de de­fesa». Propõe-se «com­bater o ter­ro­rismo, o trá­fico de droga e a pi­ra­taria», «au­mentar a se­gu­rança ma­rí­tima» e «pre­venir os con­flitos» no con­ti­nente. Ou seja, é o braço ar­mado do Im­pério para África, já com ope­ra­ções – mais ou menos dis­cretas – na So­mália, no Uganda, Ru­anda e Congo.

Em ou­tras su­bre­giões, como o Golfo da Guiné, a in­ter­venção do Africom as­sume formas mais subtis, em pa­ra­lelo com a «co­o­pe­ração» eco­nó­mica dos EUA, a in­ter­venção do FMI e do Banco Mun­dial e a «ajuda» hu­ma­ni­tária de or­ga­ni­za­ções não-go­ver­na­men­tais, em geral li­gadas à CIA.

Por exemplo, a Re­pú­blica De­mo­crá­tica de S. Tomé e Prín­cipe, que es­pera ex­plorar em breve pe­tróleo off-shore jun­ta­mente com a Ni­géria, mantém boas re­la­ções com o Africom. O pri­meiro-mi­nistro san­to­mense, Pa­trice Tro­voada, tornou-se, em Se­tembro, o pri­meiro líder afri­cano a vi­sitar a sede do co­mando em Es­tu­garda.

A des­lo­cação serviu para ele e os di­ri­gentes do Co­mando dos EUA para África «fa­larem sobre pre­o­cu­pa­ções mú­tuas re­la­tivas a ques­tões de se­gu­rança», em par­ti­cular na zona do Golfo da Guiné.

Tro­voada as­se­gurou aos mi­li­tares dos EUA que «estão a fazer um ex­ce­lente tra­balho e que são bem-vindos em África». O ge­neral Ham, por seu turno, ga­rantiu que «S. Tomé e Prín­cipe é um par­ceiro im­por­tante que con­tribui para a se­gu­rança e a es­ta­bi­li­dade re­gi­o­nais no Golfo da Guiné».

O co­man­dante do Africom já tinha es­tado, em Maio, em S. Tomé e em ou­tras ca­pi­tais centro-afri­canas. Nessa oca­sião, Ham ma­ni­festou in­te­resse no re­forço da «par­ceria» com S. Tomé e Prín­cipe, na pers­pec­tiva de «ga­rantir a paz e a se­gu­rança no país e no Golfo da Guiné».

Antes disso, em fi­nais de 2011, uma de­le­gação do Africom, che­fiada pelo co­man­dante ad­junto, ge­neral Anthony Holmes, des­locou-se a S. Tomé, onde foi re­ce­bida pelo pre­si­dente Pinto da Costa e pelo pri­meiro-mi­nistro Pa­trice Tro­voada.

Um jor­na­lista san­to­mense, Óscar Me­deiros – co­or­de­nador da te­le­visão es­tatal e cor­res­pon­dente local da Voz da Amé­rica – no­ti­ciou então que se dis­cu­tiram «ques­tões de se­gu­rança no Golfo da Guiné» e se abordou o papel do ar­qui­pé­lago no pro­cesso. E es­cla­receu que, para os EUA, «a si­tu­ação ge­o­grá­fica de S. Tomé e Prín­cipe tem uma im­por­tância fun­da­mental na se­gu­rança do Golfo da Guiné, re­gião rica em re­cursos pe­tro­lí­feros» e rota ma­rí­tima es­tra­té­gica.

Foi ne­go­ciada na al­tura a co­o­pe­ração mi­litar bi­la­teral, in­cluindo a «mo­der­ni­zação» da guarda cos­teira san­to­mense, a for­mação de qua­dros das forças ar­madas e o re­forço da se­gu­rança no porto e no ae­ro­porto de S. Tomé.

Graças a esta «ami­zade» com os EUA, a Re­pú­blica De­mo­crá­tica de S. Tomé e Prín­cipe – cujo or­ça­mento de Es­tado para 2013, no total de 142 mi­lhões de dó­lares, de­pende em 80 por cento de «ajudas ex­ternas» – trans­formou-se num centro de vi­gi­lância do Golfo da Guiné. O Africom ins­talou no país três sis­temas de radar de tec­no­logia avan­çada que per­mitem o con­trolo de toda a mo­vi­men­tação de na­vios, tanto na zona eco­nó­mica ex­clu­siva do ar­qui­pé­lago como nas águas do golfo.

S. Tomé é hoje não só um centro de vi­gi­lância ma­rí­tima mas também de di­fusão da pro­pa­ganda norte-ame­ri­cana: na ilha foi ins­ta­lado um po­tente re­trans­missor da Rádio Voz da Amé­rica.

As luzes ver­me­lhas das grandes an­tenas es­tado-uni­denses em S. Tomé e Prín­cipe são hoje bem vi­sí­veis da ca­pital do país. Alertam para a agres­si­vi­dade do im­pe­ri­a­lismo, que pro­cura re­co­lo­nizar a África e do­minar o Mundo. E lem­bram aos povos afri­canos a ne­ces­si­dade de con­ti­nuar a lutar contra o ne­o­co­lo­ni­a­lismo…



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