Protestos na República Checa, Eslovénia e Bulgária

O repúdio da austeridade

Dezenas de milhares de pessoas manifestaram-se no sábado, 17, nas capitais da República Checa, Eslovénia e Bulgária. Por toda a parte exigiram a demissão dos governos e o fim das políticas de empobrecimento.

Povos do Leste levantam-se contra as políticas do capital

Image 11967

Na República Checa, cerca de 25 mil pessoas saíram à rua no dia em que oficialmente se comemorava o 23.º aniversário da chamada «Revolução de Veludo», que derrubou o regime socialista e restaurou o capitalismo em Novembro de 1989.

Porém, para os manifestantes que encheram o centro de Praga, bem como os milhares que desfilaram na cidade de Ostrava, na Morávia do Norte, o dia não era propriamente de festejos.

Bem pelo contrário, como deixou claro a plataforma «Stop ao Governo», que convocou o protesto conjuntamente com a confederação das uniões sindicais da Boémia-Morávia (CMKOS), o principal objectivo das mobilizações foi expressar o descontentamento contra «as medidas anti-sociais do governo no plano político, económico e outras esferas da vida».

Com esta jornada de luta, a confederação sindical pretendeu igualmente juntar-se e expressar o seu apoio ao Dia Europeu de Acção e Solidariedade, assinalado, na passada semana, dia 14, com greves gerais e outras iniciativas, em mais de duas dezenas de países.

Nos cartazes de protesto lia-se: «Não vemos qualquer luz ao fim do túnel», «Queremos um governo para o povo», «Fim à devolução do património à Igreja» ou «Stop ao governo corrupto e anti-social».

E no dia em que o presidente conservador Václav Klaus apelava à «memória» e lamentava que um comunista, pela primeira vez desde 1989, tenha sido eleito presidente de uma região (para além de outros 15 conselheiros), vários manifestantes ergueram bandeiras da União Soviética, exigindo a saída da coligação governamental de direita, dirigida por Petr Necas, e a reversão das suas reformas a favor de interesses privados.

30 mil em Liubliana

Foi igualmente contra a carestia de vida e a destruição de direitos sociais que cerca de 30 mil pessoas protestaram, no mesmo dia, na capital da Eslovénia, Liubliana.

A acção foi convocada por sindicatos, associações de estudantes e pensionistas, que repudiaram as novas medidas de austeridade, designadamente cortes salariais, facilitação dos despedimentos, e diminuição dos gastos nos serviços públicos de saúde e educação.

A Eslovénia, membro da zona euro desde 2007, tem sido duramente atingida pela crise nos países da moeda única, onde as suas exportações perderam quota de mercado.

A pretexto de equilibrar as contas públicas, o governo já cortou em três por cento os salários da função pública, a par de outras medidas que todavia não travaram, antes aceleraram, a recessão económica que deverá fixar-se em dois por cento este ano.

Apesar disso, em 2013, o executivo conservador do primeiro-ministro Janez Jansa pretende continuar a apertar o garrote à população, aplicando um corte adicional de cinco por cento nos salários dos trabalhadores do Estado, diminuindo o financiamento do ensino público e aumentando as propinas ou ainda reduzindo as pensões.

Ao mesmo tempo, preconiza o aumento da idade da reforma, a desregulamentação laboral e a diminuição dos subsídios de desemprego.

Como declarou aos manifestantes o líder da Aliança dos Sindicatos Independentes Eslovenos (ZSSS), Dusan Semolic, «exigimos que o governo rejeite o vírus neoliberal que se está a espalhar pela Europa fora. As reformas têm de ter em conta as necessidades dos cidadãos e não responder às expectativas de Bruxelas».

Indignação em Sófia

Também no passado sábado, a capital da Bulgária assistiu a um dos maiores protestos dos últimos anos contra a austeridade.

Milhares de militantes e simpatizantes do Partido Socialista da Bulgária encheram a Praça Alexander Névski para exigir a demissão do governo de centro-direita, liderado por Boíko Borisov.

Para o líder socialista, Serguei Stanichev, a situação na Bulgária resulta das políticas do partido conservador GERB (Cidadãos para o Desenvolvimento Europeu da Bulgária), que há décadas dirige os destinos do país.

A Bulgária é um dos estados-membros mais pobres da UE, onde o salário médio ronda os 360 euros e as pensões de reforma rondam em média os 136 euros. Desde o derrubamento do regime socialista, o país passou de 8,98 milhões de habitantes para 7,32 milhões em 2011.



Mais artigos de: Europa

Luta do presente

Mais de 20 mil pessoas manifestaram-se, no sábado, 17, em Atenas, para assinalar o 39.º aniversário do levantamento estudantil de 1973 contra a ditadura da junta militar.

Vaxevanis volta a tribunal

O jornalista grego, Kostas Vaxevanis, que foi julgado e absolvido há três semanas por ter publicado uma lista com os nomes de mais de dois mil detentores de contas bancárias num banco suíço, deverá ser julgado novamente, na sequência do recurso da procuradoria. Para o...

Britânicos pagam buraco da banca

Uma comissão parlamentar alertou, dia 16, que o Estado britânico poderá não recuperar os 66 mil milhões de libras (82 mil milhões de euros) injectadas, em 2008, no resgate dos bancos Royal Bank of Scotland (RBS) e Lloyds. A comissão de Finanças Públicas do...

TPI absolve general croata

O ex-general croata, Ante Gotovina, condenado em 2011 a 24 anos de prisão pelo crime de limpeza étnica contra a população sérvia, foi absolvido, dia 16, pela instância de recurso do Tribunal Penal Internacional para a antiga Jugoslávia. Há apenas um ano, os...

Irreconciliável confronto

A história da inserção de Portugal na CEE/UE é marcada pelo incontornável e permanente conflito entre a natureza e os objectivos da integração capitalista e o regime democrático-constitucional que emergiu da Revolução de Abril. Assim foi e assim...