FARC reiteram propostas

Paz e mudança têm de incluir o povo

Representantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e do governo colombiano iniciaram quinta-feira, 18, em Oslo, a segunda fase das negociações de paz. A reunião na capital da Noruega foi o arranque formal de um diálogo que prossegue em Havana, Cuba, onde se prevê que ocorram as conversações substanciais.

A guerrilha insiste na paz com justiça social

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Já no próximo dia 5 de Novembro, membros das delegações voltam a encontrar-se na capital cubana para acertar os pormenores do debate que, dez dias depois, a 15, se reinicia em torno do problema agrário, da participação política, do fim do conflito, do narcotráfico ou da situação das vítimas.

A política de terras é o primeiro ponto da agenda e é considerada pelas FARC como a questão nodal do conflito no país. Em conferência de imprensa, em Oslo, o chefe da delegação enviada pela guerrilha, Iván Márquez, qualificou-a mesmo como «a causa histórica» do levantamento armado, e reiterou que enquanto esta não for resolvida a Colômbia não responderá aos 30 milhões de pobres nem aos seis milhões de camponeses que vivem nas ruas.

«Lutamos por uma reforma agrária eficaz e transparente», pela manutenção da biodiversidade e pelo fim do domínio das multinacionais, promovido à força pelo regime, assim como pela «restituição de terras arrebatadas aos camponeses», precisou

Na ocasião, Iván Marquez reafirmou ainda a proposta das FARC de incluir no processo de paz amplos sectores da sociedade colombiana. «O povo deve ser o principal protagonista da paz», o «soberano» de «um tal empreendimento», frisou.

Igualmente central é a «transformação da estrutura do Estado», já que, acrescentou o responsável das FARC, «a paz não é a simples desmobilização» nem «o silenciamento das armas».

«Viemos até Oslo para concretizar a paz com justiça social. Não somos belicistas. Trazemos projectos de paz, mas para os alcançarmos é necessária a desmilitarização por parte do Estado, assim como profundas reformas» que tornem «a Colômbia num país onde não existam injustiças ou desigualdades políticas, económicas e sociais», disse.

Movimento crescente

Antes do arranque desta segunda fase do processo, milhares de colombianos manifestaram-se, dia 12, em Bogotá e noutras grandes cidades do país, como Cali, Medellín ou Cartagena. À iniciativa, impulsionada pelo Movimento Marcha Patriótica, aderiram 116 estruturas, as quais não descartam a convocação de uma greve geral caso o regime continue a negar a sua participação no processo, explicou Carlos Lozano, dirigente do Partido Comunista da Colômbia e director do semanário Voz.

Os comunistas colombianos estimaram em 300 mil o total de pessoas presentes nas marchas realizadas em 25 províncias. Só em Bogotá a jornada degenerou em confrontos com a polícia. Os organizadores responsabilizaram grupos de infiltrados pela violência e frisam que a esmagadora maioria dos participantes expressou pacificamente o seu apoio ao diálogo entre as FARC e o governo, reivindicou profundas mudanças económicas, sociais e políticas no país e a interrupção dos choques entre beligerantes.

Já na sexta-feira 19, em Bogotá, uma concentração de mulheres vítimas do conflito armado, promovida pelo movimento Colombianos e Colombianas pela Paz (CCP), voltou a reivindicar o alargamento das conversações e o estabelecimento imediato de um cessar-fogo no quadro do diálogo em curso.

Entretanto, respondendo a uma carta enviada pela dirigente da CCP, Piedad Córdoba, o comandante das FARC afirmou que a guerrilha concorda com a suspensão das hostilidades, com os apelos à participação popular, e valoriza os conteúdos salientados pelo movimento. «Consideramos que a discussão dos pontos que vocês colocam são um elemento de grande ajuda para o avanço na mesa das negociações», destacou Timoleón Jiménez.

O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, tem insistido que o cessar-fogo só será declarado quando estiver concluído o acordo de paz. Já esta semana, o seu ministro da defesa anunciou que manterá a ofensiva militar contra a guerrilha. Juan Carlos Pinzón aduziu que qualquer mudança na doutrina das Forças Armadas terá como objectivo aumentar o número de meios e efectivos de combate.



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