Direita venezuelana igual a si própria

Pedro Campos

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Du­rante toda a cam­panha elei­toral o can­di­dato da di­reita negou-se sis­te­ma­ti­ca­mente a de­clarar pú­blica e atem­pa­da­mente que re­co­nhe­ceria o re­sul­tado emi­tido pelo CNE, o que muito con­tri­buiu para uma pe­ri­gosa cris­pação de um lado e do outro das prin­ci­pais forças po­lí­ticas em pugna. Por essa razão, foi uma sur­presa que ti­vesse ad­mi­tido, pouco de­pois de co­nhe­cido ofi­ci­al­mente o re­sul­tado da con­sulta pre­si­den­cial, que tinha sido der­ro­tado. Re­co­nheceu a «von­tade do povo» e afirmou que os seus vo­tantes não de­ve­riam «sentir-se der­ro­tados, porque o tempo de Deus é per­feito». Re­co­nheceu a von­tade do povo, mas em ne­nhum mo­mento houve uma de­cla­ração no sen­tido de re­co­nhecer a au­to­ri­dade do ár­bitro elei­toral. Se a margem não ti­vesse sido tão clara, teria re­co­nhe­cido a «von­tade do povo»? Nunca o sa­be­remos. O que sim sa­bemos e diz muito do can­di­dato der­ro­tado é que, no dia das elei­ções, afirmou que seria o pri­meiro a ligar para Hugo Chávez in­de­pen­den­te­mente do re­sul­tado. Não foi isso o que su­cedeu. O CNE deu o re­sul­tado, ele aceitou que tinha per­dido, mas da cha­mada te­le­fó­nica nada. As boas ma­neiras dizem que é o ven­cido que liga para o ven­cedor, mas o que se passou foi o ven­cedor quem ligou para o ven­cido e ti­veram uma «con­versa amena». Por que não cum­priu Ca­priles o que tinha pro­me­tido e é da praxe? Nin­guém ex­plicou, mas talvez tenha su­ce­dido assim porque não tinha saldo no te­le­móvel...

Ca­priles re­co­nheceu a sua der­rota – e isso é de ca­va­lheiros – mas nunca perdeu o ve­neno que lhe vai no sangue. Dois dias de­pois das elei­ções al­guns dos seus par­ti­dá­rios saíram a tomar uma praça pú­blica e a cortar as ave­nidas ad­ja­centes. Ele voltou a dizer, numa con­fe­rência de im­prensa, que re­co­nhecia a der­rota, que não apoiava essas ma­ni­fes­ta­ções (ani­madas por fi­guras graúdas da ex­trema-di­reita)... mas acusou as forças cha­vistas de serem os au­tores das ma­ni­fes­ta­ções!

Não há bela sem senão...

Parem a con­tagem!

No final da tarde do dia das elei­ções o can­di­dato da di­reita tinha uma grande pressa para que ter­mi­nasse a vo­tação. Poucos mi­nutos antes das 18 horas re­cordou na sua conta twitter que as mesas de vo­tação de­ve­riam fe­char à hora acor­dada (18 horas). Mi­nutos de­pois pu­blicou um ter­ceiro post: «temos in­formes de todos os cen­tros (elei­to­rais) do país e mai­o­ri­ta­ri­a­mente não há bi­chas, ou seja, devem en­cerrar já, são 18:01». Por quê tanta pressa? É óbvio que, tendo tes­te­mu­nhas em todas as mesas, já sabia o re­sul­tado da eleição e temia que fosse au­men­tando a van­tagem a favor de Hugo Chávez. Tinha razão. No pri­meiro bo­letim elei­toral era de quase 10 pontos... agora apro­xima-se dos 12!


O ABC da cons­pi­ração


Em de­cla­ra­ções pos­te­ri­ores à sua vi­tória, o pre­si­dente bo­li­va­riano afirmou que tinha der­ro­tado a di­reita ve­ne­zu­e­lana e uma co­li­gação in­ter­na­ci­onal. To­tal­mente certo. Dois dias antes das elei­ções, Jorge Ro­drí­guez de­nun­ciou que, em cum­pli­ci­dade com a re­acção, vá­rias trans­na­ci­o­nais da co­mu­ni­cação, entre eles o ABC fran­quista, iriam anun­ciar, antes do pri­meiro re­sul­tado ofi­cial, que o ven­cedor era Ca­priles Ra­donski. Dito e feito! O pri­meiro bo­letim do CNE foi perto das 22 horas, mas às 19h20 já o ABC tinha in­for­mado que, se­gundo um «poll exit» da em­presa Va­ri­anza – a mesma que na vés­pera das elei­ções afirmou que Ca­priles ga­nharia por três pontos de di­fe­rença – con­fir­mava-se a vi­tória da opo­sição e dava os nú­meros de vá­rios es­tados para «con­firmar» o re­sul­tado! Ten­ta­tiva sem su­cesso de de­ses­ta­bi­lizar o país. Nin­guém mordeu a isca e a ver­dade é que em todos os es­tados re­fe­ridos quem ob­teve mais votos foi... Hugo Chávez!

Se al­guém pensa que a opo­sição ve­ne­zu­e­lana vai ga­nhar di­mensão moral com esta der­rota, en­gana-se. Na se­gunda-feira se­guinte à vo­tação, a di­reita, no seu de­ses­pero, fazia pouco de si pró­pria pa­ro­di­ando o seu slogan de «Há um ca­minho», acres­cen­tando-lhe «...para o ae­ro­porto!». Neste con­texto der­ro­tista correu por tudo o que é fa­ce­book, twitter e por­tais de In­ternet esta de­cla­ração do Di­os­dado Ca­bello, pre­si­dente do par­la­mento: «Se não gostam da in­se­gu­rança, saiam do país». Uma in­ven­ci­o­nice, que foi ra­pi­da­mente des­men­tida pelo vi­sado. Isso forçou o portal opo­si­ci­o­nista no­ti­ci­e­ro­di­gital a pu­blicar uma cor­recção re­pondo a ver­dade. Tal frase, ab­so­lu­ta­mente es­tú­pida, nunca tinha sido pro­nun­ciada e eles ti­nham co­me­tido – «de boa fé» – o «erro» de «não ve­ri­ficar a origem da in­for­mação»...

Mentir não custa nada... e até dá di­vi­dendos porque o des­men­tido teve uma di­vul­gação muito menor do que a men­tira.



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