Quem trabalha avança para a luta
Cerca de três milhões de operários indonésios cumpriram uma greve em defesa de direitos laborais e melhorias salariais. Na Índia e México, movimentações massivas de camponeses pobres e de trabalhadores de vários sectores mostram, igualmente, a luta de quem trabalha.
Cresce a contestação à precariedade e ao empobrecimento de quem trabalha
De acordo com a Prensa Latina, na Indonésia cerca de 700 fábricas em todo o país foram afectadas pela paralisação iniciada na quarta-feira, 3. Já a Dow Jones e a AP indicam que a jornada foi massiva em 80 parques industriais de 12 províncias, nas quais a produção foi totalmente interrompida.
Em causa está a possibilidade de os patrões contratarem trabalhadores precários, sem direitos ou acesso a qualquer tipo de protecção social em caso de doença ou desemprego, e o pagamento de salários entre os 100 euros e os 120 euros por mês.
Pelo menos 25 por cento dos 120 milhões de trabalhadores indonésios sobrevivem abaixo do limiar da pobreza, indicam dados oficiais (menos conservadores do que os apurados pelo Banco Mundial). Os preços dos bens de primeira necessidade andam, este ano, a par do crescimento económico da Indonésia, calculado em 6,5 por cento do PIB, agravando sobremaneira as condições de vida do povo.
Em Janeiro, o Tribunal Constitucional da Indonésia considerou ilegal a contratação de trabalhadores temporários por períodos superiores a um ano, mas o governo ainda não alterou a lei. Em resposta, os sindicatos convocaram a greve e mobilizaram os trabalhadores para marchas nas principais cidades industriais do país. Só em Jacarta e nos subúrbios da capital, mais de um milhão de trabalhadores manifestaram-se nas ruas, mostrando as suas reivindicações e apelando à unidade operária.
Também na quarta-feira, 3, entre 35 e 50 mil camponeses pobres iniciaram na Índia uma marcha de 350 quilómetros rumo à capital, Nova Deli. Os organizadores do protesto, citados pela Prensa Latina e pela AFP, garantem que durante o percurso muitas dezenas de milhares de pequenos agricultores se vão juntar à iniciativa, exigindo a distribuição de terras no quadro de uma política agrária que os defenda e lhes proporcione meios de sobrevivência.
O governo indiano conhece as reivindicações do campesinato, que há anos denuncia a expulsão massiva das terras e a ruína das explorações familiares de subsistência, sacrificadas ao capital financeiro – detentor de créditos draconianos sobre pequenos proprietários e rendeiros – e à multinacional da agro-indústria Monsanto, que nas últimas décadas tem esmagado as comunidades rurais através da imposição das suas sementes e fertilizantes.
Estima-se que 73 por cento da população indiana ainda subsista ligada à agricultura e à pecuária.
Em 2007, uma marcha semelhante reuniu 25 mil pessoas. Na altura, 11 pessoas morreram em confrontos com as autoridades.
Aos camponeses pobres e sem-terra deverão juntar-se os dalits, últimos na estratificação por castas, imposição secular cujo objectivo era manter o domínio dos possidentes e proceder à divisão social do trabalho, mas que ainda perdura mantendo milhões de seres humanos na mais indigna das condições.
Já no México, trabalhadores de vários sectores mobilizados pelo movimento sindical protestaram, terça-feira, 2, frente ao Congresso de deputados, contra a proposta de alteração à legislação laboral, defendida pelos partidos Revolucionário Institucional, de Acção Nacional e Verde Ecologista.
A iniciativa culminou uma série de marchas e concentrações contra a «reforma Calderón/Peña» (presidente cessante e próximo chefe de Estado, respectivamente) envolvendo dezenas de milhares de assalariados em todo o país. Os sindicatos e as forças democráticas e de esquerda representadas no parlamento acusam o projecto de desequilibrar ainda mais as relações laborais a favor do capital e de fragilizar a acção reivindicativa organizada dos trabalhadores.