Venezuela dá (outro) passo em frente!
Tal como prognosticado pela maioria das sondagens minimamente sérias, Hugo Chávez ganhou as presidenciais e estará à frente dos destinos da Venezuela até 2019. Num processo eleitoral totalmente limpo e com participação recorde, este «ditador» raivosamente criticado pela direita universal – que já permitiu 20 consultas eleitorais em 12 anos – ganhou, segundo o primeiro boletim do CNE (tendência irreversível de 90% dos votos escrutinados) com uma diferença de 10 pontos porcentuais, ou seja mais 1 292 528 votos (7 444 082 contra 6 151 554) do que o representante da direita, que acabou por reconhecer a derrota. Por certo, talvez antecipando esta derrota, nunca renunciou ao lugar de governador do estado Miranda.
É necessário, porém, acrescentar que Capriles Radonski, oligarca desde o berço, se esforçou por dar luta e que «trabalhou» durante os últimos meses mais do que nunca na vida. Por esta razão, os seus «patrões» não deveriam ter razões de queixa, mas isso é outra história. Só que para ganhar a Hugo Chávez é necessário algo mais do que esforçar-se e a verdade é que o candidato da direita não dava para mais.
Apesar de ter renegado a sua origem social, de se fingir representante do centro-esquerda, de prometer mundos e fundos e de ter feito tudo para esconder o seu programa de governo amarrado ao neoliberalismo do FMI e do grande capital, não conseguiu ludibriar a maioria dos votantes. E isso apesar de a sua candidatura ter sido apoiada por uma campanha multi-milionária de marketing político e de, contrariamente ao que se diz, ter tido – e continuar a ter – ao seu serviço a esmagadora maioria dos meios de comunicação da Venezuela e da direita global.
Alguns números esclarecedores, só para que se tenha uma ideia do que sucede a nível nacional. Diz a direita que Hugo Chávez controla a maioria dos meios de comunicação. A realidade é exactamente ao contrário. Tal como apareceu há pouco no Le Monde, dos 111 canais de televisão que se pode ver na Venezuela, 61 são privados, 37 comunitários e 13 públicos. E o que é mais importante é que, em termos de audiência, os privados superam abertamente os públicos. Se falarmos da rádio a situação é parecida. E em termos de jornais, eles estão igualmente nas mãos da direita e é bom recordar que dois dos jornais com maior circulação – El Nacional e El Universal – são tão furiosa e irracionalmente anti-bolivarianos que participaram activamente no golpe de Abril de 2002 e no desencadear da greve petrolífera do mesmo ano. Ainda ninguém respondeu pelos mortos desse golpe. Nem pelos resultados desastrosos dessa greve insurreccional – oficialmente ainda não terminou e está só «flexibilizada» – que causou à nação prejuízos na ordem de 20 mil milhões de dólares e obrigou o país a dar um salto atrás em termos de desenvolvimento económico e social, fazendo aumentar o desemprego e provocando a falência de milhares de pequenas e médias empresas.
Hugo Chávez ganhou estas eleições por uma margem confortável. E ainda bem que foi assim, porque um dos chefes da oposição – Ramos Allup – declarou há pouco que se Capriles Radonski ganhasse por um voto toda a gente acreditaria, mas se fosse Chávez a vencer por um voto ninguém acreditaria. É claro que, por detrás desta declaração golpista, se escondia a intenção de não reconhecer nem a honestidade do árbitro eleitoral nem a vontade do povo venezuelano.
A vitória do presidente bolivariano é absolutamente natural para quem se quiser dar ao trabalho de averiguar a sua razão de ser. O governo bolivariano dedica mais de 40% do orçamento ao investimento social. Acabou com o analfabetismo. Reduziu para metade a mortalidade infantil. Aumentou significativamente o número de universidades gratuitas. Multiplicou por cinco o número de professores. O total de reformados passou de pouco mais de 300 mil para mais de dois milhões. Homologou a reforma com o salário mínimo. Melhorou significativamente o nível de desenvolvimento humano. Segundo a CEPAL, organismo da ONU, é o país, junto com o Equador, que mais fez baixar a taxa de pobreza. Em resumo, já cumpriu com as metas do milénio e talvez por essa razão se saiba que, segundo sondagem da Gallup, os venezuelanos são o sexto povo «mais feliz do mundo».
Para o grande capital, o «pecado» de Hugo Chávez é estar a governar para benefício das grandes maiorias, tal como prometeu na sua campanha eleitoral de 1998.