Só a luta consequente porá fim ao desastre

João Dias Coelho (Membro da Comissão Política)

Agosto e Setembro ficam marcados por um vigoroso ascenso da luta, num processo que ali não começou, nem terminou. Importa salientar este aspecto porque a luta começou lá muito mais atrás, com a contestação ao pacto de agressão que levou muitos milhares à rua e à luta nas empresas e locais de trabalho contra o aumento da exploração, contra o encerramento de serviços públicos. A esta acresce a luta dos agricultores, dos micro, pequenos e médios empresários, dos profissionais das forças de segurança, dos militares, que em crescendo se tem verificado neste último ano e meio.

A luta não vai parar até que o pacto de agressão seja derrotado

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«Reposta» a história do processo recente da resistência e da luta, importa que se tenha em conta que é nos momentos de ascenso da luta que alguns tentam calvagar no movimento de contestação à politica de direita, às troikas e ao pacto de agressão, e às forças que as promovem e apoiam. O PS, partido da política de direita, altamente comprometido com o pacto de agressão, sempre na primeira linha do que de mais gravoso foi feito ao País e ao povo, vestiu durante dez dias a máscara de partido da oposição, com o seu secretário-geral e alguns dos seus principais dirigentes a fazerem discursos em tom resoluto – como convém –, a ameaçarem com uma moção de censura ao Governo se este não retirasse a sua intenção de alterar a Taxa Social Única. Ficámos, entretanto, sem saber se o que preocupava o PS era a indignação e a revolta dos trabalhadores ou as contraditórias posições dos representantes do grande capital.

O BE, pela boca do seu actual coordenador, tentando aproveitar-se do dia 15 de Setembro, afirmou que «era o dia zero da luta para correr com o Governo». Registe-se para memória futura que, pelos vistos, para Francisco Louçã, as lutas que os trabalhadores e amplas camadas antimonopolistas têm vindo a travar contam pouco. A UGT, subscritora do acordo de concertação social consagrante do pacto de agressão que apoiou deste o inicio, mostrou-se tão indignada que até falou em greve geral.

Estranhamente, ou não, os principais órgãos de comunicação social dominados pelos grandes interesses económicos, decidiram e mandaram publicar que a grande manifestação de descontentamento e indignação do dia 15 de Setembro fora a maior desde o 1.º Maio de 1974, esquecendo-se de acrescentar que em 1974 o povo saiu à rua para festejar a conquista da liberdade e da democracia; e que agora sai à rua para contestar contra aqueles que querem destruir a democracia e pôr em causa a nossa soberania, destruir a nossa liberdade e os nossos direitos.

O carácter perverso da comunicação chamada de social, mas de facto dominada pelos interesses dominantes, ao mesmo tempo que fazia apelos à participação do povo, dava a palavra a alguns dos principais protagonistas da política de direita (e por isso contrários aos interesses dos trabalhadores e do povo) e outros fazedores de opinião, que iam formatando e confinando, sabe-se lá porquê, os objectivos da manifestação às alterações à Taxa Social Única. Bastaram dez dias para que toda esta encenação se desmoronasse.

A luta vai continuar

Sob a batuta do Presidente da República apoiante e promotor da política de direita, o Governo prepara-se para substituir a alteração à Taxa Social Única por outras medidas com efeitos imediatos tão penalizadoras para os trabalhadores como a TSU. O PS meteu a moção de censura na gaveta; alguns dos conselheiros de Estado, dirigentes dos partidos da política de direita que antes tinham manifestado «indignação» engoliram em seco; e o que era falta de equidade ontem agora já não é.

A UGT, sempre dialogante e disponível para negociar o roubo aos trabalhadores, meteu a greve geral no congelador; os patrões, como lhes compete, abriram as portas ao novo roubo; alguns analistas de serviço dizem que «um dia o lobo mau chega mesmo», fingindo que ele não está aí; as televisões voltaram ao costume.

Que fique claro: todas as lutas contam para derrotar a política de direita e o pacto de agressão, mas do que os partidos da política de direita e do pacto de agressão e o grande patronato têm verdadeiramente medo é da luta organizada dos trabalhadores e do povo. Que se desenganem os que pensam que enchem e despejam o balão do descontentamento em função dos seus interesses políticos e partidários, porque aqueles que são atingidos pelo pacto de agressão, que vêem atingidos os seus direitos, degradadas as suas condições de vida e atacada a democracia de Abril, não vão calar o seu grito de protesto e indignação, não vão parar a sua luta até que a política de direita e o pacto de agressão sejam derrotados.

A grandiosa e combatente manifestação do passado dia 29 de Setembro, convocada pela CGTP-IN, que fez transbordar de gente o Terreiro do Paço é mais uma poderosa expressão de que a luta vai continuar e há-de pôr fim ao desastre.

 



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