Combates do presente e do futuro

Octávio Augusto (Membro da Comissão Política)

As organizações e militantes do Partido são chamados a uma nova fase do trabalho preparatório do XIX Congresso, decorrente da aprovação pelo Comité Central, no passado fim-de-semana, do Projecto de alterações ao Programa do PCP e do Projecto de Teses/Resolução Política. A aprovação destes documentos pelo Comité Central foi precedida de um intenso, demorado e descentralizado processo de debate que envolveu milhares de membros do Partido e muitas centenas de amigos e simpatizantes.

Transformar a simpatia em adesão ao Partido

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Na nova fase que agora se inicia, tal como aconteceu anteriormente, pretende-se ir o mais fundo possível no debate, no estímulo às contribuições e reflexões individuais e colectivas, num processo amplamente participado, que é característico do nosso Partido e que, também aqui, o diferencia de todos os outros.

Inserir na preparação do Congresso a afirmação do projecto de uma Democracia Avançada – os valores de Abril no futuro de Portugal como parte integrante e constitutiva da luta pelo socialismo, o prosseguimento da concretização das medidas de reforço do Partido – com destaque para o recrutamento e a integração dos novos militantes, o reforço do Partido nas empresas e locais de trabalho, a dinamização do trabalho de agitação e propaganda, a difusão da imprensa do Partido, o alargamento da base financeira e a recolha de fundos – em simultâneo com a intensificação da acção e iniciativa política do Partido e a intensificação da luta de massas, são encargos que estando interligados, exigem adequada planificação e discussão.

Todos são importantes e nenhum deles pode ser secundarizado. Trata-se de não fecharmos para Congresso, como de resto nunca fizemos, mas de respondermos em simultâneo a um conjunto de exigências, todas elas importantes.

Estamos num momento em que se tornaram ainda mais evidentes a natureza de classe da ofensiva em curso, em que os trabalhadores, os reformados e os pensionistas continuam a ser roubados nos salários, nas pensões, nos direitos e em que se tornou ainda mais evidente quem fica à margem dos sacrifícios. A luta intensificou-se e generalizou-se.

À nova fase da ofensiva os trabalhadores e o povo responderam com uma mais intensa, expressiva e generalizada contestação ao Governo e às troikas. Perante a gravidade das novas medidas apresentadas pelo Governo, muitos milhares de portugueses despertaram do conformismo e da apatia para onde foram conduzidos pela overdose ideológica das inevitabilidades e dos sacrifícios para todos.

Beneficiários do sistema, comentadores, analistas e figuras comprometidas da cabeça aos pés com o pacto de agressão – e protagonistas de sempre das políticas de direita que conduziram o País ao desastre – a uma só voz, em coro amplificado até à exaustão pela comunicação social, vieram criticar as alterações da TSU. PS e UGT surfaram na onda da contestação e do descontentamento. O PS até fez de conta que estava na oposição – mas o seu disfarce durou apenas dez dias.

Nova fase da luta de massas

Face ao expectável recuo do Governo para, de forma diferente, continuar a garantir o roubo que iria alcançar com a TSU, PS, UGT e restante equipa mudaram de cavalo e voltaram à sua posição de sempre: a de protagonistas e cúmplices com o saque e de subscritores e protagonistas do pacto de agressão!

Dos comunistas espera-se que, como têm feito muitas das vezes sozinhos, continuem no esclarecimento, na mobilização e na organização dos trabalhadores e do povo, apontando o caminho da rejeição do pacto de agressão como questão e condição central, sem a qual não será possível a ruptura que abra caminho à concretização de uma política patriótica e de esquerda. Esclarecimento e mobilização assente na afirmação das propostas alternativas e da afirmação da real possibilidade da sua concretização.

É neste quadro que se coloca a necessidade da intensificação da luta de massas.

Luta que de há muito vem sendo travada pelos trabalhadores em centenas de empresas durante os últimos meses, em defesa de direitos conquistados e da contratação colectiva, pelo pagamento de salários em atraso e contra o aproveitamento pelo patronato das alterações à legislação laboral. Luta contra as privatizações, a destruição dos serviços públicos e de funções sociais do Estado, a introdução de portagens, a intenção de liquidar freguesias e contra a destruição do poder local democrático, a lei dos despejos, a ruína da pequena e média agricultura e da restauração.

É de todas estas lutas, e da acção persistente dos comunistas, que se lançaram à terra as sementes que possibilitaram, hoje, uma nova fase, a tomada de consciência de muitas centenas de milhares de portugueses, que transformam a sua indignação e revolta em crescente disponibilidade para a luta.

Essa tomada de consciência de amplas massas afectadas pelas políticas de direita é em si mesmo um capital que deve ser potenciado e ganhar expressão nas lutas que aí vêm, na manifestação do próximo sábado e em todas as outras lutas.

Luta organizada e por objectivos concretos. Luta transformadora e consequente. Transformar a simpatia, o respeito e o reconhecimento de milhares de portugueses pelo PCP em adesão e reforço do Partido, é um desafio que se coloca hoje, para estarmos em melhores condições de travar os combates do presente e do futuro!

 



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