O nó górdio

Henrique Custódio

O Governo Passista foi literalmente despejado pelas largas centenas de milhares de manifestantes que inundaram de protestos a terra pátria.

Como se esperava, quase toda a gente que manda, ou quer, ou julga mandar, afunilou-se num ponto: o da famosa TSU (Taxa Social Única). E os protagonistas subiram em tropel ao palco, talvez na inocência de que, batendo os pés, fariam soar uma carga de cavalaria em galope vitorioso.

O primeiro trote em palco deu-o o Conselho de Estado convocado pelo Presidente da República que, após sete horas a reunir, produziu a grandiosa notícia da «disponibilidade» do Governo para «estudar alternativas à alteração» da TSU. Para marcar presença, Cavaco limitou-se a cavalgar a boleia do Conselho de Estado.

Outros sapateados se seguiram, céleres, a bisbilhar em palco: a UGT congratulou-se com «o recuo do Governo» na TSU, o patronato aplaudiu a supressão da «subida da TSU para os trabalhadores» e afiou o dente à sua «descida controlada» para os empresários e o secretário-geral do PS prometeu que o seu partido «já não iria apresentar uma moção de censura», dado o «recuo na TSU».

Como se vê, os sectários da troika já esboçam, judiciosamente, uma saída para o imbróglio em que o País os colocou: primeiro, concordam todos com o «abandono das alterações à TSU», depois coreografam «duras negociações» em «sede de concertação social» – onde o Governo espera que arranjem «receita alternativa» à TSU – e, finalmente, engendrarão uma fórmula onde essa «receita alternativa» corresponderá a um «amplo consenso social».

Um consenso que terá a «representatividade» do Governo, do patronato e da UGT que, mais uma vez, trairá o número residual dos trabalhadores que representa.

De fora, pois claro, fica a CGTP-IN, que representa a esmagadora maioria dos trabalhadores sindicalizados, por esta, obviamente, nunca ceder na depredação dos direitos dos seus associados.

Entretanto, o Governo e seus aliados de submissão à troika (PS e UGT incluídos) fingem não ver o óbvio: que os trabalhadores e o povo, ao saírem tão esmagadoramente à rua, não protestam apenas contra as «mexidas da TSU», mas também contra os novos cortes em salários e subsídios e, sobretudo, contra esta política de crescente degradação sócio-económica.

Estando comprovado que esta submissão às austeridades da troika conduz, inexoravelmente, à miséria nacional – e essa comprovação foi assinada e selada nas ruas, no passado dia 15, como seguramente voltará a acontecer no próximo sábado, 29 – vai sendo tempo de chamar os bois pelo nome.

E o nome é o capitalismo, em mais uma cíclica e profunda crise – agora agravada com a abissal irracionalidade de a especulação financeira global movimentar 1500 biliões de dólares, quando o PIB mundial se situa entre os 60-65 biliões (falamos de milhões de milhões!)...

Sejamos claros: pôr termo a esta verdadeira loucura só é possível mediante o derrubamento do capitalismo e a instauração do socialismo.

Entretanto exija-se, para já, o desatar do nó górdio das imposições da troika como Alexandre o fez: puxando da espada e cortando-o.



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