Precipício da crise
A Fiat anunciou a suspensão do plano de investimentos de 20 mil milhões de euros até 2014. Para manter as fábricas em Itália, exige que o governo apoie as exportações.
Mais de 20 mil empregos directos ameaçados
O presidente-executivo da Fiat, Sergio Marchionne, que também dirige a marca americana Chrysler, deixou claro, no sábado, 22, que não vai lançar dinheiro à rua e, notando que «as pessoas não têm dinheiro para comprar carros», declarou que a aposta do grupo está fora da Europa.
Após ter divulgado, dia 13, o abandono do plano de modernização das fábricas em Itália, que tinha como objectivo produzir 1,4 milhões de veículos até 2014, Marchionne foi chamado a reunir-se com o primeiro-ministro italiano, Mario Monti, a quem terá manifestado a intenção de «salvaguardar a presença industrial do grupo» no país, desde que pudesse reorientar a produção para a exportação.
Por sua parte, Monti negou que o grupo tivesse pedido ajuda financeira, acrescentando que se o tivesse feito esta seria recusada. Porém, o chefe do governo comprometeu-se a encontrar uma solução para viabilizar a construção de automóveis em Itália com destino à exportação.
Com negócios em vista na Sérvia e no Brasil, onde tem garantidos apoios estatais, o patrão da Fiat insiste que «o mercado de automóveis da Europa é um desastre. Afundou-se num precipício e não parece ainda ter atingido o fundo».
Com efeito, a venda de veículos novos em Itália caiu para níveis de meados da década de 1970, com uma quebra de 1,7 milhões de veículos em relação a 2011. A tendência é a mesma no conjunto da União Europeia, onde as vendas estão em queda pelo quinto ano consecutivo.
Mas se para Marchionne tudo não passa de uma questão de cifrões, já para o povo italiano o eventual encerramento das unidades da Fiat significaria uma hecatombe económica e social, pois o grupo é o maior empregador privado do país. Para além dos mais de 20 mil empregos directos, estariam em causa muitas dezenas de milhares de postos em empresas fornecedoras.
Por isso, Marchionne pressiona o governo fazendo saber que a Fiat está em vias de construir uma fábrica no Brasil que custará 2,3 mil milhões de euros, dos quais 85 por cento serão financiados pelo governo brasileiro.
O futuro das fábricas na Itália permanece assim incerto, preocupando sindicatos e trabalhadores que reclamam a intervenção do governo.