Números

Os números aí estão: os centros de saúde registaram menos meio milhão de consultas nos primeiros cinco meses do ano, o que constitui uma catástrofe social.

Os pormenores são arrasadores: nos primeiros cinco meses deste ano, face a igual período de 2011, houve menos 238 mil urgências nos hospitais públicos, menos 400 mil idas aos serviços de atendimento permanente (SAP) e menos 562 mil consultas presenciais nos centros de saúde.

As razões são diversas e nunca assumidas pelo Governo: grande parte destes doentes é idosa e todos sofrem da mesma «doença» – a falta de dinheiro para pagar a miríade de alcavalas diligenciadas por este Ministério no acesso à Saúde, sejam taxas moderadoras ou medicamentos mais caros, falta de transportes por supressão do apoio aos serviços de ambulância ou encerramento dos centros de saúde de proximidade, desactivando-os sem cuidar das ligações indispensáveis a outros «optimizados»... e longínquos.

À prosápia do ministro Paulo Macedo, que insiste em dizer que os seus cortes generalizados são para «optimizar» o Serviço Nacional de Saúde, responde a frieza destes números. Para não falar de muitos outros, como o dos doentes oncológicos sem tratamentos, os coronários sem medicamentos vitais, as urgências entupidas por encerramentos de outras e etc.

Um dia surgirão os números estatísticos do aumento de mortes provocado por esta redução brutal de meio milhão de consultas (e as mais que se seguirão), mas, nessa altura, os responsáveis por estas medidas assassinas assobiarão para o lado como de costume, enquanto poder algum se atreverá a julgá-los.

Mas outros números vão chegando às primeiras páginas, como o dos mil portugueses que estão a emigrar todos os meses para trabalhar na Suíça, perfazendo em 2011 o número de 224 171, contra os 174 mil registados em 2006, o que significa um crescimento de 50 mil em apenas seis anos.

Isto sem falar da constante – e não contabilizada – hemorragia de quadros recém-licenciados e altamente qualificados, como médicos, enfermeiros, engenheiros ou arquitectos, que saem do País em busca de trabalho e remunerações que Portugal não lhes dá.

Mais números, entretanto, nos vão assolando, como o das fortunas dos mais ricos de Portugal somarem qualquer coisa como 14 mil e 400 milhões de euros, o que corresponde a 8,5% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.

Para olhar mais em pormenor esta obscenidade, anote-se que Alexandre Soares dos Santos – o chefe da Jerónimo Martins que este ano desalojou o corticeiro Amorim do 1.º lugar dos «mais ricos» – tinha, em 2004, «apenas» 330 milhões de euros, enquanto o ano passado já exibia 2070 milhões. Ou seja: em apenas sete anos, este homem mais que sextuplicou a sua fortuna – que, entretanto, pôs há uns meses atrás «ao abrigo» do fisco nacional, para pagar ainda menos impostos pela fortuna colossal que está a arrecadar despudoradamente no nosso País.

Mas o «número» principal é Passos Coelho, cujo atabalhoado Governo já escarolou, perante a pátria, uma incompetência e um reaccionarismo primordiais.



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