Espanhóis lutam contra a ruína e o empobrecimento

O clamor da revolta

Manifestações gigantes tomaram as ruas de 80 cidades espanholas, dia 19, em protesto com os cortes sociais anunciados pelo governo conservador de Mariano Rajoy

O protesto uniu as centrais sindicais e dezenas de organizações

Image 10981

Depois de uma semana de protestos consecutivos, muitos dos quais de cariz espontâneo, milhões de espanhóis saíram às ruas, no final da tarde de quinta-feira da semana passada, para dizer «Não» ao novo pacote de austeridade que atinge trabalhadores no activo e desempregados, com reduções de salários e subsídios, aumento de impostos, em particular do IVA, e mais restrições no acesso a serviços públicos essenciais.

Na capital, a manifestação juntou cerca de 800 mil pessoas segundo os sindicatos convocantes. Foi um dos maiores protestos dos últimos tempos em Madrid e aquele que mais sectores profissionais juntou: docentes do ensino público ombreavam como bombeiros em uniforme ou com polícias à paisana. A todos o governo quer retirar o subsídio de Natal, depois de anos consecutivos de esmagamento do poder de compra.

Os dísticos contra a reforma laboral assinalavam a forte presença de trabalhadores de vários ramos do sector privado, onde o desemprego grassa, afectando um quarto da população activa.

Ampla foi também a plataforma de organizações que promoveu o protesto. Para além das duas maiores centrais, UGT e CC.OO., por toda a Espanha viram-se bandeiras da CSI-F (Confederação Independente e de Funcionários), da USO (União Sindical Operária), da CGT (Confederação Geral do Trabalho), da Confederação de Organizações da Agricultura e Pecuária (COAG), do Conselho Geral de Juventude, da Plataforma Social em Defesa do Estado de Bem-Estar e dos Serviços Públicos, da Associação Unificada de Guardas Civis (AUGC), da Associação Unificada de Militares Espanhóis (AUME) ou ainda do Sindicato Unificado de Polícia (SUP).

O movimento 15M e variadíssimas outras estruturas reforçaram o carácter unitário da manifestação, que decorreu sob o lema «Querem arruinar o país. É preciso impedi-lo, somos mais».

Na cabeça do desfile estavam os líderes da CC.OO. (Comisiones Obreras), Ignacio Fernández Toxo, e da UGT (União Geral dos Trabalhadores), Cândido Méndez. Ambos defenderam a necessidade de uma mudança de políticas, condenaram o «retrocesso brutal nas condições de vida» dos cidadãos e defenderam a realização de um referendo, sublinhando que as medidas anunciadas representam uma «fraude democrática», uma vez que não constavam do programa eleitoral do Partido Popular, no poder.

Solidarizando-se com o grandioso protesto, a CGTP-IN enviou às CC.OO. e à UGT uma mensagem de apoio, na qual se salienta que o plano de cortes apresentado pelo governo espanhol «constitui uma grave agressão aos direitos dos trabalhadores, e muito especialmente aos funcionários públicos e aos desempregados». «As medidas governamentais terão desastrosas consequências no plano laboral, social, económico e político», assinala ainda a central portuguesa, lembrando os efeitos nefastos de políticas similares no nosso país, na Grécia ou na Irlanda.

Um protesto nacional

Em Barcelona, mais de 400 mil pessoas integraram-se na manifestação que terminou junto à delegação do governo central, na praça de Pla de Palau. O desfile foi encabeçado por uma faixa com a inscrição «Não nos calamos. Defende os teus direitos».

No País Basco, 25 mil pessoas desfilaram em Bilbau sob o lema «Querem arruinar o país. É preciso impedi-lo. Rebela-te, mobiliza-te. Não aos cortes. O teu futuro está em perigo».

Muitos manifestantes gritaram palavras de ordem exigindo a convocação de uma greve geral. O apelo foi ouvido pelas centrais sindicais bascas que, logo no dia seguinte, anunciaram uma paralisação geral na região para 26 de Setembro. A jornada é apoiada por mais de meia centena de organizações e colectivos sociais, onde se incluiu a generalidade dos sindicatos (ELA, LAB, ESK, STEE-EILAS, EHNE, Hiru, CGT-LKN e CNT). Houve ainda manifestações em mais três cidades bascas.

Na Galiza, mais de 70 mil manifestantes marcharam na cidade de Corunha até à delegação do governo central. Também aqui se ouviram apelos à greve geral e consignas como: «Resgatam os banqueiros, despedem os operários», «Governo, demissão». Ao passarem pela sede do PP, gritaram: «Mão ao alto, isto é um assalto».

Ao Sul, em Sevilha, cerca de 100 mil pessoas manifestaram-se «Pelos direitos sociais da cidadania. Compromisso para o progresso». E gritaram palavras de ordem contra o governo e a classe que os oprime: «O próximo desempregado que seja deputado».

Marcha do desemprego

No sábado, 21, milhares de desempregados chegaram a Madrid para se manifestarem contras as políticas do governo e exigirem o direito ao trabalho. Provenientes de regiões como as Astúrias, Aragão, Catalunha, Andaluzia ou Valência, os manifestantes, na sua maioria jovens, concentraram-se perto do Museu do Prado e desfilaram até à Porta do Sol.

Na acção, que teve o apoio da central sindical Confederação Nacional do Trabalho (CNT) e do movimento 15 M, participaram dois desempregados que cumprem há 25 dias uma greve de fome frente ao Congresso dos Deputados.

O desemprego em Espanha atinge já perto de seis milhões de pessoas e a tendência, segundo previsões do próprio governo, é para se agravar, acompanhando o aprofundamento da recessão económica.



Mais artigos de: Europa

Direito a produzir

Os deputados do PCP no Parlamento Europeu apresentaram um conjunto de 167 propostas de alteração ao projecto de reforma da Política Agrícola Comum (PAC), que representa uma alternativa clara ao caminho preconizado pela Comissão Europeia.

Greves perturbam Jogos Olímpicos

Os Jogos Olímpicos de Londres, que se iniciam amanhã, sexta-feira, podem ser afectados por greves já anunciadas para o período do evento desportivo que decorrerá até 20 de Agosto na capital britânica. Hoje, quinta-feira, o pessoal das alfândegas iniciou uma greve...

França taxa grandes fortunas

Os deputados franceses aprovaram na generalidade, na madrugada de dia 20, um orçamento rectificativo que prevê um aumento de impostos de 7,2 mil milhões de euros e o corte na despesa de 1,5 mil milhões de euros. Entre as medidas mais emblemáticas está a revogação do...

«Direitos iguais»?

Com esta designação – «direitos iguais» – podemos encontrar um vídeo que circula pela Internet, resultado de um concurso público promovido por uma tal rede europeia que se intitula «Indoors». Ao som de uma música leve,...