Marcha épica une protestos

«A tua luta é a nossa luta»

Cerca de 300 mineiros de várias regiões de Espanha foram calorosamente recebidos por milhares de madrilenos à sua chegada à capital espanhola. Já na madrugada de dia 11, uma multidão encheu por completo a emblemática praça Porta do Sol.

Madrilenos recebem mineiros em apoteose

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Com fatos-macacos azuis, capacetes amarelos com as respectivas lanternas acesas, os mineiros concentraram-se na cidade universitária, daí partindo acompanhados por milhares de pessoas, que envergavam camisolas com diversas inscrições de protesto.

Passaram perto do Palácio da Moncloa (sede do governo), onde foram lançados foguetes e uma banda arrancou com «Santa Bárbara Bendita», o hino mineiro. Já na Porta do Sol, desfilando entre um mar de gente, ouviram-se diversas palavras de ordem, cartazes evocavam as razões do protesto dos mineiros, em greve desde finais de Maio, e davam as boas-vindas aos caminhantes: «Bem-vindos a Madrid, pelo futuro do carvão». E foram gritadas muitas consignas com punhos no ar: «Se não há solução, haverá revolução», «Mineiro, escuta: a tua luta é a nossa luta», «Que viva a luta da classe operária».

O protesto dos mineiros tornou-se símbolo de uma luta que a maioria dos trabalhadores sente como sua. De resto, o novo pacote de austeridade, que seria anunciado poucas horas mais tarde, no Congresso de Deputados, pelo presidente do governo, Mariano Rajoy, não tardou a produzir manifestações espontâneas junto do parlamento e das sedes do Partido Popular e do PSOE por todo o país.

Repressão sangrenta

Pelas 11 horas da manhã seguinte, uma grandiosa manifestação partiu da Praça Colón. Na cabeça do desfile seguiam os mineiros, precedidos dos líderes das duas maiores centrais espanholas, Ignacio Toxo (CCOO) e Cándido Méndez (UGT).

Juntaram-se também à manifestação os alcaides de várias zonas mineiras, bem como milhares de familiares e pessoas que chegaram de diferentes pontos de Espanha em 500 autocarros.

Os mineiros pretendiam acampar frente ao Ministério da Indústria, mas a acção foi proibida pelas autoridades e um desmesurado contingente policial aplicou com brutalidade a interdição. Os destacamentos de choque dispararam balas de borracha e carregaram sobre os manifestantes. Testemunhas oculares garantiram que a polícia atacou sem qualquer motivo.

Os confrontos prosseguiram noite dentro com grupos de jovens, entre os quais não faltaram agentes provocadores, incendiando contentores. A jornada saldou-se por 70 feridos e 17 pessoas detidas.

Gasolina na fogueira

O anúncio de novas medidas de austeridade, que atingem com particular gravidade os funcionários púbicos, desencadeou de imediato uma série de protestos espontâneos, que se têm repetido diariamente.

Logo no dia 12, cerca de 400 funcionários públicos concentraram-se frente ao parlamento espanhol, repudiando os cortes anunciados na véspera. Polícias e bombeiros com o seu equipamento de trabalho, professores, desempregados e trabalhadores de vários organismos estatais ergueram cartazes onde se lia «Temos família», «Que o próximo desempregado seja um deputado». Os manifestantes também ocuparam parte das ruas circundantes e a polícia foi forçada a interromper o trânsito durante meia hora.

No dia seguinte, milhares de funcionários corresponderam ao apelo das centrais CCOO, UGT e CSI-F (Central Sindical Independente e de Funcionários), concentrando-se em todo o país frente aos edifícios públicos onde laboram. Simbólico foi o protesto de meia centena de funcionários do Palácio da Moncloa, que abandonaram os postos de trabalho para um protesto junto às portas do edifício, no momento em que estava reunido o Conselho de Ministros para aprovar o pacote de austeridade. No final da manhã, a Porta do Sol voltou a encher-se de funcionários públicos que repudiaram o corte do subsídio de Natal e a redução dos dias de folga.

No domingo, 15, milhares de funcionários voltaram a desfilar pelas ruas da capital até ao Congresso dos deputados.

Na segunda-feira, 16, centenas de manifestantes, na maioria funcionários públicos, cortaram várias ruas do centro de Madrid. No final da manhã, várias manifestações convergiram, nas ruas Gran Via e Alcalá, integradas por polícias, bombeiros, professores, funcionários administrativos e do sector de saúde.

Para hoje, quinta-feira, 19, está marcada mais uma grande acção de indignação e protesto contra o plano do governo, que é qualificado como a sentença de «morte dos serviços públicos».

Medidas que revoltam

O pacote de austeridade que o governo espanhol pretende impor ao povo compreende, entre outras medidas, o aumento do IVA de 18 para 20, bem como da taxa reduzida de oito para 10 por cento. Sobem também impostos sobre o tabaco e desaparecem os benefícios fiscais relativos aos encargos com empréstimos à habitação.

Os funcionários públicos perdem o subsídio de Natal, bem como dias de folga, e ficam sujeitos a novas condições agravadas de mobilidade. Ao mesmo tempo, é reduzido em 30 por cento o número de eleitos locais, prevendo-se uma revisão das competências dos respectivos órgãos, bem como a extinção de empresas públicas.

A partir do sexto mês, o subsídio de desemprego é reduzido para 50 por cento e o direito ao rendimento mínimo de inserção limitado a quem tenha trabalhado.

Em contrapartida, as empresas beneficiam de uma redução de um ponto percentual nas contribuições sociais já este ano, prevendo-se igual redução em 2013.

Desde 2009, os governos espanhóis (socialista e agora conservador) já tomaram medidas orçamentais que ascendem a 120 mil milhões de euros. Todos os serviços públicos sofreram cortes de dezenas de milhares de euros e só os aumentos de impostos elevaram-se neste período, em média, a dois mil euros ano por família.



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