Protestos

Henrique Custódio

Um coro de pro­testos ecoa na so­ci­e­dade por­tu­guesa, contra a de­vas­tação em curso de­sen­ca­deada pelo Go­verno Pas­sista. Não há co­men­ta­dores na Im­prensa es­crita, na rádio ou na te­le­visão que não ma­lhem [fi­nal­mente...] no lombo do Exe­cu­tivo, in­vec­ti­vando mi­nis­tros, cas­cando nos dis­cursos de Passos ou, mais de­ta­lha­da­mente, de­nun­ci­ando com cres­cente pre­o­cu­pação o de­sastre socio-eco­nó­mico em que o País está mer­gu­lhado.

A «mu­dança de pa­ra­digma» no re­gime de­mo­crá­tico que Passos Co­elho pro­meteu na to­mada de posse - sa­li­vando, si­lente, por um lugar fu­turo entre os mai­ores da Pá­tria – trans­formou-se num alu­ci­nante montão de es­com­bros socio-eco­nó­micos, can­di­da­tando Passos a um lugar na his­tória... mas a dos ig­nó­beis de­sas­tres na­ci­o­nais.

As crí­ticas, que já acusam Passos Co­elho de «mentir» ao País, de­sen­volvem ar­gu­men­ta­ções que, há uns meses atrás, le­vavam muitos dos seus ac­tuais au­tores a se per­sig­narem como pe­rante o Demo.

É o caso de che­garem à con­clusão de que esta «re­ceita» de es­mi­frar os tra­ba­lha­dores con­ti­nuada e ge­ne­ra­li­za­da­mente só agrava o de­sastre so­cial em curso, ou que o au­mento con­tínuo do de­sem­prego e dos im­postos está a levar o País à ruína já com­pro­va­da­mente ine­xo­rável ou, ainda, que urge «re­ne­go­ciar a dí­vida» (aqui, os mais re­ve­rentes aos «com­pro­missos com a troika» – como o se­cre­tário-geral do PS, An­tónio José Se­guro – rei­vin­dicam apenas «mais um ano, à se­me­lhança da Es­panha», no pa­ga­mento da tal dí­vida).

Isto quando a UE es­bra­ceja de aflição, com a Itália e a Es­panha a im­porem que o BCE fi­nancie di­rec­ta­mente as bancas na­ci­o­nais e não en­di­vide mais os res­pec­tivos Es­tados, der­ro­tando pela pri­meira vez os di­tames da Ale­manha da sra. Merkel, o que de­veria levar Por­tugal a uma busca ime­diata de ali­ança com os seus par­ceiros «pe­ri­fé­ricos» (Grécia, Ir­landa, Es­panha e Itália), para unir forças e rei­vin­di­ca­ções.

Mas isso é im­pos­sível com um pri­meiro-mi­nistro e um Go­verno que são os únicos, na UE, a aplaudir – e fer­vo­ro­sa­mente - os di­tames da sra, Merkel, essa mu­lher fatal.

Mas o que es­bra­seou as crí­ticas dos gurus da praça foi o anúncio de vá­rios des­ca­la­bros: o al­me­jado dé­fice de 4,5% anda pelo dobro neste 1.º tri­mestre, o de­sem­prego sobe muito acima de um mi­lhão de de­sem­pre­gados, isto num País com cinco e tal mi­lhões de po­pu­lação ac­tiva, os sa­lá­rios so­freram uma queda his­tó­rica de 3,9% no 1.º tri­mestre, cor­res­pon­demdo a uma perda de 800 mi­lhões de euros em sa­lá­rios dos tra­ba­lha­dores.

Su­bi­ta­mente exal­tados - e es­que­cidos de que, apenas há meia dúzia de meses, ga­ran­tiam a pés juntos que a aus­te­ri­dade de Passos «era a única saída» -, os mi­mosos co­men­ta­dores ex­traem agora uma con­clusão: a de que este Go­verno tem men­tido ao ga­rantir que «os sa­cri­fí­cios im­postos aos por­tu­gueses» iam baixar o dé­fice.

Tal alas­tra­mento de crí­ticas bem-pen­santes mostra como a in­dig­nação e a re­volta contra esta po­lí­tica já to­maram conta do País.

São esses pro­testos, mas dos tra­ba­lha­dores, que, saindo cres­cen­te­mente à rua, irão impor a grande crí­tica - a que des­pe­jará esta po­lí­tica cripto-fas­cista.



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