Uma impressionante operação de chantagem e diversão

Albano Nunes (Membro do Secretariado)

Em vés­peras das elei­ções na Grécia a lei­tura da im­prensa na­ci­onal e in­ter­na­ci­onal re­sulta im­pres­si­o­nante. Por um lado a ex­cep­ci­onal di­mensão das pres­sões e chan­ta­gens sobre o povo grego, sem dis­farce, des­ca­radas e ame­a­ça­doras: ou o povo grego se sub­mete às de­ci­sões da troika ou des­cerá aos in­fernos. Por outro lado a ins­tru­men­ta­li­zação das elei­ções gregas para uma grande ope­ração de di­versão ide­o­ló­gica di­ri­gida aos res­tantes países da zona euro e da União Eu­ro­peia, a co­meçar por aqueles que, como Por­tugal, Ir­landa e mesmo Es­panha, estão su­jeitos aos me­ca­nismos de ex­torsão im­postos pelo FMI, UE e BCE, mas co­lo­cando já na mira do grande ca­pital fi­nan­ceiro e es­pe­cu­la­tivo Itália, França, Bél­gica e ou­tros.

A in­te­gração eu­ro­peia é uma fa­ta­li­dade

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A dra­ma­ti­zação em torno das elei­ções gregas é tal que os des­tinos do mundo pa­recem sus­pensos dos seus re­sul­tados. Um go­verno que ques­ti­o­nasse e não se sub­me­tesse às po­lí­ticas do­mi­nantes, poria em pe­rigo o sis­tema ban­cário e fi­nan­ceiro in­ter­na­ci­onal, o euro, a UE, toda a eco­nomia mun­dial. O que é tanto mais grave quando es­ta­riam em curso pro­mis­sores es­forços para tentar uma au­tên­tica «qua­dra­tura do cír­culo», ou seja, para com­binar as rui­nosas po­lí­ticas de aus­te­ri­dade tão caras a Berlim (que aliás nin­guém se propõe aban­donar) com sal­va­doras po­lí­ticas de «cres­ci­mento e em­prego».

Como sempre tem acon­te­cido no já longo e aci­den­tado pro­cesso de in­te­gração ca­pi­ta­lista eu­ropeu, não é fácil des­trinçar, nestas cam­pa­nhas alar­mistas, o que re­flecte o real ner­vo­sismo e in­qui­e­tação das classes do­mi­nantes pe­rante o cres­ci­mento da con­tes­tação po­pular e a quebra da sua base so­cial e po­lí­tica de apoio e o que é ma­nobra pro­pa­gan­dís­tica e de con­di­ci­o­na­mento psi­co­ló­gico, vi­sando novos saltos para di­ante no ca­rácter fe­de­ra­lista desta UE im­pe­ri­a­lista.

Mas é evi­dente que com o es­pan­talho do caos se pro­cura amor­tecer a re­sis­tência a novas im­po­si­ções su­pra­na­ci­o­nais, res­tri­ções à de­mo­cracia e es­bu­lhos de so­be­rania, apro­fun­dando a tu­tela que o Tra­tado Or­ça­mental re­pre­senta para países como Por­tugal. A atestá-lo aí está de novo pela boca da chan­celer alemã a te­oria da Eu­ropa a vá­rias ve­lo­ci­dades e o pro­jecto de uma «união po­lí­tica» di­ri­gida por um di­rec­tório de po­tên­cias, pro­jecto que fora der­ro­tado aquando da Cons­ti­tuição Eu­ro­peia.

 

Crise sem fim à vista

 

Ve­remos o que sairá do Con­selho Eu­ropeu de 28 e 29 de Junho. Em qual­quer caso é ne­ces­sário ter pre­sente o pano de fundo de tudo isto: o apro­fun­da­mento da crise es­tru­tural do ca­pi­ta­lismo e, dentro dela, a crise cí­clica de sobre-pro­dução e sobre-acu­mu­lação que há mais de quatro anos as­sola o mundo e que tem ser­vido de pre­texto à vi­o­lenta ofen­siva de des­truição de con­quistas e di­reitos al­can­çados por dé­cadas de duras lutas e impor uma re­gressão so­cial de di­mensão ci­vi­li­za­ci­onal. Ora a crise está sem fim à vista. A si­tu­ação é de es­tag­nação e re­cessão nos prin­ci­pais países ca­pi­ta­listas e a ten­dência é para o agra­va­mento do de­sem­prego e de ou­tras chagas do ca­pi­ta­lismo. Pior ainda. Num quadro de grande ins­ta­bi­li­dade e in­cer­teza, sáo cada vez mais os es­pe­ci­a­listas que con­si­deram es­tarem cri­adas as con­di­ções para novos crash ainda mais des­trui­dores, par­ti­cu­lar­mente nos EUA.

A zona euro está a ser apon­tada, es­pe­ci­al­mente pelos EUA e pelas ins­ti­tui­ções in­ter­na­ci­o­nais que do­mina, como o epi­centro de todos os pe­rigos. Não será tanto assim. Mas seja como for uma coisa é evi­dente: o pa­raíso que os seus arautos pro­me­teram com a UE é um fi­asco brutal e todo o edi­fício está em crise. A in­te­gração ca­pi­ta­lista eu­ro­peia não é uma fa­ta­li­dade mas uma de­cisão po­lí­tica do grande ca­pital e a UE é uma cons­trução ar­ti­fi­cial que se de­sen­volve, não no sen­tido da eman­ci­pação so­cial e na­ci­onal, mas da im­po­sição de uma di­ta­dura aberta e di­recta do grande ca­pital mo­no­po­lista e das grandes po­tên­cias.

É uma cons­trução ao ar­repio das ten­dên­cias do de­sen­vol­vi­mento his­tó­rico e está por isso con­de­nada ao fra­casso. Mas como todo o sis­tema de poder bur­guês, uma cons­trução que não de­sa­pa­re­cerá por si, mas pela luta dos tra­ba­lha­dores e dos povos de cada país e pela sua con­ver­gente acção in­ter­na­ci­o­na­lista.

É por aqui que vai o PCP, com a sua luta quo­ti­diana nas em­presas e na rua, a sua par­ti­ci­pação e apoio às grandes ma­ni­fes­ta­ções po­pu­lares como a da CGTP-IN do pas­sado sá­bado, com a con­ju­gação da in­ter­venção ins­ti­tu­ci­onal e da luta de massas de que a apre­sen­tação da moção de cen­sura é im­por­tante ex­pressão, com o re­forço do Par­tido e a pre­pa­ração em­pe­nhada do XIX Con­gresso. E com a sua ac­tiva so­li­da­ri­e­dade com a luta dos co­mu­nistas e dos tra­ba­lha­dores de todo o mundo e da Grécia em par­ti­cular.



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